Pouca gente sabe, mas em agosto deste ano tivemos a participação de pessoas com deficiência não apenas nas Paralimpíadas, mas também nas Olimpíadas. Isso mesmo! Eles atuaram como voluntários, orientando o público no Parque Olímpico.
E por que resolvi escrever sobre isso, sendo que o evento já passou há alguns meses?
Porque mesmo eu, que fui a alguns dos jogos, só descobri essa novidade recentemente ao assistir a palestra de Any Bittar, gerente de Parcerias de Voluntários dos jogos olímpicos e paralímpicos. Ela contou sobre o programa Incluir, desenvolvido com o apoio da multinacional EY, uma das quatro maiores empresas de serviços profissionais do mundo. O Incluir foi uma versão do Programa de Voluntariado das Olimpíadas voltado exclusivamente para pessoas com deficiência intelectual, conhecidas como PCDIs. Junto com ela, Elisa Carra, líder de RH da EY no Brasil e América do Sul, contaram como foi a seleção, capacitação e acompanhamento destes voluntários tão especiais.
Ao longo da apresentação, ficava cada vez mais claro que as pessoas com deficiência, ou PCDs, não são apenas homens e mulheres que precisam de cuidados especiais. Muito mais que isso, são pessoas que podem encarar desafios e ser bastante produtivas se tiverem o suporte adequado. Para mostrar o grande potencial que estamos perdendo, compartilho abaixo dois casos de Voluntariado que vão mudar sua visão sobre este público.
Nas Olimpíadas, uma PCDi podia te ajudar a encontrar sua arena
O programa Incluir trouxe PCDIs, Pessoas com Deficiência Intelectual, para atuar como voluntários nas Olimpíadas – o que por si só já é instigante. Sua tarefa era a de orientar o público sobre como chegar ao local das competições, trabalho que foi bastante elogiado. Carla Bezerra, gerente de RH na EY que também atuou na concretização do Programa, contou sobre os cuidados envolvidos para que a ação fosse um sucesso. Então, compartilho aqui algumas curiosidades:
- O Programa de Voluntariado para PCDIs não estava no plano original das Olimpíadas e não havia sido feito em nenhuma edição anterior do evento. Fomos os primeiros!
- O programa tinha a intenção de integrar os PCDIs com a sociedade, mas não se contentou em apenas trazê-los para o evento. Era imprescindível que eles fossem úteis de alguma forma, atuando realmente como voluntários. Por isso, ficou a cargo deles orientar e dar informações ao público.
- Os PCDIs tinham praticamente os mesmos direitos e deveres de qualquer outro voluntário, exceto por pequenas adaptações. Por exemplo: caso fosse necessário, ele poderia ter um acompanhante. Além disso, o supervisor da equipe era alguém preparado para lidar com PCDs.
- Muitos dos que haviam se oferecido para ser voluntários tiveram que declinar o convite mais tarde, mas por uma ótima razão: eles haviam acabado de conseguir um emprego.
- A receptividade do público não poderia ter sido melhor: os elogios foram recorrentes e muita gente parabenizou o programa.
Na EY, colaboradores se tornam Melhores Amigos de pessoas com deficiência
Na EY, o Programa de Voluntariado existe há dois anos e acontece principalmente nas cidades de São Paulo e Curitiba. Nele, todos os colaboradores podem participar e, exceto por raras ações em que há restrições técnicas, os colaboradores que possuem alguma deficiência física ou mental podem participar normalmente. De acordo com Larissa Faresin, líder de Sustentabilidade Corporativa na EY, o processo de inscrição nas ações é o mesmo de qualquer colega, com a única diferença de que no formulário de inscrição ele deve informar se possui alguma deficiência. Com essa informação, a empresa se organiza para prover alguns cuidados especiais que sejam necessários para a sua participação.
A maior parte das ações não possui um tema específico, mas recentemente a equipe gestora do programa começou a articular o Programa de Amizade da Best Buddies. Através dele, qualquer colaborador pode se tornar grande amigo de uma PCD que queira participar mais ativamente da sociedade. Assim, durante um ano cada dupla de “melhores amigos” será estimulada a fazer programas como lanchar em um lugar bacana, ir ao cinema, passear em parques… ao final de um ano, as duplas podem se desfazer para formarem novos Melhores Amigos.
Experiência transformadora para todos
De acordo com o site da organização, o Programa de Amizade surgiu da percepção de que pessoas com deficiência intelectual não fazem amizade com a mesma naturalidade que uma pessoa sem a deficiência. Em decorrência disso, suas vidas podem ficar muito restritas e pouco dinâmicas, o que os priva de desenvolver habilidades sociais e os segrega da sociedade por toda sua vida. Por isso, o princípio do Programa é estimular uma amizade entre pessoas com e sem deficiência intelectual.
“Além dos benefícios diretos experimentados pelos participantes e por suas famílias, nosso objetivo é criar um movimento global de voluntariado para a causa da deficiência intelectual, mudando a visão das pessoas e criando consciência sobre a importância da inclusão. Essa amizade proporciona uma experiência transformadora!“
(trecho de texto retirado do site institucional da Best Buddies)
Na EY, o projeto Melhores Amigos está sendo implementado e já conta com uma embaixadora muito especial: a Mariana Cerbelheira, que trabalha na empresa desde 2014. Mariana é a pessoa perfeita para exercer essa função, pois tem Síndrome de Down e nesses quase 3 anos de empresa já trabalhou como auxiliar de secretária, assistente de atração e seleção e atualmente trabalha na integração de novos profissionais. Ou seja: além de gostar de lidar com pessoas e ser uma representante das PCDIs, ela é a prova viva do potencial que uma pessoa com deficiência intelectual tem quando recebe os estímulos e apoio necessários. “Minha adaptação na empresa foi fácil, pois gosto de lidar com pessoas, tenho raciocínio rápido e gosto de aprender coisas novas”, conta Mariana.
Espero que essas histórias tenham inspirado você. Pois para nós, que assistimos a palestra, foi uma quebra de paradigma: enquanto muitos de nós os enxergávamos simplesmente como pessoas que mereciam atenção especial, o evento nos mostrou que cada uma delas também pode encarar desafios e surpreender o público. Cada uma delas pode agregar algo de novo para a sociedade e – por que não? – para a sua empresa.
3 comentários sobre “Case EY: quando pessoas com deficiência atuam como voluntárias”
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