Dia da Consciência Negra: como valorizar a igualdade racial através do voluntariado

O Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, foi instituído no Brasil pela lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003. O seu objetivo foi introduzir a pauta no calendário das escolas públicas e privadas de ensino fundamental ao médio, e tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira de maneira transversal às disciplinas já existentes.

No dia 20 de novembro, não por acaso, comemora-se a morte de Zumbi dos Palmares, e para esse post resolvi contextualizar um pouquinho esta questão no país com, alguns números.

 

Alguns dados sobre as diferenças raciais no Brasil

De acordo com matéria para o Dia da Consciência Negra do ano passado, seis estatísticas demonstram a desigualdade racial no país. São elas: a salarial, o feminicídio de mulheres negras e a violência contra homens negros, o percentual no sistema prisional, a baixa representatividade no cinema e na literatura e o maior índice de desemprego.

O Atlas da Violência 2018* desse ano mostra que a diferença de violência letal contra negros no país é duas vezes e meia superior à de não negros, como se “vivessem em países completamente distintos” diz o texto.

“Em um período de uma década, entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%. No mesmo período, a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%”.

*O Atlas da Violência 2018 é produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Ali são construídos e analisados inúmeros indicadores para melhor compreender o processo da acentuada violência no país. E para quem se interessar, vale também acessar o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

A questão da igualdade salarial também é um “calcanhar de aquiles”, e explorada pela pesquisa “A distância que nos une – Um retrato das Desigualdades Brasileiras” da ONG britânica Oxfam, demonstra que demorará pelo menos 72 anos para que negros e brancos tenham rendas equivalentes. A relação direta com o acesso à educação não garante ainda a equidade, dado que “apenas 34,6% dos jovens negros de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior. A parcela total dos que efetivamente o concluem é de apenas 18%” e a população negra com diploma ganha 75% do que ganham brancos com diplomas.

A lista é extensa e os números remontam nossa formação social recente com raízes escravocratas e elitistas, mas podemos nos ater às ações em prol da igualdade de direitos que estão ao alcance de nossa rede e atuação.

Ações de voluntariado para valorizar a cultura negra 

Iniciativas de voluntariado com o tema das raças podem englobar ações educativas e que abram espaço para o diálogo. Me inspirei no Projeto Consciência Negra para Educação Infantil e Ensino Fundamental para propor ações nessa área. No âmbito da metodologia desse projeto, por exemplo, existem práticas que podem ser adotadas junto às escolas, mas também algumas instituições e comunidades com as quais o seu programa de voluntariado atua. Aqui vão algumas sugestões:

1) Pesquisas

Compartilhamento, rodas de conversas e fóruns organizados ou mediados por voluntários explorando dados da igualdade e da desigualdade racial. Para aproveitar ainda mais o debate, pode-se estimular a produção textual com base em discussões a respeito da igualdade racial;

2) Exposição de pratos típicos

Há uma série de preparos que compõem a mesa do brasileiro mas que tem origem na cultua negra, como a feijoada, por exemplo.

3) Poemas, contos e literatura

Este tipo de material são um prato cheio desde a apreciação, exposição análise e criação de conteúdos por parte do público-alvo da ação voluntária juntamente com os voluntários. Uma ideia é fazer uma roda de leitura com o livro Menina Bonita do Laço de Fita – Ana Maria Machado (Ed. Ática, 2000) ou estimular a ilustração de histórias usando tinta guache e folha sulfite (Opções: “O Cabelo de Lelê” de Valéria Belém e “O Menino Marrom” de Ziraldo);

Outra atividade interessante é elaborar junto dos alunos um glossário com algumas palavras de origem africanas usada no nosso dia a dia, explicando o significado de cada uma;

4) Música e danças

Um rico repertório de danças pode ser demonstrado por grupos especializados e também vivenciados em uma ação de voluntariado de valorização da cultura negra. Além de danças em si, também pode ser interessante promover uma apresentação de músicas tradicionais, instrumentos e sons africanos: berimbau, tambor, atabaque, agogô, etc.;

5) Teatro

Montagem de peças e dinâmicas que dramatizem histórias e realidades vividas pelos nossos ancestrais negros mas também em situações cotidianas atuais.

6) Filmes e vídeos

Seções de cinema com documentários, TEDs, animações e longa-metragens sobre a cultura negra podem ser acompanhados de ricos debates. Uma breve pesquisa pode levantar bastante material, mas uma boa sugestão é a exibição do DVD do filme cuja protagonista é a primeira princesa negra da Disney: “A princesa e o sapo” (Disney, 2009, 1h 38m); Oficinas de produção de vídeos podem registrar as realidades da comunidade e ainda deixar um ativo profissionalizante.

7) Desfile com roupas de origem Africana

Esta atividade pode ao mesmo tempo valorizar competências criativas e profissionais no ramo da moda e têxtil.

8) Apresentação de Capoeira

É um clássico. Esse jogo pode ser bastante educativo quando os mestres trazem consigo a filosofia e a história da mesma. Por isso, pode ser muito construtivo promover rodas de capoeira com grupos convidados ou até mesmo ensinar seus princípios básicos às crianças. Além da capoeira, existem outros jogos africanos que também podem ser explorados.

9) Valorização da  história e de personagens importantes

Apresentar o continente africano, localizando-o no mapa mundial, contando um pouco sobre alguns dos países, enfatizando as diferenças entre eles, com o objetivo de desconstruir o conceito de que a África é um continente homogêneo. Outra ideia é a confecção de painel ou cartazes com imagens de personalidades negras notáveis em todo o mundo. Apresentar de forma resumida a história e importância deles certamente ajudará na desconstrução do preconceito.

 

Esse conjunto traz opções, ao meu ver, animadoras e em alguns casos até fogem do voluntariado tradicional abrindo portas para um diálogo mais genuíno entre os colaboradores e uma realidade social algumas vezes distintas. Acredito serem essas informações alguma inspiração, que se achar propício o momento e o contexto, favorecem o desenvolvimento de atividades nessa data tão importante para o nosso país.

Assim você, enquanto gestor, pode correr os olhos e relacionar aquelas que tem mais a ver com os objetivos do seu programa e com as características mais favoráveis dentro da sua empresa. E sem deixar de recorrer ao velho clichê usado em datas comemorativas, dizer que dia de igualdade e direitos fundamentais é todo dia, o ano todo 🙂