*por Fábio Risério
O tema Cultura da Integridade é fonte de inúmeras reflexões. As perspectivas possíveis de análises e a riqueza de conteúdos e interconexões são múltiplas e complexas. Falar sobre Cultura de Integridade e a importância do Voluntariado Empresarial sem compreender sua grandeza é um risco. Ser superficial sobre esses temas podem produzir uma visão simplista, genérica, pobre de conteúdo e que não adicionaria valor aos leitores desse texto.
Por isso, me proponho a escrever sem embarcar na mesmice de frases feitas e adicionar o máximo de valor à discussão de temas dessa importância. Missão difícil, mas prometo comportar de acordo. Com este compromisso assumido, vamos ao que interessa:
Um pouco sobre Cultura da Integridade
Você logo verá que para ter êxito na percepção da Importância do voluntariado empresarial para a Cultura da Integridade você terá que ter um conhecimento mais profundo desse tema. Isso significa estar por dentro da gestão da organização, entender a sua governança corporativa, principais posicionamentos, entre outros desafios.
Nesse cenário repleto de denúncias de corrupção, de questionamentos sobre doações eleitorais de organizações e de conflitos de interesses, os aspectos éticos foram introduzidos no discurso dos executivos e passam a fazer parte da pauta das preocupações, decisões e ações das suas organizações. Desde então, definições de Cultura da Integridade não param de surgir e entre elas, temos a nossa favorita, da Carolyn Taylor:
“Cultura da Integridade é o que se cria por meios de mensagens recebidas sobre como se espera que as pessoas se comportem”.
Esse conceito centra-se nas mensagens recebidas. Quais mensagens? Essencialmente as mensagens que são transmitidas pelos comportamentos dos lideres das organizações. São estas mensagens que, enviadas continuamente para todas as pessoas da organização, moldam o seu comportamento. Reforçando o conceito: as mensagens são enviadas continuamente e demonstram o que é valorizado, o que é realmente importante, o que as pessoas fazem para se ajustar para serem aceitas e serem recompensadas.
A cultura da integridade não ocorre de forma separada das demais atividades da organização, incluindo os programas de voluntariado empresarial. Ela é formada por tudo que ocorre na organização, cada decisão, cada comportamento e cada evento de gestão emitem uma mensagem que é interpretada como um reflexo dos valores da organização. É isso que molda o comportamento das pessoas.
Um exemplo prático
Por exemplo, uma organização tem como valor a integridade. Integridade é, portanto, um valor para todas as pessoas que ali trabalham. Isso significa que esse valor será colocado à frente de outras questões. Mas há uma armadilha aqui:
Os valores de uma organização tem prioridade. Eles também valorizam, além da integridade, ser queridos. No momento em que a organização tiver que fazer a coisa certa e ser tornar impopular, seu comportamento vai dizer o que é realmente importante para as pessoas que trabalham na organização.
Em um trabalho de consultoria, identifiquei que uma determinada organização valorizava mais o relacionamento harmonioso entre as pessoas do que a integridade. Esta conclusão veio da cultura da empresa que se refletia, por exemplo, na avaliação de desempenho dos profissionais em atividades socioambientais. A diretoria da organização não gostou muito da conclusão e argumentou que a integridade era mais valorizada que o relacionamento harmonioso. Mas, o comportamento das pessoas dizia o contrário. A cultura é a manifestação do que é realmente valorizado.
Valores são o que valorizamos.
Valores são as coisas que realmente importam.
Cultura é a manifestação do que é valorizado.
Cultura da Integridade é quando esse valor é o que mais importa.
A importância do Voluntariado Empresarial para a Cultura da Integridade
Os aspectos presentes nos programas de voluntariado, como de desenvolver pessoas, de trabalho em equipe, de comprometimento, de honestidade são valores que compõem a Cultura da Integridade. São aqueles que beneficiam o todo e que as organizações gostaria que fossem dos seus profissionais. Esses valores inspiram as organizações. A intenção é tê-los como guia de como as organizações deveriam ser e agir. Eles devem nos dizer o que é aceitável e o que não é.
Mas, como já vimos, os valores são as coisas que realmente importam para as organizações. Nesse sentido, é preciso ter clareza sobre o efeito dos comportamentos das pessoas na construção da cultura da integridade. De todos os componentes, o comportamento é o que demonstra mais claramente quais são os valores de uma organização. São também os que mais frequentemente demonstram desalinhamento entre a cultura desejada e a que é criada. O comportamento de todos os indivíduos e as consequências de sua adoção são a mais poderosa maneira de compreender a cultura de uma organização e o quanto de coerência há entre a cultura desejada, normalmente expressa em documentos e discursos, e a cultura existente.
Um exemplo de incoerência seria uma organização discursar que seu principal valor é a integridade e, ao mesmo tempo, os seus lideres criarem uma série de obstáculos para pessoas que querem participar de atividades voluntárias. Atividades onde estão presentes vários aspectos que compõem a Cultura da Integridade. Esse comportamento fala por si. Transmite uma clara mensagem de que o valor da empresa não é integridade. O efeito disso (discurso e prática incoerentes) na organização é, em geral, negativo.
Se os líderes não são vistos como coerentes entre o que discursam (Valores) e como agem (Comportamentos), a Cultura não será a planejada. O comportamento reflete valores. O comportamento dos líderes é prioridade absoluta. Porque é a mensagem de “volume mais alto” em toda a organização. O comportamento dos líderes da organização impacta imediatamente as pessoas presentes e transmite a mensagem de que aquele comportamento levou aquela pessoa àquela posição. Isso faz outras pessoas se comportarem da mesma forma!
Conclusão
Quanto mais a organização valoriza o seu programa de voluntariado, torná-lo estratégico, mais próximo de sua identidade, estratégias de negócios e desafios ela está transmitindo uma mensagem clara dos aspectos que ela valoriza e, portanto o que ela espera dos seus profissionais. Isto cria a Cultura. Isto cria a Cultura da Integridade.
Fontes:
- FLEURY, Maria Tereza Leme e FISCHER, Rosa Maria – Coordenadores. Cultura Poder nas Organizações. 2ª edição, Editora Atlas, 1992.
- BARRET, Richard. Criando uma organização dirigida por valores. Willis Harman House, 2008.
- TAYLOR, Carolyn. Walking the talk. Building a Culture for Success. Random House, 2005.
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Fabio Risério é Relações Públicas e sócio-diretor da Além das Palavras, consultoria especializada em integridade e sustentabilidade. Atua há mais de 17 anos como consultor em Integridade e Sustentabilidade, com foco em ações estratégicas de agenda de investimento social, voluntariado empresarial, sustentabilidade empresarial, negócios sociais, programa de compliance e gestão de riscos e gerenciamento de crises em organizações como Instituto Ethos, Grupo Promon, Rede Brasileira do Pacto Global/ONU, Nova Engevix Participações e Fundação Alphaville.
Muito bom!!