Como usar o Design Thinking para aumentar o potencial das ações voluntárias

Você já deve ter ouvido falar em Design Thinking. Ao contrário do que o nome sugere, não se trata de pensar em desenhos gráficos, de maneira literal. Embora sua origem tenha sido, sim, a maneira como alguns arquitetos e desenhistas de produtos passaram a projetar suas obras, pensando sempre em soluções centradas no cliente.

Começando do começo: o que é Design Thinking?

O Design Thinking é uma abordagem de criação centrada no ser humano. Um exemplo clássico que explica esse conceito é o vidro de ketchup. Quantas vezes você já teve que dar umas batidinhas no fundo do vidro de ketchup para conseguir extrair alguma coisa dali? Isso era comum até que algum desenhista industrial resolveu posicionar a abertura na parte de baixo da embalagem, de modo que o ketchup naturalmente se acumulasse perto da saída, fazendo com que o ato de montar um cachorro-quente seja mais agradável.

Essa é a diferença entre criar uma embalagem para armazenar o produto (design normal) e criar um produto pensando no modo como as pessoas vão usá-la (design thinking). É a diferença entre criar algo banal e algo inovador, que vai de fato agregar mais valor ao seu público.

Com o tempo, as empresas perceberam que essa mesma mentalidade poderia ser aplicada não só ao desenho de produtos, mas também ao desenho de processos, serviços, experiências e até mesmo à solução de problemas complexos. Sabemos que várias cabeças pensam melhor do que uma, e por isso os processos de inovação são incentivados coletivamente. Deste modo, é possível aproveitar a bagagem de conhecimento de todo um grupo de pessoas. E quanto mais diverso for este grupo, mais pontos de vista diferentes teremos, e mais rico será o resultado final. Mas para garantir que esse grupo chegue do outro lado sem se perder em devaneios, existe todo um processo que garante o entendimento do problema e um direcionamento adequado da solução. Dessa forma, chegou-se a um “caminho” que é percorrido na geração de ideias inovadoras:

O design thinking propõe um caminho de entender o problema através da observação profunda para chegar a um ponto de vista sobre o problema a ser resolvido. Em seguida, trabalha-se na elaboração de soluções através de chuvas de ideias, análises de viabilidade, testes e iterações.

O que ele tem a ver com Voluntariado?

Bem, praticamente tudo. Por definição, Design Thinking é uma abordagem de criação coletiva com base em 3 princípios: empatia, colaboração e experimentação. Reparou que todos esses três aspectos são também bastante presentes em uma ação voluntária?

Outro aspecto comum ao design thinking e ao voluntariado é o poder da construção coletiva, do desenvolvimento individual e comunitário através da cooperação. “Juntos somos mais fortes” é um mantra comum entre voluntários, e não poderia ser mais verdadeiro também em um processo de inovação.

O trabalho em grupo permite agregar diferentes habilidades e conhecimentos que se complementam, transformando a equipe em algo muito mais forte do que qualquer membro individualmente. Além disso, a interação social traz estímulo, inspiração e motivação, além de representar a divisão de tarefas que seriam pesadas demais para uma pessoa só.

Deste modo, podemos dizer que o voluntariado é uma maneira muito direta de estimular a cultura colaborativa e a inovação em uma empresa, desenvolvendo também qualidades como proatividade, comunicação interpessoal, habilidade de trabalhar em equipe, jogo de cintura e várias outras.

Por outro lado, atividades de Design Thinking aplicadas ao planejamento de uma ação voluntária também trazem benefícios para o Programa de Voluntariado em si: ao construir o planejamento coletivamente, integrando voluntários, lideranças, ONGs e pessoas da comunidade, conseguimos alcançar um entendimento muito mais profundo da sociedade e também das necessidades e expectativas de cada envolvido.

Na prática: como aplicar este conceito ao meu Programa de Voluntariado?

Em um programa de voluntariado, você pode estimular a cocriação no planejamento das ações. Com isso, você poderá aproveitar melhor o conhecimento de cada agente envolvido: voluntários, pessoas da comunidade, líderes da empresa… além de gerar um grupo de pessoas bastante engajado em fazer a ação dar certo – afinal, a tendência do ser humano é se apaixonar pelas ideias que ajudou a elaborar. Muitas empresas de consultoria oferecem workshops de planejamento e inovação, mas há também diversas ferramentas que você pode usar de maneira autônoma em sua empresa. Aqui vão algumas delas:

1) Manual de Design Thinking para Organizações Sociais

Elaborado pela Fundação Telefônica, este guia ajuda voluntários a pensarem junto com a organização atendida em ações que possam gerar resultados transformadores na comunidade. Esta abordagem é interessante porque a análise mais aprofundada do cenário faz com que a própria organização entenda seu contexto sob um ponto de vista diferente, levando a soluções mais inovadores e mais transformadoras, que vão além das tradicionais arrecadações ou reformas de espaços. O material está disponível gratuitamente aqui.

2) V2V Canvas

Este é um material criado pelo V2V voltado especificamente para planejamento de programas de voluntariado. É muito útil na fase de implementação de um Programa, mas também pode ser usado de maneira recorrente para o planejamento anual das atividades. O grande ganho desta ferramenta é que o plano final tende a sair bem redondinho, já que foi construído com o apoio de pessoas de diferentes áreas da empresa. Pelo mesmo motivo, o programa também tende a ser mais valorizado pelos diferentes departamentos. Neste post explicamos melhor como ele funciona, e o material pode ser baixado gratuitamente aqui.

3) Ferramentas de avaliação e gestão de projetos

Na verdade, qualquer ferramenta clássica de gestão de projetos (análise SWOT, matriz de risco, EAP, etc) pode ser trabalhadas em grupo. Em todos os casos, seu uso tende a ser mais rico e trazer resultados que não seriam alcançados indivudualmente. Neste post listamos algumas ferramentas de gestão de projetos que podem ser usadas por seus voluntários ao planejar e executar uma ação na comunidade.

4) Workshops com apoio de consultorias

Dependendo da complexidade do tema ou do engajamento da equipe, pode ser interessante contar com o apoio de uma consultoria que atue como facilitadora dessas atividades. No caso do V2V, oferecemos workshops geralmente voltados para voluntariado empresarial, ou temas ligados a sustentabilidade. Nesses casos, ajudamos não só na escolha e condução das atividades, mas também agregando conhecimento específico sobre voluntariado empresarial, o que é especialmente importante caso o grupo em questão não tenha muita experiência sobre o tema. Se sua empresa já possui o suporte de uma consultoria, verifique com ela a possibilidade de conduzir atividades de co-criação para seu Programa.

5) Festivais de Ideias

Uma atividade legal para movimentar toda a empresa em torno da solução de uma questão é promover um festival de ideias. Nessa dinâmica, uma plataforma recebe as mais diversas sugestões de projetos sobre um determinado tema: pode ser inclusão e diversidade nas empresas, mobilidade urbana, consumo consciente, saúde e qualidade de vida ou qualquer outro tema que faça sentido para a empresa. As melhores ideias são selecionadas e são abertas inscrições para que os colaboradores possam atuar nas propostas com que mais se identificarem. Os grupos formados participam de workshops e sessões de mentoria para que possam desenvolver seus projetos de maneira consistente e sistematizada. O resultado são iniciativas inovadoras prontas para serem implementadas, além de colaboradores desenvolvendo competências que tornarão seu trabalho mais produtivo e sólido no dia-a-dia.

6) Redes sociais corporativas

Espaços de interação sempre são um terreno fértil para a inovação. Mas enquanto espaços físicos precisam obedecer a limites de espaço e horário, as redes corporativas permitem que a interação extrapole barreiras geográficas e de tempo. Nas plataformas de voluntariado do V2V, percebemos que os colaboradores acabam criando muito mais ao interagir com colegas de outras regiões e conhecer as ações voluntárias que estão acontecendo nas mais diversas cidades. Como tudo fica registrado, a interação não precisa acontecer em tempo real: uma mensagem enviada agora pode ser respondida quando a outra ponta estiver com tempo livre, sem que as duas partes precisem estar disponíveis na mesma hora.

Que outras ferramentas ou metodologias de construção coletiva você conhece? Conte aqui nos comentários, e vamos juntos completando essa lista. 🙂