Os 7 pilares do cooperativismo que são irmãos do voluntariado

O que os 7 pilares do cooperativismo podem ter a ver com o seu programa de voluntariado? 

E o que o seu programa pode aprender com cada um deles?

Para falar sobre isso, partilhamos hoje um texto do especialista Sárgom Ceranto* que apresenta um pouco mais, para quem não conhece, o universo das cooperativas.

Os 7 pilares do cooperativismo, por Sárgom Ceranto:

O cooperativismo é um movimento econômico e social

cooperativismo é um movimento econômico e social surgido na Inglaterra em 1844 e assim como o voluntariado preza pela colaboração mútua entre pessoas com interesses em comum. Com sete princípios bem estabelecidos, o ideal cooperativista ganhou importância ao longo do tempo e hoje em dia responde por uma importante fatia da economia mundial, e no Brasil não é diferente.


Neste artigo vamos entender cada um dos princípios do cooperativismo no mundo e porque eles são tão importantes para o sucesso do movimento cooperativista. Vamos entender também como estes princípios podem ser colocados na prática por uma cooperativa.

O nascimento de uma cooperativa

Tudo começou em 1844 na Inglaterra, quando vinte e sete homens e uma mulher decidiram, por conta das dificuldades encontradas para comprarem alimentos para sobreviver, montar um armazém, para assim poder negociar melhor os valores dos alimentos, barateando e viabilizando a sobrevivência alimentar de cada um deles.

Naquele instante estava sendo criado o conceito que entendemos até hoje de cooperativa e de cooperativismo, que é a união colaborativa entre pessoas com fins e interesses similares. 

O que acontecia é que cada pessoa individualmente não tinha poder de compra algum, com os preços fora da realidade, e empregos pagando cada vez menos. Com a união deles em um objetivo comum, foi criada uma cooperativa que passou a negociar as compras de forma mais volumosa, com melhores condições e preços mais acessíveis.

O nascimento do cooperativismo nasceu então da necessidade enfrentada por pessoas que em momentos de crise econômica e social buscaram alternativas para a lógica desigual do capitalismo, que visava somente o lucro. 

Para que servem os princípios do cooperativismo

Desde a formação da primeira cooperativa que algumas regras de ouro foram criadas para nortear e caracterizar aquele que seria um movimento econômico e social que transformaria aos poucos a sociedade.

Essas regras de ouro, chamadas de princípios do cooperativismo, existem até hoje e foram adaptadas em 1937, 1966 e 1995, mas sempre mantendo o espírito cooperativista, que veremos a seguir.   

Esses princípios servem para nortear e direcionar toda e qualquer cooperativa criada por pessoas. Esses princípios são normas e regras que devem ser respeitadas, com o risco de desconfigurar a identidade do cooperativismo, e por isso a sua existência nunca perdeu importância ao longo da história.

Os sete princípios cooperativistas

Vamos focar agora nos sete princípios do cooperativismo, e o significado de cada um deles.

1.    Adesão livre e voluntária

O que entendemos por adesão livre e voluntária? Bem, qualquer pessoa pode ser membro de uma cooperativa, desde que ela entenda e respeite as regras de conduta e as normas criadas para gerir. 

Essa adesão deve ser livre e voluntária, ou seja, somente as pessoas têm o poder de decidir entrar ou não no cooperativismo. 

E a partir do momento que ela aderir a uma cooperativa, ela deve arcar com o ônus e com o bônus desta nova relação de responsabilidades e parceria.

2.    Gestão democrática

Numa Democracia o poder emana do povo, da coletividade, e todos possuem direitos e deveres, além de poder de escolher e de decidir. 

Podemos pegar o conceito de Democracia e adequar ao sistema de cooperativas, mas com algumas mudanças sutis. 

A gestão democrática é baseada na ideia de que cada cooperado possui um voto de igual peso e importância, e eles devem decidir, por exemplo, os representantes na diretoria, além de decidirem sempre de forma coletiva os rumos que a cooperativa irá tomar, sobretudo em assuntos estratégicos. 

Assim como em um programa de voluntariado, quer nas relações internas dos comitês de atuação, ou na relação entre voluntários e comunidade: a gestão do planejamento e execução deve ser sempre democrática.

3. Participação econômica

O capital inicial de uma cooperativa é criado a partir da participação igualitária dos membros. Essa participação igualitária existe também para garantir que o segundo princípio, da gestão democrática, exista pacificamente, já que todos os membros são responsáveis pelo ônus e o bônus daquela cooperativa.

A remuneração dos membros é limitada e o que sobra (o chamado lucro na visão capitalista) pode ser tanto repartido igualitariamente entre os membros, quanto pode ser reinvestido na própria cooperativa, na aquisição de máquinas e equipamentos, além de aquisição de novas tecnologias. 

No fim das contas, os membros decidem, através de gestão democrática e com base na ideia de que todos contribuem de forma igual, os rumos das sobras dentro da cooperativa.

Assim no voluntariado também a decisão do que fazer com os recursos nunca é unilateral. Voluntários e comunidade devem decidir juntos o que fazer com os recursos disponíveis, para melhor garantir as melhorias coletivas.

4.    Autonomia e independência

Os cooperados sempre serão os principais atores dentro do cooperativismo. É necessário que eles sempre possuam independência e autonomia, mesmo que a cooperativa em questão feche um acordo com uma empresa privada ou uma instituição governamental. 

Assim, esse princípio garante para a cooperativa o poder de decidir o seu rumo, mesmo que ela possua parceria com a iniciativa privada ou com instituições públicas.

Para um programa de voluntariado, fazendo um paralelo, por esse motivo é importante existir uma política e um documento de normas, que garanta os rumos da ação de acordo com os objetivos primais do programa, ainda que existam atores e parceiros com seus próprios interesses e agendas. Então, neste caso, a política de voluntariado sempre será o Norte.

5.    Educação, formação e informação

O cooperativismo deixa aqui de ser um movimento somente econômico e de gestão e passa a ser também um movimento transformador e social. 

As cooperativas possuem o dever de garantir e incentivar a educação e a formação de seus membros, em todos os níveis. 

É com educação, formação e informação que os membros terão cada vez mais capacidade e entendimento para auxiliar na gestão, na tomada de decisões e principalmente, terão cada vez mais voz na sociedade como um todo. 

O cooperativismo percebeu como a educação e a boa formação interferem de forma positiva na gestão administrativa, além de oferecer conhecimento, ou seja, poder, a todos os seus membros.

E aqui o voluntariado aprende com cooperativismo quando oferece formação para os voluntários envolvidos, mas também faz de todo processo de intervenção social um processo educativo, ou até mesmo a bandeira principal do programa.

6.    Intercooperação

Da mesma maneira que o cooperativismo prega a união individual de pessoas com interesses similares para assim adquirir um maior poder de negociação e de existência, prega também a união de cooperativas com interesses que se complementam, e que por conta disso, podem se ajudar mutuamente, gerando uma corrente do bem, que valoriza e melhora a vida de todos os cooperados envolvidos. 

Juntas, as cooperativas só têm a ganhar e a lógica é das mais óbvias: uma cooperativa industrial pode fazer parceria com uma cooperativa de crédito, que pode fazer uma parceria com uma cooperativa de saúde, que pode fazer uma parceria com uma cooperativa da área agroindustrial. Todas elas podem se ajudar mutuamente, gerando acordos e crescimento para todas elas, e dessa maneira definimos a intercooperação entre cooperativas.

O voluntariado também vem aprendendo nesse sentido, quando nos últimos tempos passou a promover ações entre programas de voluntariado, possibilitando que recursos diversos fossem otimizados por meio de uma rede de parcerias.

7.    Interesse pela comunidade

Outro princípio que diferencia o cooperativismo do sistema capitalista é o que prega que as cooperativas devem se inserir dentro das comunidades afetadas por sua existência e que ela seja um motor de desenvolvimento social e econômico não somente para os cooperados, mas para toda a comunidade. 

O desenvolvimento sustentável e o crescimento justo e igualitário norteiam o cooperativismo de uma forma muito forte, e não podemos imaginar uma cooperativa que não possua uma visão de justiça social e de desenvolvimento igualitário. 

Mas de que maneira isso acontece? Bem, este princípio do cooperativismo preza pelo investimento sistemático em projetos economicamente viáveis, ambientalmente adequados e socialmente justos.

E aqui nem precisa dizer o quanto as cooperativas são irmãs dos programas de voluntariado na prática, quando olham para um território com o olhar de desenvolvimento socioambiental e de solidariedade.

Os princípios cooperativistas na prática: o que exercer quando se quer desenvolver uma cooperativa?

Precisamos entender que estes princípios devem ser colocados em práticas pelas cooperativas, e não devem ser somente palavras bonitas escritas em um documento.

Assim, quando se fala em adesão voluntária, precisamos pensar no que leva uma pessoa a aderir a uma cooperativa. 

É sua vontade de ter a sua vida transformada?

Sua vontade de fazer parte do que se apresenta como uma alternativa econômica e social viável? Somente você saberá os motivos que vão te levar a entrar em uma cooperativa, e somente você terá o poder de escolher entrar ou não.

Já a gestão democrática precisa de fato ser colocada em prática, afinal de contas, se todos são igualmente responsáveis pelo sucesso ou fracasso de uma cooperativa, por que então algumas pessoas teriam mais poder de decisão que outras? Não faz sentido e de fato a democracia deve ser exercida sempre no cooperativismo.

E para que essa gestão seja democrática, é importante que todos os membros tenham as mesmas responsabilidades econômicas, de arcar com os custos e com as sobras da cooperativa. A ideia de igualdade é fundamental para que o conceito de gestão democrática funcione na prática.

A cooperativa é uma alternativa ao capitalismo, e por isso, não pode se render a estas ideias, mesmo que defina fazer uma parceria, seja com a iniciativa privada, seja com instituições públicas. É de livre vontade de uma cooperativa fazer acordos diversos, mas sempre será mantida a sua independência e autonomia perante todos os outros atores externos.

Sobre a educação e formação, não imaginamos uma cooperativa que não ofereça cursos de capacitação, que não ofereça formação e informação para todos os seus membros. É mais que sabido que conhecimento é poder, então quanto mais conhecimento os cooperados tiverem, maior o poder que aquela cooperativa terá na sua jornada.

Não adianta uma cooperativa querer viver em uma bolha, pois em algum momento ela vai depender de parceiros estratégicos.

E por que não exercer essas parcerias com outras cooperativas, que possuem os mesmos princípios norteadores?

É uma ideia lógica e que deve sempre ser colocada em prática através de parcerias estratégicas.

Por fim, uma cooperativa deve necessariamente se envolver com a comunidade na qual está inserida.

Entender que o crescimento da comunidade vai ajudar no crescimento contínuo da própria cooperativa é fundamental para que os membros tenham sucesso.        

Conclusão

O cooperativismo nasce com um dos objetivos mais nobres, que é o de melhorar a qualidade de vida das pessoas, que sozinhas não tinham tantas condições de sobrevivência ou de crescimento, assim como todas as estratégias irmãs de voluntariado, participação social e solidariedade.

Para que os ideais cooperativistas tivessem sucesso, entretanto, era necessária a criação de princípios norteadores, que iriam direcionar da forma correta todas as cooperativas do mundo.

Seus princípios até hoje sobrevivem, cada vez com mais força?

Você conhecia os princípios cooperativistas?

Conte como esses princípios podem ser aplicados no seu programa de voluntariado, ou mesmo se o programa da sua empresa pode auxiliar as comunidades e grupos locais a desenvolverem suas próprias cooperativas como alternativa para desenvolvimento socioeconômico.

Veja aqui um exemplo de como isso pode acontecer, por meio de uma cooperativa de produtos alimentícios em parceria com empresas solidárias.

Sárgom Ceranto* é empresário, fundador e executivo da Coonect.se, empresa especializada em educação corporativa para cooperativas. Tem sua formação na área de administração de empresa e possui algumas especializações voltas para projetos e gestão de negócios. Apaixonado por educação para adultos, frequentou as melhores escolas de negócios do Brasil e do Mundo. Conheça o blog da Coonect.se: https://coonectse.com.br/blog