Voluntariado é amor: conheça ações de amparo aos bebês recém nascidos

O post dessa semana é sobre simplicidade e afeto.

Se o mundo anda complicado demais para se entender, do contrário, pode ser simples demais ser solidário.

Não é novidade que nos gestos simples, sob uma ética do mútuo-cuidado, nós encontramos a humanidade no outro, e em nós. O voluntariado vem sendo essa via de mão dupla desde sempre.

No “baú” de centenas de ações dos parceiros do V2V , (e posso dizer desde já: tem muita coisa mesmo, não deixe de conferir!), encontramos uma ação chamada Projeto Entre Abraços que inspirou esse conteúdo focado no bem estar dos bebês em UTIs Neonatais. Nesse artigo, vou falar de algumas formas em que o voluntariado apoia pais e bebês recém nascidos em situação de vulnerabilidade social.

Por que se voluntariar em UTIs neonatais

De acordo com esse artigo, do Renato, da Eloana e da Zaira, para a revista Bioética de 2007, no Hospital São Lucas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS):

 “o aumento crescente da demanda pelos serviços da UTI neonatal refletiu-se na equipe, motivando-a a buscar na comunidade um grupo de apoio para auxiliar a suprir as grandes carências dessa população, bem como melhorar a qualidade da assistência” (Fiori, Mann e Luft, 2007).

O que é uma realidade em hospitais pelo mundo todo: pouca equipe, muitos bebês recém-nascidos para receberem os devidos cuidados, e pouca disponibilidade da família para estar junto nos primeiros anos de vida.

Essas primeiras impressões da criança no mundo, vão influenciar o resto da sua vida.

Veja alguns desdobramentos desse contexto:

  • A presença dos pais, sobretudo das mães, junto aos prematuros internos nas UTI neonatais é crucial para estabelecer vínculo bebê-mãe-pai nos primeiros momentos de vida, e para a sobrevivência, crescimento e desenvolvimento saudável da criança.   

“Nesse sentido, um bom atendimento na UTI neonatal propicia um impulso inicial para que o bebê se torne, no futuro, um indivíduo adaptado, feliz e produtivo, atingindo o máximo de suas potencialidades” (Fiori, Mann e Luft, 2007).

  • A presença das mães na UTI é condição para que mantenham sua produção de leite a longo prazo. E para o prematuro o leite é vital.
  • As unidades de terapia intensiva neonatal são ambientes estressantes e ruidosos. Há bebês que nascem muito prematuros ou com deficiências e outras doenças. É uma experiência, em certa medida, violenta.
  • Sobre essa necessidade de assistência, muitas das dificuldades são socioeconômicas, a partir da manutenção de um sistema de saúde incapaz de assistir os mais vulneráveis. Nesse sentido algumas necessidades são notadas como:

1) falta de passagens de ônibus para as mães irem diariamente ao hospital;

2) a falta de recursos para as mães se alimentarem durante o período em que permanecem junto a seus bebês na UTI;

3) a falta de fraldas descartáveis e a falta de recursos para aquisição de leite, adequado às necessidades do recém-nascido prematuro após a alta hospitalar, nos casos em que a mãe não é mais lactante. (Fiori, Mann e Luft, 2007).

Dentre outras dificuldades desde o abandono, a depressão pós-parto, e outras contingências que podem ser apoiadas através do envolvimento comunitário.

Algumas formas de apoiar

Um grupo de voluntários pode auxiliar nessa questão de algumas formas. A comunidade entra em cena para garantir, em grupo, que os seus menores recebam o devido zelo. Além de uma característica instintiva de proteção, traz benefícios sem medida para o assistido e para o voluntário que estabelece laços emocionais. Mas como apoiar?

1) Através do afeto

Auxiliar com a condição afetiva da criança, a partir da própria presença e da doação de afeto pelos voluntários, ou de outras soluções paliativas que minimizem a ausência dos pais. Como por exemplo:

A – Um projeto em que os voluntários vão até as UTIs unicamente para oferecerem afeto para os bebês.

“As evidências científicas sobre os benefícios dos programas de afago são escassas, mas os benefícios do toque humano são bem conhecidos. Um estudo citado pela AP, revela que acariciar de forma suave ou colocar a mão em um bebê prematuro reduz os níveis hormonais de estresse. Outros estudos recentes sugerem que o toque pode beneficiar a frequência cardíaca dos prematuros, ajuda-os a dormir e pode até encurtar a estadia no hospital” (Revista Crescer).

Nesse caso, monte uma escala com seu grupo de voluntários, reúna-se com os responsáveis do hospital, e estabeleçam uma agenda de visitas, e também um espaço para trocas entre os voluntários que participam do projeto.

  • O que se aprende nesses momentos?
  • O que eu doo? E o que eu troco?
  • E o que, a partir da minha presença na realidade da UTI, observei de melhorias que podem ser feitas a partir de atitudes do meu grupo de voluntários?

“De acordo com a Associated Press (AP), quando os enfermeiros no Chicago’s Comer Children’s Hospital estão assoberbados com outros pacientes e os pais não podem estar no hospital, avós, estudantes universitários e outros voluntários entram em cena e afagam os bebês, dão-lhes colo, cantam para eles e acarinham-os. “Podemos vê-los calmos, com o ritmo cardíaco diminuindo e as pequenas sobrancelhas relaxadas”, afirma Kathleen Jones, 52 anos, voluntária no hospital de Chicago. “Eles estão lutando tanto e passam por todo este trauma médico. O meu coração se parte um pouco por cada um deles”, revela à AP” (Prematuridade.com)

B – Confecionar e proporcionar artesanatos de crochês ou outro material esterilizado, que simulem uma presença e o cordão umbilical para a criança. Veja esse exemplo de polvinhos Amigurumi. 

Tratam-se de artesanatos envoltos em croché, que podem ser feitos por um grupo de voluntários e cedidos às mães e bebês que demandem esse item que é paliativo, mas é um auxiliar no processo do cuidado e do afeto.

Para quem não sabe, Amigurumis são bichinhos feitos artesanalmente e encontrei aqui um passo a passo completo.

2) Dando suporte

Proporcionar às famílias mais vulneráveis, dos recém-nascidos internos na UTI neonatal, oportunidades de maior permanência junto a seus bebês.

O seu grupo de voluntários podem, a partir de uma conversa com os pais e com as assistentes sociais dos hospitais, perceberem quais são as maiores dificuldades.

Muitas vezes é algum acordo laboral que pode ser mediado com a ajuda de terceiros, outras vezes recursos para se alimentarem e deslocarem nesse período de internação, ou mesmo falta de conforto, e outros itens que podem ser minimizados pela ação voluntária.

3) Dando orientação

Auxiliar na orientação dos familiares nos cuidados com os recém-nascidos durante a internação e após a alta, incluindo educação para a saúde, visando especialmente ao estímulo do aleitamento materno;

4) auxiliando em melhorarias na estrutura física da UTI neonatal

(As dicas de 1 a 4, são de Fiori, Mann e Luft (2007)).

“Os benefícios de um programa de apoio desse tipo são inquestionáveis: a recuperação dos pacientes é mais rápida, os custos de internação são menores e o impacto da alta do bebê sobre a família tende a ser reduzido tanto pelo estímulo à formação do vínculo parental quanto pelo apoio às necessidades práticas da criança – como os casos das fraldas e do leite. O programa também contabiliza resultados positivos entre as voluntárias, que relatam sua satisfação pela missão a que se dedicam”. (Fiori, Mann e Luft, 2007)

Espero que esse post sobre o afeto, zelo, e o carinho tenha despertado um jeito diferente de enxergar o mundo.

E que possa perceber, junto com seu grupo de voluntários, novas maneiras de estar num mundo problemático sem ser parte do problema, mas das soluções.

Gostou dessas dicas? Fazem sentido para o seu grupo de voluntariado?

Não deixe de partilhar sua experiência e impressões sobre a temática.