Sustentabilidade conceitualmente abrange muitos aspectos. Sua prática, como sabemos, se estende aos âmbitos ambiental, social e econômico e manter nossa engrenagem de subsistência e prosperidade funcionando exige um “novo” olhar sob como esses âmbitos se articulam.
Digo um “novo” olhar, porque ele não é tão novo assim e talvez isso nos convide a acessar nossa ancestralidade no que diz respeito à convivência de tribo, interdependência e comunidade. Ou seja, uma convivência sob o viés da sustentabilidade poderá remontar às nossas origens, depois de décadas de desequilíbrio sob o pilar econômico. O voluntariado se destaca aí como essa vontade (voluntas) de voltar a atuar em comunidade.
O sentido de comunidade que o chamado à sustentabilidade nos dá exige basicamente dois comportamentos: colaboração e confiança. Colaboração quando entendemos que sucesso se conquista com redes de ganho mútuo, e confiança quando reforçamos com regularidade a colaboração.
Colaboração
Vamos nos ater à colaboração, pois é sobre ela que o trabalho voluntário se constrói.
Essa vontade de fazer algo em prol do bem comum não surge do nada, parte do reconhecimento da necessidade de fazer algo perante os desequilíbrios sociais: pobreza, violência, falta de acesso à saúde de qualidade… enfim, mazelas sociais que são atribuídas à responsabilidade pública, o Estado, mas que recaem sobre nós como consequência e responsabilidade, quando assumimos que nós somos, o povo, o grande acionista dessa governança pública.
Ou seja, todos somos responsáveis por manter ou transformar a realidade social em que vivemos, na qual mapeamos ordinariamente três agentes principais:
- Estado, como responsável por acolher e propor as políticas gerais de bem estar social, estejam elas ao seu pleno alcance de execução ou não, podendo no segundo caso lançar mão de parcerias com os outros agentes para executá-las.
- Sociedade Civil, individualmente exercendo sua cidadania ou organizando-se em grupos ou pessoas jurídicas (como ONGs), em prol de causas específicas.
- Empresas, que operando sob a ótica da gestão sustentável, empreendem iniciativas que alavancam seus steakholders nas chamadas relações de “ganha-ganha”.
Todos os atores podem estimular o voluntariado como ferramenta de exercício da colaboração social. Logo, retomar o tema do voluntariado sob a ótica da sustentabilidade é reconhecer o seu posicionamento dentro desse grande guarda-chuva.
Cultura colaborativa nas empresas
O setor empresarial se destaca em nosso sistema econômico e, dispensado aqui dissertar sobre a sua importância, sabemos que pode empreender iniciativas internas e externas às suas estruturas que ajudem a formar uma cultura colaborativa. Internamente com ações entre seus colaboradores e externamente com parceiros e comunidades.
Das estratégias de relacionamento com a comunidade, com certeza o voluntariado é uma das campeãs, pois coloca em exercício seu maior ativo, a meu ver, as pessoas, na linha de frente do investimento social. Esse movimento possibilita relações mais sustentáveis com comunidades impactadas pelo seu negócio, advocacy de temas aos quais sua operação se relaciona, transformações importantes em necessidades públicas locais ou nacionais (a depender de sua abrangência), entre outros benefícios.
Assistencialismo, ajuda ao próximo, amparo aos necessitados, caridade, doação às pessoas carentes, tudo isso são termos antigos e até ultrapassados, relacionados ao voluntarismo, mas que agregados à iniciativa empresarial, juntam-se a conceitos de estratégia, planejamento, “ganha-ganha”, gestão e avaliação, formando um caldo interessante de práticas e resultados que já observamos em programas de voluntariado empresarial de pequeno a grande porte.
Abaixo ressaltamos alguns elementos essenciais para o sucesso de um programa de voluntariado empresarial, que estimula a cultura colaborativa e está enquadrado numa perspectiva de sustentabilidade:
- Alinhamento com o negócio.
- Alinhamento com políticas públicas, que evite sobreposição de esforços.
- Gestão (planejamento, execução e monitoramento).
- Comunicação e mobilização engajadora.
- Apoio financeiro, operacional e motivacional dos responsáveis pela empresa.
Observados esses pontos, um programa de voluntariado empresarial poderá para além de subsistir, gerar transformações internas e externas ao ambiente do negócio e das comunidades. Dentre essas transformações ressaltamos uma maior cultura de colaboração, relações mais duradouras, o fortalecimento da gestão sustentável, da confiança nas empresas, a formação de cidadãos mais conscientes e ativos, o fortalecimento de uma rede social mais saudável, entre outras.
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