Por Fatima Lima*
Temos um grande desafio até 2030: “Não deixar ninguém para trás” – nações, governos, empresas e sociedade civil engajadas num plano de ação em temas de importância crucial para a humanidade a saber: pessoas, planeta, prosperidade, paz e parcerias.
Esses desafios são conhecidos como os Objetivos do Desenvolvimeno Sustentável, e o voluntariado, segundo a ONU, é um pilar de muita relevância na propagação deles através do engajamento das pessoas nesta causa urgente.
As empresas estão comprometidas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, alinhando-os à sua estratégia de negócio. Muitas dessas organizações vêm estimulando a participação voluntária de seus funcionários em ONGs ou escolas públicas onde atuam. Isso acontece através de ações de baixo e alto impacto aos públicos de interação, incluindo todos no caminho das mudanças necessárias para a sociedade e o planeta.
Sabemos que para que ocorram mudanças transformadoras na sociedade através do voluntariado, é preciso conceber um programa vigorosamente estruturado com o envolvimento permanente da alta liderança. Manter um plano de comunicação robusto, mobilizador, contínuo e sobretudo legitimar um programa de reconhecimento substancial e agregador.
Nesse artigo vou me aprofundar no papel da formação de Comitês no alcance das metas em um Programa de Voluntariado.
Por que adotar Comitês de Voluntariado?
Os comitês concedem ao Programa de Voluntariado uma gestão compartilhada e democrática, possibilitando que ecoem as expectativas de todos os funcionários / voluntários da empresa. Sendo assim, é fundamental considerar uma abrangente representatividade de voluntários compondo o comitê.
No caso de empresas com amplo domínio territorial, proponho a formação de comitês nos estados ou cidades com maior um número de funcionários. Empresas com menos capilaridade poderão optar pela formação de um único Comitê com integrantes de áreas diversas. Dessa forma, todos os funcionários estarão representados.
O papel estratégico dos Comitês
Os comitês são estratégicos pelo seu papel de cogestores e importantes articuladores locais junto aos funcionários, lideranças e organizações parceiras. É um modelo agregador porque traduz ao programa as expectativas, anseios e vivências dos voluntários atuantes em sua região de abrangência.
Também se caracterizam como instrumento de criação coletiva de uma iniciativa da empresa de mobilização cidadã.
Acredito que um programa de voluntariado empresarial que escolha por não formar comitês terá dificuldades. Propagar aos funcionários seu propósito de oferecer oportunidades estruturadas ou não de engajamento social é uma delas. Mais do que isso: a coordenação do Programa terá dificuldades de tornar o voluntário um agente dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Um pouco mais sobre os ODS
São 17 ODS com 169 metas equilibrados nas três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental. Legitimar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável como orientadores do Programa de Voluntariado permite estruturá-los de maneira que o potencial dos mesmos seja explorado e novos caminhos sejam validados pelos voluntários a partir da sua prática, dedicação, conhecimento e relação direta com as comunidades.
Recomendações:
- Constituir comitês com significativa representatividade de áreas e cidades onde a empresa está presente.
- Eleger o diretor de RH, Sustentabilidade ou Responsabilidade Social para ser o “cabeça” da iniciativa.
- Oferecer formação e orientação para que os integrantes do comitê exerçam seu papel com eficiência e eficácia.
- Desenvolver um plano de comunicação que apresente o comitê a toda empresa. Utilize canais internos de grande repercussão e adote comunicações regionais ao longo do ano.
- Criar uma categoria de reconhecimento aos integrantes do comitê dentro do Programa de Reconhecimento do Programa de voluntariado.
- Promover reuniões mensais do comitê entre seus integrantes.
- Promover reuniões bimestrais do comitê com a gestão do programa.
- Promover encontros anuais do comitê/comitês para sua colaboração no planejamento anual do programa e para requalificação, reciclagem do conhecimento.
- Criar uma identificação dos membros do comitê para que os funcionários e voluntários possam reconhece-los localmente como suporte para sua atuação voluntária.
- Criar um processo democrático de participação dos funcionários no comitê. A escolha poderá ser um convite aberto para inscrição e posterior aceite ou não à essa modalidade de voluntariado.
- Inserir na política do Programa de Voluntariado o papel do comitê.
- Reforçar o comitê como modalidade de atuação voluntária no programa.
- Oferecer ferramentas de suporte ao comitê.
- Não delegar somente ao comitê a responsabilidade de gerir o programa de voluntariado da empresa, assim como não o colocar somente como um disseminador do programa.
Que outras estratégias são necessárias para um programa genuíno?
Gerir um programa de voluntariado com excelência requer parcerias estratégicas e duradouras, priorizando internamente as áreas de Recursos Humanos, Sustentabilidade, Compliance, Jurídico, Comunicação interna e Marketing. Os outros públicos de interesse são Poder Público, Sociedade Civil Organizada, Conselhos e Institutos que fomentam o tema e congregam empresas com o mesmo propósito.
Uma gestão eficiente busca maximizar a qualidade do impacto voluntário. Para tanto, faz-se necessário muitas vezes o compartilhamento e a partilha dessa gestão com os colaboradores da empresa, a fim de obter uma maior distribuição de responsabilidades. Para que isso ocorra, recomendo que a coordenação do programa forme Comitês de voluntariado (em empresas com maior capilaridade territorial) ou um Comitê de voluntariado (em empresas com menor abrangência territorial). Sugiro a adoção de pontos focais somente na impossibilidade de formar os comitês.
Na minha prática
Por 15 anos coordenei um programa de voluntariado de uma grande multinacional do setor financeiro. Tínhamos 18 comitês de voluntariado nas principais capitais do país. Ao longo de muitos anos, estes comitês foram um importante instrumento para a gestão do programa de voluntariado, que tinha a participação de 17% do total de funcionários da empresa. Era um programa robusto e presente em todas as organizações parceiras do investimento social da empresa. O programa também estabelecia, pontualmente, parcerias com outras organizações e escolas públicas de todo o país.
Os integrantes dos comitês eram valorizados no papel que exerciam, porque sabíamos que sem eles o programa não teria alcançado os resultados almejados, como também não teríamos conseguido gerar transformações significativas para todos os envolvidos – beneficiários, voluntários, empresa e sociedade.
A formação constante e o acompanhamento dos integrantes no dia a dia foram ferramentas poderosas na atuação eficiente e inspiradora dos comitês, como também serviu de apoio na manutenção e sobrevivência destes grupos.
Inspirar é preciso
O Programa, como dizíamos, tinha a cara do voluntário, porque foi formado e cogerido por eles próprios. É assim que acreditávamos que tinha que ser, porque o desejo maior da empresa é viabilizar um meio estruturado de seus funcionários exercerem sua cidadania nas comunidades onde estão inseridos.
Os comitês foram os responsáveis pelo programa ser benchmarking e, de algum modo, estar até hoje se propagando em outros espaços, mesmo a empresa não estando mais presente no país.
Os voluntários que ajudaram na construção do programa continuam desempenhando seu papel social e inspirando outros a se juntarem na grande intenção de viver em um mundo de maior consciência cidadã.
Um programa de voluntariado só engaja e promove mudanças quando congrega diversidade de ideias, pessoas, formação e parcerias.
Sucesso!
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*Fatima Lima é consultora de Sustentabilidade e Responsabilidade Social, na FCM Consultoria em Sustentabilidade.
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