Por *Marcela Marchi
Você já parou para pensar o que o voluntariado tem a ver com a política? Bom, na minha visão, praticamente tudo.
O voluntariado nasceu da intenção de se ajudar algo ou alguém em uma situação vulnerável. Ainda que nos seus primórdios o voluntariado tenha sido baseado no assistencialismo e inspirado principalmente em princípios religiosos, por muitas vezes acabou por auxiliar o Estado no exercício de suas funções, seja diminuindo a miséria, distribuindo recursos ou amenizando implicações de situações extremas como a falta de comida ou água.
E como fenômeno mais recente, as empresas também começaram a participar mais ativamente de ações sociais, ambientais, culturais e políticas, sendo hoje em dia também grandes agentes na promoção do voluntariado.
Toda essa junção de atores e forças em torno de ações e projetos de voluntariado mais organizados tornou-o cada vez mais forte e transformador.
A ONU enfatiza que o voluntariado deve ser aproveitado como um canal chave para o engajamento de nível local, nacional e até mesmo global, que traz experiências bem sucedidas de colaboração social em todo o mundo. Afirma também que os voluntários têm um papel fundamental para tornar os governos em todo o mundo mais responsáveis e ativos.
Voluntários estão trabalhando com governos e sociedade civil pela “prestação de contas daqueles que estão no poder, para influenciar políticas e leis e para representar as vozes daqueles que muitas vezes são deixados de fora das decisões de desenvolvimento”.
Relatório do Estado do Voluntariado no Mundo (2015)
Aqui no Blog já falamos como atuar em favor do nosso país, mas hoje vamos trazer três motivos pelos quais o voluntariado desperta em nós consciência política e consequentemente uma participação mais ativa na sociedade:
1) Vivência de novas realidades
Ao fazer trabalho voluntário, muitas vezes somos inseridos em contextos muito diferentes dos quais estamos habituados em nosso dia a dia. Somos confrontados com novas culturas, outras maneiras de pensar, viver e até mesmo com situações extremas de falta de estrutura ou recursos mínimos.
A consciência política na prática é construída dessa forma, da nossa visão de mundo, que acontece de forma contínua diante de tudo o que vivenciamos. Inclusive, existem estudos que defendem que a rotina é um dos fatores que mais favorecem a alienação, reduzindo até mesmo nossa percepção do que é correto ou afetando nosso julgamento sobre questões básicas de direito à cidadania. O voluntariado nesse ponto é uma excelente forma de quebra de rotina, “pré-conceitos” e paradigmas.
2) Conhecimento de problemas sociais
Às vezes podemos não viver um problema tão grave como a fome ou a falta de saneamento básico em nossa rotina, mas através do voluntariado muitas vezes somos expostos a esse tipo de situação que ganha uma proporção totalmente diferente em nossas vidas. Passa de um dado, uma estatística para algo real e impactante.
Uma experiência como essa pode ser chocante, desconfortável e até mesmo triste em um primeiro momento, mas com certeza serve também para abrir os nossos olhos para outras realidades. Faz-nos parar para pensar que a maneira como o outro vive influencia muito a maneira como ele age, assim como as oportunidades que ele recebe, para o bem e para o mal. Faz-nos perceber também quão desigual pode ser a vida em uma mesma região geográfica, onde direitos básicos garantidos a todos na verdade não chegam igualmente para todos e nos permitem um entendimento mais amplo e real do ecossistema em que vivemos.
3) Construção do senso de responsabilidade
O trabalho voluntário é um instrumento de construção da consciência, da tolerância e da paz. Ele também é capaz de despertar sentimentos de compaixão e empatia, além de promover a harmonia social, tão somente baseado no interesse comum de bem-estar para todos, valores fundamentais para uma vida em sociedade.
Noções de justiça e injustiça também são fortemente vivenciadas no voluntariado, sendo a percepção de injustiça um grande impulso para a participação política, que deixou de ser – há muito tempo – tão somente o ato de votar, mas sim uma forma de participar e influenciar as decisões que afetam ao nosso sistema social e modo de vida coletivo. É isso que propõe o “novo voluntariado”, como nomeiam algumas literaturas atuais, pautado pela ideia de mudança social e efetiva participação.
O voluntariado é um ingrediente e também um forte indicador de uma sociedade saudável, organizada, democrática, participativa e eficaz. Mesmo comunidades que consideramos desenvolvidas teriam alguma dificuldade para funcionar sem pessoas da sociedade civil se mobilizando nesse formato. Portanto, “mãos a obra”! Mais voluntariado, responsabilidade social pessoal, atitude e menos rivalidade política nesse momento tão delicado para o Brasil. 😉 Juntos, certamente podemos muito mais.
“Esperamos o reconhecimento do voluntariado como um componente essencial para a sustentação e um justo progresso das comunidades e nações.” – ONU