Conheça as motivações para o trabalho voluntário

É um super desafio o engajamento de colaboradores voluntários nos programas sociais promovidos pelas empresas. Afinal, quais são as motivações para o trabalho voluntário?

As pesquisas de interesse mostram que a maioria dos colaboradores desejam apoiar uma causa social no contexto corporativo. Acontece que a peneira é grande quando passamos das inscrições às ações, ou seja, do anseio à prática.

Por que isso acontece?

Veja nesse post o que a bibliografia diz sobre as motivações para o trabalho voluntário e, assim, saber melhor engajar as pessoas.

As motivações para o trabalho voluntário

Quando se fala do estímulo para o trabalho voluntário, vem a pergunta:

– Qual é o grau de motivação que faz um indivíduo se deslocar do desejo à atitude?

Para começar, é bom frisar que o campo das motivações compõe um largo espectro das pesquisas acadêmicas sobre o voluntariado.

Elas passam essencialmente por teorias que associam a motivação voluntária ao altruísmo contraposto (ou não) ao egoísmo. E essas 2 motivações macro podem ser dissolvidas em 4 camadas:

Camada 1: Que é o conteúdo interno do possível voluntário, os seus valores, momento de vida, experiências prévias, e como se relacionam com a camada 2.

Camada 2: É a experiência de sociabilidade do mesmo: as suas influências interpessoais, o contexto e as normas sociais que compõe.

Camada 3: É a interação do indivíduo com a empresa. As camadas 1 e 2 relacionam-se aqui com proposição de ação da organização (quem propõe a ação, para quem elas são propostas, o objetivo da ação e seus valores).

Camada 4: São as circunstâncias operacionais da ação: tempo necessário, distância geográfica.

E será uma boa conjunção harmônica dessas camadas que possibilitará que os indivíduos se engajem no voluntariado.

Ou seja, motivar alguém não é algo assim tão simples.

As motivações passam pelo cruzamento de 4 fatores:

1. Fatores internos do voluntário (valores, momento de vida, experiências prévias).
2. Como o voluntário usualmente se relaciona.
3. O que e qual organização propõe (a relação do voluntário com a empresa influencia diretamente).
4. Circunstâncias operacionais da ação (tempo, exigência, localização)”. Omoto e Snyder (1995, pp. 671 – 686),

Entenda mais a bibliografia

A bibliografia sobre as motivações para o serviço voluntário tem sua maior contribuição científica no campo da psicologia social e cognitiva, seguido de estudos da área de gestão aplicada aos recursos humanos de entidades do Terceiro Setor.

O assunto das motivações estende-se pela natureza altruística do homem, e pelos sentimentos de empatia e de reconhecimento do seu papel no social.

Quer dar um mergulho nesse assunto?

Vamos estudar?

O altruísmo

A questão do altruísmo é trazida como um pressuposto de que a ação voluntária não busca, consciente ou inconscientemente, um retorno individual no sistema de trocas que se estabelece entre o voluntário e o beneficiário.

Naturalmente, é como se o ‘doador’ precisasse se afirmar com a expressão interna de ‘não quero retorno’, e quanto mais assim se afirma, mais retorno indireto de virtude socialmente estabelecida ele apreende, consciente ou inconscientemente, publicamente ou em seu universo privado de motivações.

O que os diversos autores trazem é que: se há um retorno pessoal para ajudar, em que medida há altruísmo sem um percentual de egoísmo?

O altruísmo é estudado de fomar uni ou multidimensional:

1. Modelos unidimensionais de motivações para o trabalho voluntário

É mais fortemente a partir dos anos 90 que surgem os primeiros modelos de sistematização da motivação voluntária.

As pesquisas na vertente unidimensional defendem uma experiência única de motivação, uma única experiência global positiva (gratificante) do voluntário.

“Unidimensionalmente, os modelos baseiam-se fortemente no altruísmo. Essa percepção está impregnada no próprio conceito do voluntariado. Os conceitos citados anteriormente, neste referencial teórico, sugerem que o altruísmo – autossacrifício sem aparente recompensa pessoal – é elemento fundamental para que ele ocorra: a motivação para voluntariar seria, portanto, a de doação”. Cavalcante et al (2015, p. 526).

10 motivações para o trabalho voluntário

Dentro da lógica unidimensional, de acordo com pesquisa, os dez motivos considerados mais importantes pelos voluntários foram:

1) oportunidade para fazer algo que vale a pena;

2) sentir-se bem consigo mesmo;

3) criar uma sociedade melhor;

4) oportunidade para devolver os recursos que recebeu em sua trajetória;

5) melhorar atitude na própria situação de vida da pessoa;

6) oportunidade para relacionamentos;

7) adesão às metas da agência promotora;

8) experiência educacional;

9) realizar atividades desafiadoras;

10) oportunidade para trabalhar com faixas etárias diferentes.

Segundo os autores (Piccoli e Godoi, 2012, p. 3), os voluntários demonstram motivos altruísticos e egoísticos de forma inseparável e indistinguível, e essa combinação de motivos pode ser descrita como “uma experiência recompensadora”, quando não se está somente dando algo de si a outra pessoa, mas também recebendo, igualmente, alguma recompensa.

2. Modelos multidimensionais de motivação para o trabalho voluntário

Os modelos multidimensionais existem em maior número e são os mais utilizados.

Veja alguns exemplos:

 – Funções do Voluntariado (IVF) (Volunteer Functional Inventory) de Clary et al

Um dos sistemas mais citados e aplicados em pesquisas que desejam medir as motivações de um determinado grupo de voluntários é o de Clary e Snyder (1991). Neste trabalho argumenta-se que um conjunto de fatores diferentes motivam as pessoas de forma distinta.

“Clary et al. (1992) criaram o modelo de seis fatores da motivação voluntária. As funções “carreira”, “social” e “proteção” foram avaliadas pelos voluntários como as menos importantes. Por outro lado, as funções 74 “estima”, “intelecto” e “valores” foram avaliadas como as mais importantes. Mesmo assim, essa avaliação difere entre os grupos. Para os mais jovens, a função “carreira” está entre as mais importantes, o que não ocorre entre os mais velhos”. (Cavalcante et al, 2016, p. 526).

Esse é um sofisticado modelo de mensuração de motivações, conhecido como Inventário de Funções do Voluntariado, e é um instrumento composto por trinta questões que identificam as razões pelas quais as pessoas decidem se voluntariar.

– ‘Ws’ do voluntariado de Bussel e Forbes

Bussel e Forbes (2002, p. 4) também são citados por um modelo multidimensional que identifica as motivações, a partir dos quatro ‘Ws’ do voluntariado: What, Who, Where e Why, a fim de auxiliar os administradores a melhor identificaram e selecionarem seus voluntários.

– 4 motivos de Batson

Batson (2002, cit. por Cavalcante, 2013, p. 165) também lança um sistema de quatro motivações:

1 – O egoísmo (que é o retorno para o indivíduo).

2- O altruísmo (um conjunto de retornos para a sociedade como principal motivador).

3- O principialismo (a possibilidade de empreender algo).

4- O coletivismo (os benefícios de se fazer algo em conjunto).

De acordo com o autor, esses quatro motivos e suas variações podem se combinar de diferentes formas, em situações distintas para um mesmo indivíduo, em momentos e locais diferentes da sua vida.

– 5 motivações primárias de Omoto e Snyder

E ainda, Omoto e Snyder (1990, pp. 152 – 165), no seu trabalho de pesquisa com voluntários que atuavam com a temática de pessoas soropositivas para o vírus HIV, revelou que mesmo existindo motivos comuns para serem voluntários, é um conjunto de motivações extremamente particular que faz com que as pessoas se movam pela causa.

Os investigadores avaliaram cinco motivações primárias nesse caso: 1) envolvimento de valores pessoais – porque é uma obrigação humanitária; 2) considerações sobre entender e aprender mais sobre a situação; 3) preocupação comunitária; 4) desenvolvimento e crescimento pessoal e 5) preenchimento de vazios ou déficits nas vidas das pessoas.

Motivar voluntários dentro de um ambiente corporativo

O conjunto de iniciativas de voluntariado empresarial busca apreender e otimizar o recurso ‘pessoa-voluntária’ num cenário competitivo, e de tempo e recursos limitados.

Assim, como regra de ouro, aqueles projetos capazes de compreender a natureza da motivação dos seus aspirantes a voluntários, conseguem conquistá-los por maiores períodos, alcançando o máximo de mais-valias em número de horas gratuitas vinculadas.

A necessidade de gestão qualificada da mão de obra voluntária cresceu, em conformidade com a quantidade de cidadãos que desejam se envolver com os problemas sociais que assistem e vivem.

O papel do gestor (ou equipe gestora) de voluntariado aqui é fundamental: ou há um planejamento consciente casado com uma compreensão profunda do que move as pessoas da sua organização, ou os esforços serão pontuais e sôfregos.

Engajamento consistente

Uma provocação que se faz é:

Conseguir que muita gente participe de uma ação com impacto insignificante, mas apenas para fazer barulho, é engajamento em voluntariado?

É preciso baixar a lupa sobre aquilo que se pretende com um programa de voluntariado para o programa de voluntariado não dar um tiro no pé.

Muitas vezes o que motiva um grupo de pessoas para serem voluntárias, como dizem os estudos aqui citados, é a possibilidade real de serem úteis de verdade, gerando alguma transformação com o seu escasso tempo investido.

Quando uma ação, pelo contrário, é “para inglês ver”, o colaborador acaba por sentir o seu tempo esvaziado e o programa de voluntariado perde credibilidade no presente e nas propostas futuras.

As ações com muito barulho e pouca substância acabam por ser um grande desfavor para todo o setor do voluntariado corporativo.

Por outro lado, se o objetivo é criar um sentimento de participação e coletividade, proporcionando que os colaboradores se encontrem para construir algo juntos, uma ação pontual pode ser muito positiva, desde que seja o ponto de partida, e não se estacione por ali.

Por isso, o chamado para consciência do que se propõe, casada com um bom diagnóstico de motivações pode gerar uma fórmula consistente de engajamento de voluntários, em ações que façam sentido para todos e justifiquem o investimento.

Quer conversar sobre esse assunto?

Chame-nos para uma conversa e com certeza aprenderemos juntos.

Todas as referências bibliográficas deste post: Bases comuns do voluntariado no Brasil e Portugal: entre a tutela e a emancipação.