Case Instituto Center Norte: Por onde começar um programa de voluntariado?

Aprenda com o case do Instituto Center Norte (ICN) como estruturar uma política de voluntariado pode ser um ótimo caminho.

*Por Daniela Pavan

Com o propósito pessoal de contribuir para a transformação na vida das pessoas, cheguei ao Instituto Center Norte (ICN) com muitos desafios, entre eles o de desenvolver um Programa de Voluntariado Empresarial. Em oito meses, trabalhamos intensamente na construção da Política de Voluntariado que acabou de ser aprovada pelo conselho administrativo. Em agosto, mês em que comemoramos o Dia Nacional do Voluntário, teremos o lançamento oficial do programa.

Como gestora, gostaria de compartilhar um pouco do caminho das pedras para chegar até aqui. Mas, antes disso, acho interessante dar um pouco de contexto sobre o cenário do Voluntariado e do ICN.

Pano de fundo

Segundo dados da pesquisa sobre o Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), o voluntariado sentiu o impacto da situação econômica do País. Contudo, apesar do período de recessão, o investimento social corporativo ainda é mais alto que há 10 anos.

O voluntariado se consolida

O número de colaboradores envolvidos em atividades voluntárias cresceu nos últimos anos e, atualmente, 80% das empresas concordam que o voluntariado aumenta a competência dos colaboradores e 100% afirmam que melhora a relação das empresas com a comunidade. Em 2012, esses números eram de 69% e 81%, respectivamente (clique aqui para ver a pesquisa na íntegra). Outro dado relevante dá conta de que nos últimos anos as empresas também aproximaram a estratégia do voluntariado ao negócio. No último senso do CBVE, em 2016, 81,25% das empresas respondentes afirmaram que as ações voluntárias desenvolvidas estão alinhadas aos seus objetivos estratégicos.

O Instituto Center Norte (ICN)

Diante desse cenário, decidimos implementar o programa de voluntariado no ICN, seguindo a tendência de alinhar o programa ao core business. O próprio instituto passou por esse alinhamento em 2017, evoluindo de um cenário de doações pontuais para conectar sua missão e visão ao negócio. O ICN está inserido ao que chamamos de Cidade Center Norte (CCN), um complexo que compreende os shoppings Center Norte e Lar Center, o Novotel e o Expo Center Norte. O complexo conta com 392 colaboradores e uma circulação diária de mais de 100 mil pessoas.

Aqui no ICN trabalhamos para melhorar a qualidade de vida e a renda dos moradores da Zona Norte. Utilizamos a inovação social e o empreendedorismo como ferramentas para transformar a Zona Norte em um importante polo de desenvolvimento sustentável da cidade de São Paulo. Para se ter uma ideia desse desafio, a Zona Norte é habitada por 2,2 milhões de pessoas, sendo um território heterogêneo, que comporta bairros ricos e estruturados e áreas de favela carentes de serviços públicos em saúde, educação e transporte. Uma região com muitas oportunidades para o investimento social privado.

A Política de Voluntariado e o caminho das pedras

1 – Definir a missão e os valores

O pontapé inicial é responder à pergunta: por que ter um programa de voluntariado? Existem diversas maneiras de respondê-la. Contar com o auxilio de uma consultoria é uma boa dica. Aqui no ICN chegamos à seguinte resposta:

2 – Voluntariado e as soft skills

Na hora de defender a criação do programa internamente, é importante listar as competências de RH da empresa e cruzá-las com as competências comportamentais que são desenvolvidas por meio da atuação voluntária. Aqui no ICN organizamos nossos comportamentos em quatro blocos: entregar o extra, abertura para inovar, agir com colaboração e atuar como dono do negócio.

3 – Estabelecer regras

Etapa fundamental na hora criar a política é definir o que pode e o que não pode. É importante ter regras claras para todos os públicos envolvidos. Acordar em qual horário a ação acontecerá, se dentro do expediente de trabalho e/ou fora. Isso ajudará no planejamento das ações mais adequadas e também assegurará o alinhamento ao RH e à alta liderança, fundamental para o sucesso da estratégia.

4- Objetivos, metas e escuta qualificada

É necessário traçar os objetivos e o caminho que será percorrido para atingi-los. Tenha o cuidado de estabelecer metas alcançáveis, mas ao mesmo tempo desafiadoras. É importante que elas sejam revistas e, nesse processo, ouvidas as partes interessadas: empresa, colaborares e comunidade. Existem várias ferramentas de inovação que proporcionam uma escuta qualificada e realmente acolhedora.

5- Engaje o seu público

Ter um plano de comunicação estruturado para as diversas fases do programa é uma dica de ouro. Aqui, é preciso entender a diferença entre informar e engajar. É muito comum incorrermos no erro de ter comunicações excessivas antes das ações na comunidade e cair num vazio após o evento. É importante engajar os voluntários em todas as etapas do programa e usar as diversas ferramentas e estratégias de comunicação. Contar com uma assessoria especializada é bom e faz a diferença.

6- Mensurar os resultados

Importante estabelecer mecanismos e KPIs para medir o impacto das ações tanto para dentro quanto para fora. Formulários de avaliação e relatórios que tragam dados quantitativos e qualitativos são importantes. Uma forma de potencializar as ações é conectá-las aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Entenda a importância e saiba como fazer nesse artigo.

7 – Relação ganha, ganha, ganha

Mostrar os resultados para a empresa, os voluntários e a comunidade é muito importante. A empresa ganha em melhoria da imagem e do clima, na atração e retenção de talentos. O voluntário ganha satisfação e bem-estar, exercício da cidadania e multiplicação de conhecimentos e competências. A comunidade tem ganhos diretos pelas intervenções dos voluntários, apoio à resolução de problemas sociais e estímulo à participação social.  

E para o futuro?

Pesquisas apontam a importância de estimular cada vez mais a participação de lideranças nas ações de voluntariado. Endossando essa tendência, o ICN estimula as lideranças da CCN a atuarem voluntariamente como mentores e jurados em ações que estimulam o empreendedorismo de jovens. A iniciativa mais recente, reuniu 21 lideranças da CCN no Encontro Nacional da Enactus (ENEB), onde os executivos atuaram como jurados nas etapas de abertura, semifinal e na grande final do evento.  

Nossa grande aposta é seguir atuando em rede com outros grupos de voluntários, potencializando as ações na Zona Norte. Recentemente desenvolvemos, em parceria com a Magazine Luiza, uma ação voluntária que acrescentou muito em troca de experiências e aprendizado aos voluntários envolvidos (saiba mais aqui).

Como não paramos por aí, também acreditamos que nossos voluntários têm o potencial para serem empreendedores sociais apoiando o desenvolvimento sustentável da região em que atuamos. Por isso, em breve, vamos desenvolver esse tipo de voluntariado em uma das nossas linhas de atuação: Zona Norte Sustentável. É um processo de autonomia e responsabilidade compartilhado, no qual o voluntário se torna um empreendedor junto com o ICN para mapear as necessidades da comunidade e propor soluções sociais para melhorar a qualidade de vida dos moradores por meio de experiências saudáveis, culturais e sustentáveis. A ideia é que a primeira iniciativa seja pilotada ainda este ano.

Cenas dos próximos capítulos

Em breve, vamos lançar um site que estimule o voluntariado na Zona Norte, conectando moradores, colaboradores, empreendedores e clientes da CCN. A ideia é trazer uma proposta inovadora que contribua de forma direta para o fortalecimento territorial da Zona Norte de São Paulo.  

Sabe aquela pergunta, como posso ser voluntário e por onde devo começar? Vamos dar esse empurrãozinho com o site que será um HUB para a conexão entre moradores da Zona Norte interessados em ser voluntários, com as ONGs da região que precisam de voluntários para potencializar suas ações.

Estamos todos muito empenhados e motivados com essa causa. Não nos falta a energia para conectar pessoas e suas causas. Vamos em frente ajudar a transformar a realidade de milhões de pessoas aqui da região.

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Daniela Pavan tem o propósito pessoal de contribuir para a transformação na vida das pessoas, é formada em administração de empresa pela PUC/SP e possui pós em gestão de organizações sociais pela FGV, atuando no 3 setor deste 2002. Com experiências anteriores nas organizações Fundação Gol de Letra, Fundação Telefonica e Instituto C&A, desde outubro de 2018 assumiu como Head de Sustentabilidade Cidade Center Norte e do Instituto Center Norte, cuja missão é criar um ambiente de aprendizado e inovação para que pessoas e instituições empreendam soluções capazes de melhorar a vida na Zona Norte de São Paulo.