Conteúdo original extraído do Blog da Realized Worth, consultoria global em Voluntariado Empresarial. Traduzido e adaptado pelo V2V.
Com diferentes prioridades competindo, como motivar seus voluntários a manterem o voluntariado no topo de sua lista… de novo e de novo? Fazer com que seus voluntários simplesmente “apareçam” não é uma tarefa fácil. Alguns podem até argumentar que esse é o maior desafio em Programas de Voluntariado Corporativos. Ao invés de começar com a pergunta “o que é do interesse da empresa?”, os gestores de voluntariado devem responder à pergunta que todos os colaboradores fazem a si: “o que há nisso para mim?”.
Os dois tipos de motivação
Já falamos aqui num post recente sobre a “jornada do voluntariado” em que os colaboradores se encontram em diferentes níveis. Os turistas, ou estágio 1, começam sua jornada no voluntariado por conta da curiosidade casual. Eles não estão – ainda – intrinsicamente alinhados ao voluntariado ou a uma causa específica, como os viajantes (estágio 2) e os guias (estágio 3).
A motivação extrínseca existe quando os indivíduos são motivados para se comportar de uma forma que leve a alguma recompensa. Um pagamento em dinheiro, por exemplo, é uma recompensa. Turistas participam de um evento voluntário porque são motivados por fatores extrínsecos, como por exemplo, ter sido convidado por um colega ou pelo próprio chefe. Criando oportunidades contínuas para os turistas no voluntariado, nós criamos o espaço para que eles se apaixonem pela causa e sejam transformados pela experiência. Esta é a raiz da motivação intrínseca que queremos atingir.
Na Psicologia, a Teoria da Autodeterminação desenvolve sobre como “apoiar nossas tendências naturais e intrínsecas para nos comportamos de maneira efetiva e saudável”. É uma teoria sobre motivação. Num estudo da área chamado “Reciprocal Relationships Between Contextual and Situational Motivation In A Sport Setting”, os autores fizeram uma importante descoberta:
“Comportamentos intrinsecamente motivados acontecem por causa própria, para experimentar o prazer e a satisfação inerentes à atividade. Por outro lado, comportamentos extrinsecamente motivados acontecem como um meio para um fim. Quando a razão para os indivíduos se envolverem em suas atividades parte autenticamente deles mesmos, a regulação do comportamento resultante é caracterizada pela autodeterminação. Em comparação, quando as pessoas se sentem pressionadas a participarem de uma atividade, elas experimentam baixa autodeterminação e autonomia”.
Os três níveis de motivação
Vivemos vidas ocupadas. Entre trabalho, família, lazer e bem… a própria vida, somos constantemente colocados em diferentes direções e temos dezenas de responsabilidades para carregar. Muitas vezes temos toda a intenção de participar do voluntariado, mas tendemos a priorizar obrigações regulares, deixando pouco tempo para isso. Então, como fazemos isso dar certo? Podemos começar examinando nossa motivação em três níveis. Esses níveis geralmente contam o porquê um indivíduo participa ou não do voluntariado.
“Experiências vividas enquanto estão se voluntariado são o fator mais determinante para as pessoas decidirem continuar como voluntárias”. Adam Grant.
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Motivação global: a orientação do indivíduo para seu ambiente.
Pense grande, veja a figura completa. Pense amplamente nos interesses. Vamos imaginar um voluntário típico: vamos chamá-lo aqui de João. Aplicando o exercício do Mapa da Empatia (mais à frente), notamos que João ama esportes e por isso, ele pode se interessar mais por voluntariado nessa área.
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Motivação contextual: o início para um contexto específico.
Vamos enxergar o amor do João por esportes de um ângulo diferente: ele tem filhos e uma das coisas que ele mais ama na vida é ir aos jogos de futebol deles. Fica mais fácil imaginar que o João se sentiria mais motivado a participar de um evento voluntário como um campeonato de futebol de crianças, certo?
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Motivação situacional: a principal motivação em que devemos prestar atenção.
Como já conhecemos um pouco o João, é a hora de ir em frente e convidá-lo a participar como voluntário num programa educacional de esporte para crianças todos os sábados pelos próximos 6 meses. Se você pensa que isso é um pouco demais, você está certo. Na cabeça do João, ele já está competindo com várias outras prioridades e está sobrecarregado. Talvez comprometer-se com o voluntariado pode tirá-lo da arquibancada no futebol dos próprios filhos.
Mas calma. Esta não é uma história triste com um final infeliz. Nós podemos motivar o João e os turistas como ele a participarem das atividades do Programa de Voluntariado. Para isso, precisamos enxergar sob a perspectiva do colaborador e determinar a resposta para a pergunta que eles estão se fazendo: “o que há nisso para mim?”.
Entender seu ponto de vista permitirá que você, coordenador do voluntariado, possa adaptar as atividades e oportunidades do Programa para o que mais importa aos colaboradores. Usar um Mapa da Empatia vai te ajudar a determinar o caminho para esse entendimento.
Mapa da Empatia
O Mapa da Empatia é uma metodologia utilizada pela Realized Worth, consultoria global em Voluntariado Empresarial, adaptada do Business Model Generation desenvolvido pela XPlane. É uma valiosa ferramenta para garantir que as mudanças sejam implementadas com foco nas pessoas, usando o Human Centered Design.
O princípio básico é começar com as pessoas que experimentarão diretamente a mudança, nesse caso, os turistas (voluntários no primeiro estágio) e desenhar um Programa que leve em consideração suas necessidades.
Para iniciar, responda às perguntas abaixo:
Quem é seu voluntário “padrão”?
O Mapa da Empatia não deve ser exaustivo. Empresas normalmente possuem o perfil de seus colaboradores, mas nesse exercício, queremos identificar o voluntário típico que queremos motivar.
Em Marketing, esse passo é similar ao de identificar o consumidor alvo para o produto a ser vendido. Em termos de Voluntariado Empresarial, precisamos entender o voluntário padrão, assim, podemos descobrir o que é importante para ele (ou seja, o que o motiva) e ajudar a construir um pacote de valores convincentes e responder a pergunta deles: “o que há nisso para mim?”.
Você está se perguntando – ou respondendo – a questão certa?
Depois que “desenhamos” nosso voluntário padrão, vamos usar nosso amigo João e escolher uma única pergunta orientadora:
“Por que o João gostaria de participar das nossas atividades voluntárias?”
Ou
“Qual o maior benefício para o João no voluntariado?”
Preenchendo o Mapa da Empatia
O Mapa da Empatia nada mais é do que uma figura com seis quadrantes que correspondem a diferentes perguntas. Veja a figura abaixo:
Você mesmo pode montar esse mapa com auxílio de uma cartolina. Basta só separar seis espaços e preencher cada um com as respostas às perguntas abaixo. Seu time deve trabalhar junto para aprender mais sobre a vida do João, seu voluntário padrão, a fim de determinar em qual tipo de Programa ele estaria mais motivado a se envolver.
Aqui vão as seis perguntas do quadro:
- O que ele vê?
- O que ele ouve?
- O que ele realmente sente e pensa?
- O que ele diz e faz?
- Qual a sua dor em relação ao voluntariado?
- Quais seus ganhos em relação ao voluntariado?
Juntando as informações e criando valor
Ao encerrar o exercício do Mapa da Empatia, você e seu time terão um claro entendimento sobre o que motiva o João. Nós sabemos que ele é um analista pleno, está entre 30 e 40 anos, tem filhos, faz exercícios, gosta de viajar… Ele quer ser notado por seu chefe e trabalha duro, muitas horas, para avançar em sua carreira. E, como falamos anteriormente, ele ama esportes.
Um Programa de Voluntariado que motive o João deve incluir oportunidades de voluntariado no fim de semana, por exemplo, no qual ele possa levar seus filhos junto. Deve ser num lugar próximo a sua casa e preferencialmente, com seu chefe participando também. Ao incluir as motivações extrínsecas que importam para ele no seu cotidiano, nós conectamos a resposta à pergunta dele (“o que há nisso para mim?) e permitimos superar todas as outras prioridades de sua vida que competem no nível situacional.
As motivações extrínsecas listadas no exercício criam o pacote de valores e os interesses do João. Quando o coordenador de voluntariado identifica e se apropria das motivações extrínsecas e “empacota” isso em oportunidades de voluntariado, o colaborador não só ficará motivado a participar, como fará isso de maneira regular.
Para resumir:
Comece a entender o que motiva seus colaboradores num nível situacional através do exercício do Mapa da Empatia. Então, crie um Programa de Voluntariado e oportunidades específicas baseadas no desenho de seu voluntário padrão, seus valores e interesses. Promova tempo e espaços para que os voluntários se conectem intrinsecamente com a causa. Você começará a experimentar uma transformação, não apenas em seu Programa e nas taxas de participação, mas com seus colaboradores de maneira geral.
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