Recentemente, li este artigo do Chris Jarvis (um dos maiores especialistas em Voluntariado Corporativo nos EUA) que lista três tendências do Voluntariado Empresarial no mundo. No texto, ele fala sobre a evolução das ações de impacto pontual a movimentos contínuos, de transição de mera participação coadjuvante ao protagonismo e da mudança de conceitos de “ajudar” para “pertencer”. Todos esses conceitos são interessantes e certamente relevantes, mas gostaria de trazer uma reflexão principalmente sobre o terceiro ponto: as diferenças entre “ajudar” X “pertencer”.
Breve introdução: por que Pertencer é mais transformador do que Ajudar
Para nortear a conversa, começo trazendo aqui um trecho do texto do Jarvis:
Em um modelo transacional de voluntariado e doação, as pessoas usam termos como “ajudar” ou “fazer”. Existe um grande senso de “fazer a diferença” ao fazer mudanças para o mundo. Esses termos são importantes e é claro que deveríamos ser impelidos a ajudar quando podemos. No entanto, um modelo transformador se concentra não apenas nos benefícios sentidos pela pessoa beneficiada, mas também pela pessoa que está ajudando. Essa mudança de visão direciona os voluntários a um senso de pertencimento. Este sentimento acontece à medida que as barreiras entre “nós e eles” são quebradas, permitindo uma conexão mais profunda e, em última instância, um impacto maior. Quando estamos todos no mesmo time, não há outra opção que não seja a cumplicidade.
Os benefícios do voluntariado para quem o pratica não são novidade: as consequências positivas são tão conhecidas que médicos e psicólogos frequentemente recomendam o engajamento social como maneiras de amenizar depressão, ansiedade e melhorar sua qualidade de vida. Sem contar os benefícios profissionais como o desenvolvimento de competências valorizadas no mercado de trabalho, como habilidade de trabalhar em equipe e jogo de cintura.
Mas a forma como ele atrela esse novo paradigma a um programa transformador com real aumento de impacto na sociedade é no mínimo muito estimulante. E faz todo o sentido.
O voluntário não deveria ser um herói – nem um mártir
Neste post explicamos por que o voluntário não deve ser tratado como herói. Quando plantamos árvores ou reformamos um espaço público, ganhamos mais qualidade de vida – não só pelo trabalho em si, mas também pela melhoria gerada. Quando damos aula como voluntários em um curso de pré-vestibular, estamos contribuindo com um mundo mais justo em que nós mesmos vamos viver.
E por falar em dar aulas: já reparou a paixão com que as pessoas discursam sobre religião, política e futebol? É porque elas se sentem parte daquela causa. Por isso dedicam seu tempo para assistir um jogo ou ir à igreja, por exemplo. Além do benefício individual (seja lazer ou espiritual) há também um senso de comunidade ao estar juntos com os que torcem pelo mesmo time ou acreditam no mesmo Deus. O mesmo comportamento pode se aplicar a qualquer que seja a causa adotada por uma pessoa: seja meio ambiente, consumo consciente, inclusão de minorias ou qualquer outra. Como, então, aproveitar esse engajamento em um Programa de Voluntariado?
Convidar para a ação é mais fácil – e eficiente – do que pedir ajuda
Você deve ter vários amigos ou familiares que não gostam de pedir ajuda. Talvez você mesmo seja uma dessas pessoas. Esse desconforto acontece porque pedir ajuda nos obriga a admitir certa vulnerabilidade, exercendo nossa humildade e enxergando que somos limitados em certas situações. Nada disso deveria ser um constrangimento – afinal, que ser humano nunca precisou do apoio de outras pessoas?
Se todos nós precisamos de ajuda em algum momento, por que então frequentemente colocamos o voluntário em uma posição de herói trazendo o público beneficiado a uma posição de coitadinhos? Ajudar e ser ajudado são posições que cada um de nós alternamos ao longo das nossas vidas, variando mesmo em um único dia. Todo relacionamento promove troca, e no voluntariado os envolvidos ganham o prazer da experiência e da convivência, além de novos aprendizados, e da sensação de ser útil ou estimado. No fundo, todos queremos um ambiente mais justo e acolhedor para todos. Por isso, no voluntariado, todo mundo sai ganhando.
Então, não faz sentido pedir ajuda, mas sim convidar para uma ação cuja participação seja interessante para todos.
Abraçando a causa dos colaboradores
Quando a empresa abraça causas que os colaboradores apoiam, eles provavelmente se esforçarão para participar. O convite para uma ação é recebido como uma oportunidade de fazer algo que valoriza, e não como uma tarefa a ser feita apenas em prol de outros. Isso porque sentem que estão atuando em algo do que fazem parte. Sentem que a empresa está contribuindo ao trazer possibilidades de atuação, em vez de solicitar seu tempo para uma causa que é dela. É claro que por questões estratégicas nem sempre o Programa de Voluntariado poderá abranger quaisquer temas, mas é importante que se saiba o valor de trabalhar com movimentos aos quais os colaboradores têm apreço.
E que valor é esse?
A dedicação e empenho que, invariavelmente, se transformarão em maior impacto social e maior satisfação de todos os envolvidos.