Evite armadilhas na gestão do Programa de Voluntariado

Por Giuliana Preziosi*

Realizar ações de voluntariado envolve pessoas e o complexo mundo das relações humanas. Quando falamos de voluntariado empresarial, adicionamos mais um elemento na equação: a empresa, que apesar de ser uma pessoa jurídica é feita de pessoas e possui interesses próprios.

Qualquer programa de voluntariado empresarial para ser bem sucedido deve atentar para os interesses e necessidades dos 3 principais atores envolvidos neste contexto: a empresa, o funcionário e a comunidade; o grande desafio é encontrar uma relação de equilíbrio entre eles. Mas isso não é muito simples, pois estamos em constante transformação, seja ela interna ou externa. O meio influencia a gente e a gente influencia o meio, de forma positiva ou negativa.

Como levar tudo isso em consideração na hora de estruturar um programa ou realizar uma ação de voluntariado?  Desde o momento de construção de um programa de voluntariado ou até em programas já estruturados é preciso tomar cuidado com algumas armadilhas e riscos que podem fazer o programa “esfriar” internamente ou não alcançar os resultados esperados.

Este artigo traz 5 armadilhas bem comuns para você ficar atento e evitar que elas aconteçam!

1-Usar fórmulas prontas

Não existe receita de bolo para fazer um programa de voluntariado, é preciso entender a realidade e o momento da empresa antes da estruturação de um programa ou realização de uma ação específica. Cada empresa funciona de um jeito, tem sua forma de operar, seu estilo de governança e principalmente seus valores e políticas. O que funciona para um tipo de empresa pode funcionar ou não para outro.

É possível copiar ações e formatos, mas, para estruturar e criar um programa de voluntariado é fundamental entender as particularidades da empresa.

Claro que fazer benchmarking com outras empresas é importante e traz inspiração, mas esse processo só terá sentido se combinado com o olhar para dentro de casa. Buscar cases internos de estruturação de outros projetos, entender o perfil e conversar com colaboradores, analisar estilo de liderança, tudo isso é muito rico para um programa de sucesso.

Independente do estágio do programa, analisar o ambiente interno e externo é regra básica na gestão de projetos. Porque no voluntariado seria diferente? Inspire-se nas fórmulas de sucesso do mercado e crie sua própria versão!

2-Achar que não é possível ter ligação com os negócios

Já ouvir dizerem: “Voluntariado é ação na comunidade, não tem ligação com os negócios.” OK, mas e se tiver, será que isso é um problema ou uma oportunidade? Cada vez mais, as empresas descobrem que potencializar a relação das ações sociais com os negócios garantem resultados mais duradouros para ambas as partes.

A última pesquisa do BISC (Benchmarking do Investimento Social Corporativo) mostra que o processo de alinhamento dos investimentos sociais aos negócios vem ocorrendo de forma acelerada nos últimos anos: 75% das empresas declaram ter destinado em 2016 mais da metade dos seus investimentos para projetos sociais alinhados aos negócios – em 2013 esse percentual era de 50%.

O vínculo com os negócios potencializa o programa, fomenta sua perenidade, justifica os investimentos e reforça as relações entre seus principais atores.

Desde que haja uma relação de “ganha ganha” entre todos os envolvidos, atrelar o programa de voluntariado empresarial aos negócios pode trazer mais investimento ao programa e potencializar seus resultados para todas as partes. No entanto, é preciso ter cuidado para a balança não pender somente para um dos lados, o programa deve atender os interesses da empresa sim, mas também ouvir os funcionários, respeitar seus desejos e entender as necessidades da comunidade.

3-Confundir engajamento com mobilização inicial

Engajamento não se faz somente com o envio de um e-mail convidando para uma ação. Engajamento é processo e deve ser construído ao longo do tempo. Muitas empresas investem em ações de mobilização fazendo ações de comunicação antes de determinada ação, mas esquecem do depois. O processo de engajamento deve ser continuo, o desafio é manter a chama acesa.

O que te leva a fazer parte de algo? Com certeza a resposta não está somente em ações de comunicação como e-mails, folders e cartazes. Estes são apenas meios e canais de divulgação, no entanto engajamento é mais do que isso e tem a ver com valores.

Gosto de dizer que engajar é oferecer valor alinhando objetivos para colocar uma ideia em prática. Numa era de intensa concorrência de ideias e imersa à pluralidade de informações do dia a dia, a principal forma de conquistar as pessoas está intimamente relacionada ao que elas acreditam, ou seja, aos seus valores.

Ninguém é voluntário se isso não faz parte de seus valores, assim como uma empresa não investe em voluntariado se isso não fizer sentido para ela.  A melhor forma de engajar pessoas no voluntariado é deixar clara essa convergência de valores, o que mantêm a chama acesa é o “porquê” e não o “como”.

Engajar é o “porquê” e mobilização é o “como”. Combine essas duas coisas em sua comunicação e em sua estratégia para que os resultados sejam mais efetivos. Não esqueça que é um processo continuo, mantenha a chama acessa com ações em que os voluntários se sintam parte do programa, ouça, reconheça e valorize as pessoas!

4-Criar as ações sem escutar as pessoas que participarão dela

Quem serão os protagonistas de seu programa de voluntariado? Os funcionários, certo? Não os envolver em processos de escuta para criação de um projeto ou ação pode ser um alto risco para o sucesso do programa.

Nenhum programa de voluntariado vai fluir bem com a imposição de algo, até porque isso não combina com o espírito do voluntariado. Decisões unilaterais podem até funcionar no começo, mas não se sustentam no longo prazo, porque as pessoas têm desejos e interesses diversos.  Saber ouvir as pessoas certas faz parte de um processo de engajamento, onde as pessoas se sentem parte daquilo e valorizadas por serem ouvidas, além de trazer uma riqueza imensa de informações que podem ser altamente relevantes para estruturação de um programa ou desenvolvimento de uma ação.

A dica é: procure pessoas em áreas chave para o voluntariado (ex: Recursos Humanos, Jurídico, Marketing). Envolva também funcionários de diferentes níveis hierárquicos que representem diferentes perfis dentro da empresa. Quanto mais diverso, melhor!

Se eu como funcionário não me sinto ouvido ou valorizado num programa do qual faço parte, para que participar? Esse é um dos principais motivos de desmotivação de voluntários. Pense nisso e não deixe acontecer. 

5-Programa de arrecadações ou de voluntariado?

Pode parecer meio óbvio, mas ainda assim vale ressaltar: arrecadações, sejam elas de recursos materiais ou financeiros, são doações e não ações de voluntariado.

O voluntariado acontece quando a pessoa que, motivada por valores de participação e solidariedade, doa seu TEMPO, TRABALHO e TALENTO de maneira espontânea e não remunerada para causas de interesse social e comunitário.

Veja só, as arrecadações e o voluntariado se complementam, mas não são a mesma coisa. Um programa com foco em arrecadações tende a ser pontual e mais difícil de se manter a longo prazo.

É preciso cuidado para não chamar de programa de voluntariado ações voltadas exclusivamente para doações. A melhor coisa neste caso é juntar os dois tipos de ações e combinar esforços para atender as demandas da comunidade. Uma boa forma de fazer isso é estimular a doação de tempo atrelada à doação de materiais como, por exemplo, fazer uma campanha de arrecadação de brinquedos e levar os voluntários para fazerem brincadeiras nas instituições; arrecadar livros e convidar os voluntários para contarem histórias; arrecadar alimentos e promover uma oficina de aproveitamento integral e não desperdício desses alimentos, e assim por diante. Use a criatividade, o importante aqui é valorizar o trabalho do voluntário!

Para saber mais:

Veja outros artigos que já escrevemos sobre o tema:

As 5 etapas de um programa de Voluntariado

Lidando com atitudes sem noção no exercício do voluntariado

Como e por que alinhar o Voluntariado ao seu negócio


* Giuliana Preziosi é consultora parceira V2V e Sócia na Conexão Trabalho Consultoria.

 

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