“Se queres ir depressa, vai sozinho. Se queres ir longe, vai em grupo.” (Provérbio Africano).
Por que razão as organizações necessitam de trabalhar de forma colaborativa?
Esse post é o último da série de posts da série VolunCET, um curso de formação online disponível em seis línguas – Alemão, Espanhol, Inglês, Italiano, Português e Polaco, produzido e cofinanciado pelo Programa Erasmus+ da União Europeia e alguns parceiros, dentre eles a Confederação Portuguesa do Voluntariado a CPV.
Mensalmente fizemos uma resenha com dicas dos conteúdos de todos os seus módulos e alguns dos seus capítulos.
Você agora já pode acessar a sequência completa:
- Conteúdo 1: Como planejar a sensibilização e mobilização de voluntários
- Conteúdo 2: Saiba o que é importante na hora de fazer a formação inicial dos voluntários
- Conteúdo 3: Saiba mais sobre gestão de projetos no voluntariado
- Conteúdo 4: Voluntariado e RH: saiba mapear competências e utilizá-las no seu programa
- Conteúdo 5: Como aprimorar a comunicação interna em seu programa de voluntariado
- Conteúdo 6: Como estimular o trabalho em rede no Voluntariado Empresarial
Para esse último fiz uma adaptação mais livre, mas é sempre possível acessar o conteúdo na íntegra através do link acima.
Atualmente as organizações operam em contextos complexos, e na questão social se relaciona com diferentes áreas de intervenção e de atores.
Nesse contexto difuso, os enquadramentos tradicionais e operações isoladas são insuficientes para criar soluções satisfatórias frente às necessidades apresentadas.
Dessa forma, a colaboração se apresenta como uma alternativa de ação, mas também de posicionamento, que propõe abordagens mais cooperativas, integradas e horizontais nas relações entre as organizações.
Por que razão as organizações necessitam de trabalhar de forma colaborativa?
Os setores público, privado e não lucrativo perceberam a necessidade de colaboração e trabalho em parceria, por vezes de caráter intersetorial, para garantir o sucesso do seu trabalho.
Isso torna possível a expansão da sua capacidade de trabalho e abrangência, otimização de recursos e redução dos custos, a distribuição do risco e da incerteza, providenciando por essa via serviços e produtos mais efetivos e até o aumento da sua credibilidade.
Pouco se vê ainda dessas práticas nos projetos de voluntariado, especialmente aqueles que são promovidos pelas empresas. Isso pode significar muito, especialmente o quanto a empresa percebe a sua atuação em função de objetivos mais internos ou externos.
Esse gap reduz as possibilidades dos benefícios mencionados acima, que são chamados de “vantagem colaborativa”, e que pode ser aproveitada principalmente naqueles cenários em que investimentos em projetos de voluntariado tendem a ser reduzidos.
Colaboração e Parceria
Colaboração é uma temática muito vasta e pode incluir processos formais e informais que são implementados pelos atores.
Parcerias são um tipo de relação colaborativa.
Apesar de alguns autores acreditarem que não existe um conceito de parceria universalmente aceito, existem algumas características comuns que fundamentam esses projetos em comum:
- Um modo de funcionamento (uma estrutura organizacional ou não): entre duas ou mais organizações para trabalharem no sentido de objetivo(s) comumente decidido(s) e acordado(s), existindo uma definição de problemas, e das ações específicas a realizar para ultrapassá-los, bem como as tarefas de cada parceiro, de acordo com as vantagens que cada um aporta à parceria (numa lógica de divisão do trabalho).
- Implementação de um plano comum com ações definidas e objetivos.
- Um acordo que beneficiará todos os envolvidos, aportando resultados que unicamente poderiam ser atingidos em colaboração, reduzindo a duplicação de esforços.
- Reciprocidade nos objetivos dos parceirose manutenção das suas identidades organizacionais distintas.
- Relação baseada na partilha (de competências, recursos, riscos, custos e/ou benefícios), incluindo situações que variam entre uma simples troca de bens e/ou de conhecimentos e um envolvimento mais profundo relacionado com a partilha da gestão, da tomada de decisão, do planejamento e execução do programa de ação.
- Uma relação colaborativa que envolve responsabilidade partilhada dos resultados, a prestação de contas e obrigações recíprocas.
- Relação Interorganizacional continuamente negociada de uma forma inclusiva.
Princípios do trabalho em Parceria
Existem alguns princípios associados ao trabalho em parceria, que contribuem para o seu sucesso, como:
- Partilha de uma visão estratégica.
- Escolha de objetivos sociais compatíveis.
- Igualdade na pertença – comprometimento de tempo, esforços e recursos por todas as partes envolvidas.
- Benefícios mútuos.
- Sentido de propriedade – sentimento de existência de laços emocionais das instituições e das pessoas envolvidas para o cumprimento de objetivos comuns.
- Equidade, originando respeito mútuo e independência relacionada com a aceitação das diferenças existentes (de valores, formas e métodos de trabalho, etc.).
- Transparência nos processos de tomada de decisão.
Outros princípios associados com o trabalho em parceria incluem:
- Confiança.
- Liderança colaborativa e partilhada entre os indivíduos, gerando responsabilidade conjunta e prestação de contas.
- Compreensão comum do enquadramento, cultura, valores e abordagem adotada.
- Entendimento claro sobre os papéis e responsabilidades dos membros, especialmente dos voluntários antes, durante e depois no terreno.
- Atmosfera de aprendizagem, com processos de monitoramento e avaliação que permitam melhorar o desempenho dos voluntários.
- Comunicação aberta e acesso amplo ao conhecimento e à informação.
- Procedimentos e recursos para a gestão da parceria por parte dos gestores dos projetos de voluntariado.
- Prestação de contas sobre as ações realizadas.
Ou seja, há um check list extenso que versa sobre a iniciativa de um projeto de voluntariado em parceria que não se enquadra como cartilha a ser replicada, mas como uma bússola adaptável a cada realidade.
Lembrando que o mais comum serão não projetos, mas ações em parceria, o que torna tudo isso observável, mas nem todos aplicáveis, com risco de engessar com governança uma coisa que deve ser fluida.
O nível de formalização (e de formalidades) dependerá da cultura e das instâncias jurídicas e gerenciais de cada empresa.
Aqui se complicar demais inviabiliza, há esse cuidado.
Colaboração e Trabalho em Rede
O Trabalho em Rede é outro tipo de relação colaborativa e é assumido como:
a “construção e estímulo à manutenção de relações de caráter pessoal e profissional para criar um sistema de informação, contatos e apoio” (Tradução de Janasz, Dowd, & Schneider, 2002, p. 192)”.
O objetivo do trabalho em rede é responder às necessidades e expectativas organizacionais dos seus projetos, e assim, as relações de trabalho voluntário em rede são ativadas de acordo com as necessidades sentidas, e ainda são dinâmicas, em constante mudança, não sendo rígidas nem muito estruturadas.
Ao trabalhar em rede, um programa de voluntariado estabelece uma relação informal que envolve a troca de informação para benefício mútuo (dos envolvidos na relação).
(Ao contrário das parcerias, o nível de confiança e compromisso temporal são limitados e não é necessário a partilha formal de recursos. Há dessa forma uma maior liberdade nos processos).
O que pressupõe essa relação informal?
Os processos de Trabalho em Rede apoiam o programa de voluntariado a criar relações sociais com outras organizações. Estas relações dão origem à melhoria do conhecimento sobre os recursos e contributos mútuos e, devido à informação trocada, podem contribuir para a execução do programa como um todo.
As empresas podem investir no trabalho em rede de modo a melhorar os seus contatos (relações) e diversificar as suas capacidades e competências para concretizar o trabalho de voluntariado.
Inclusive, uma das vantagens do trabalho em rede é a possibilidade de ter acesso a contatos das redes dos parceiros.
E como se tem sucesso nesses casos?
O sucesso das redes parece relacionar-se com as pessoas que as compõem, as quais funcionam através de um processo social de trabalho, com uma dimensão do bom relacionamento.
Para um programa de voluntariado que propõe esse tipo de articulação, há que haver formação e permitir tempo de maturação.
Essa maturação é para todos os lados. Da gestão do voluntariado e entidades parceiras que se relacionam organicamente com um território ou uma causa, e dos voluntários que apreendem uma participação diferente da que está comumente acostumada, agora mais afim com modelos de participação social e cidadania.
Há que se criar para isso também uma tranquilidade com os voluntários, de que os resultados de uma rede muitas vezes estão ligados mais à sua manutenção, a conquistas menores, mas significativas, do que a um show pirotécnico de ações imediatistas.
Estas características não podem ser impostos ou criados de forma artificial.
A força da relação depende: da frequência dos contatos, do grau de abertura do seu capital humano e do investimento nesse modelo por parte das empresas que optem por investir no voluntariado em rede.
Meios utilizados para trabalho em rede
Através de contatos presenciais, por telefone ou através de meios escritos, ou por meios digitais, as organizações devem tentar criar uma ligação com outras organizações da mesma causa.
Barreiras ao Trabalho em Rede
O trabalho em rede pressupõe algum esforço e necessita de agentes proativos, para ser efetivo exige manutenção.
Como no caso das parcerias, as relações de trabalho em rede constroem-se com base na confiança, o que pressupõe algum tempo para se desenvolverem.
Reflexão final
O gestor de voluntariado deve proceder a uma reflexão estratégica interna antes de iniciar colaborações formais com outras, para permitir um entendimento claro sobre a mais valia e necessidade de escolher trabalhar em colaboração.
Investir em parcerias é uma decisão de custo-oportunidade, sobre a qual as organizações devem pensar de forma profunda.
Transpor tudo isso para o programa de voluntariado é uma escolha que deve levar em consideração que é um trabalho possivelmente mais emancipatório, especialmente se optar trabalhar através de comitês em comunidades.
Isso dá autonomia para esses comitês constituídos por agentes internos e externos, permite planos locais adaptáveis e um pouco menos de interferência da gestão do voluntariado. Daí vale avaliar o quão controlador você precisa ou quer ser. Varia de empresa para empresa.
O trabalho voluntário que forme redes de causas, sem uma intervenção local, é mais diluído do ponto de vista de resultados concretos, e muitas vezes passarão pela representatividade de voluntários em grupos de tomadas de decisão.
Se o seu programa tem como foco, por exemplo, o trabalho com causas muito amplas, como saúde e educação, vai ser difícil que como gestor de voluntariado “toque” as atividades ordinárias do seu programa e ainda esteja presente em todas as instâncias e redes que versem sobre esse assunto.
Vale a pena chamar os voluntários da sua empresa a essa missão?
A grande dificuldade tende ser a largar o osso, capacitar, confiar, e deixar fluir.