Dia Nacional do Voluntariado

Dia Nacional do Voluntariado: a relevância do assunto no país e a celebração de um prêmio nacional

Por Marcelo Nonohay*

Estamos comemorando mais um Dia Nacional do Voluntariado. A data é celebrada hoje no dia 28 de agosto e é o momento de reconhecer e fortalecer o engajamento daqueles que dedicam seu tempo e talento por causas comunitárias.

Além de um dia de reconhecimento, o dia de hoje pode servir também para refletirmos sobre a importância do trabalho voluntário em nosso país, e em como sociedade, governo e empresas se articulam nessa tarefa.

Voluntariado: tendência de crescimento

A pesquisa World Giving Index, realizada internacionalmente pela Charities Aid Foundation, indica que o voluntariado vem em uma tendência de crescimento no Brasil.

Dentro do estudo, realizado em 2017, os entrevistados deveriam dizer se dedicaram tempo voluntariamente a alguma organização social no último mês. Cerca de 20% dos brasileiros responderam que fizeram trabalho voluntário no último mês.

O mais importante é que esse número, quando analisado em uma perspectiva dos últimos cinco anos de pesquisa, indica que o voluntariado vem crescendo. Passamos de 13% em 2012, para 16% em 2013, voltamos aos 13% em 2014, retomamos o crescimento em 2015 chegando aos 18% e consolidamos a tendência de crescimento em 2016, chegando aos 20%.

A tendência é muito positiva, mas a comparação global mostra que ainda temos muito espaço para crescer. Com seus 20% de voluntários, o Brasil ficou apenas com a 63a colocação entre os 139 países pesquisados.

Crise econômica e voluntariado

Algumas pessoas poderiam argumentar que o engajamento de voluntários no Brasil seria prejudicado pelo quadro de crise econômica e desalento da população em relação aos índices de desemprego e violência, por exemplo.

Mas o que explicaria as posições de destaque no percentual de voluntários da Libéria, Serra Leoa e Tajiquistão?

A explicação é que o índice de engajamento de voluntários em um país não tem forte relação com seu desenvolvimento econômico ou social. Outros fatores são mais determinantes para a disseminação de uma cultura de voluntariado.

Enquanto os volumes de doação para caridade possam ser afetados por crise econômicas, a dedicação de tempo e talento está ao alcance de todos. O voluntariado mostra-se uma alternativa em nível individual e coletivo para que os cidadãos atuem para amenizar os efeitos negativos de um cenário de crise.

O Brasil passa por uma crise econômica sem precedentes. Isso contribuiu para a regressão de muitos indicadores sociais. Ainda que as pessoas tenham muito menos recursos financeiros disponíveis para ajudar com dinheiro a organizações e causas, todos podem lançar mão de uma parcela pequena do seu tempo para fazer o bem.

Do ponto de vista do engajamento social de cada cidadão, o trabalho voluntário deveria ser visto como aquilo que alguns economistas chamam de medida anticíclica. Em tempos de crise econômica e piora nos indicadores sociais, mais pessoas deveriam dedicar ainda mais tempo para o trabalho voluntário.

Atuando como voluntário, cada um pode dar a sua contribuição para amenizar a situação de parcelas da população que se encontram em situação de vulnerabilidade social, reduzir desigualdades, promover a diversidade e atuar no desenvolvimento local. As possibilidades de atuação são quase infinitas.

Responsabilidade de um, responsabilidade de todos

Sabemos que a maioria dos brasileiros ainda pensa que o principal responsável por resolver os problemas sociais e ambientais é o governo. Parece que muita gente prefere esperar por uma solução do que tomar a frente e fazer a sua parte.

Essa visão é muito clara na relação de muitas pessoas com aquilo que é público. Tome como exemplo a conservação de uma praça. A visão do público como sendo “de ninguém” faz com que muita gente não atue para conservá-la. O certo seria pensar que o público “é de todos” e por isso mesmo, todos deveriam cuidar – o último post desse blog falou só sobre essa consciência.

Esse tipo de mudança de paradigma deveria ser aplicado aos problemas sociais. Enquanto a maioria da população não entender que esses problemas são compartilhados por todos, afetam a todos e que todos deveriam fazer a sua parte para reduzi-los, nada farão para reverter essa situação.

O trabalho voluntário tem enorme potencial de transformação social. Vivemos em um dos países mais desiguais do planeta. O que impede o engajamento de mais pessoas, então? Na maioria das pesquisas sobre voluntariado, as principais razões são a falta de tempo e a falta de informação ou confiança sobre que causas ou organizações apoiar.

Se queremos ter um país melhor no futuro, precisamos de iniciativas que ajudem a aumentar a confiança nas organizações do terceiro setor, tornem os programas de voluntariado mais acessíveis e valorizem as boas iniciativas.

Como os diversos setores podem contribuir ? 

As organizações sociais devem continuar seu esforço de profissionalização e transparência. Com isso, conseguirão fortalecer sua imagem e reforçarão a percepção do relevante papel que desempenham. Além disso, poderão criar programas de voluntariado que possam colher o máximo da contribuição que as pessoas podem dar.

As empresas devem seguir expandindo o seu investimento social, de forma a dar mais sustentabilidade a causas e organizações, assim como estimular e facilitar o trabalho voluntário por meio de programas corporativos bem estruturados.

O Governo Federal, com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, deu um passo importante no ano de 2017 ao instituir o Conselho Nacional de Voluntariado. Por meio do Programa Viva Voluntário, o Conselho está trabalhando na revisão do marco legal do voluntariado, desenvolvendo um projeto piloto para o desenvolvimento do voluntariado em todas as regiões do Brasil e na criação de uma plataforma online para conectar oportunidades de trabalho voluntário com indivíduos.

O Prêmio Viva Voluntário

Dia Nacional do Voluntariado

Uma ação de extrema relevância do Viva Voluntário é a realização da primeira edição do Prêmio Nacional de Voluntariado. A premiação aconteceu hoje e reconheceu as melhores iniciativas dos programas de voluntariado realizados por Organizações da Sociedade Civil, organismos públicos, empresas privadas e lideranças comunitárias. O ato simbólico de reconhecer e valorizar pessoas e instituições que fazem a gestão de programas de voluntariado é fundamental para a disseminação do espírito voluntário entre os brasileiros.

Dentre os quase 300 inscritos, oito projetos foram destacados na cerimônia que ocorreu hoje no Palácio do Planalto. Durante o evento, também foi lançada a plataforma oficial do programa, construída pelo V2V.

Iniciativas como esta mostram a importância do trabalho voluntário e ajudam a consolidar a tendência de crescimento do engajamento de brasileiros em todo território nacional. Todos ganham em termos um país com uma cultura de voluntariado mais desenvolvida.


*Sobre Marcelo Nonohay

Fundador e diretor executivo da MGN, é mestre em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sua trajetória na MGN iniciou em 2006, ainda em sua terra natal, Porto Alegre (RS). Desde de 2010, partiu para São Paulo (SP), ampliando sua atuação a nível nacional. Durante os anos que se estenderam, realizou palestras e formações a para mais de 15 mil executivos de empresas nacionais e multinacionais, tornando-se referência na área de voluntariado empresarial e educação. É membro titular do Conselho Nacional do Voluntariado – Programa Viva Voluntário – do Governo Federal no biênio 2018/2019.

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