Tenho percebido cada vez mais empresas preocupadas em trazer para seus colaboradores alguma oportunidade de atuação social. Algumas com grande orçamento e um planejamento bem estruturado, outras de maneira tímida. Mas está claro que, se antes um Programa de Voluntariado era algo exclusivo das grandes corporações, hoje as pequenas e médias também já estão percebendo os benefícios da mobilização social.
No entanto, muitas vezes observo algumas percepções nebulosas ou equivocadas sobre o tema. Então, a ideia aqui é trazer à luz algumas realidades que aprendi ao conversar com nossos clientes e com outras organizações que buscam estimular o engajamento social entre os colaboradores.
1) Ela não só pode beneficiar o negócio, como deve.
Ao contrário das organizações do Terceiro Setor, as empresas têm como principal finalidade a obtenção de lucro. Por isso, suas principais contribuições para a sociedade são a geração de empregos e a oferta de produtos ou serviços de qualidade. Uma empresa dificilmente fará uma ação social que não lhe traga lucro de maneira direta ou indireta porque, na verdade, ela não tem essa obrigação. Portanto, para que o Programa de Voluntariado seja valorizado e receba mais recursos, uma ação de engajamento social deve necessariamente trazer algum retorno financeiro, ainda que indireto.
Algumas formas de esses resultados acontecerem:
- Ao gerar impacto real na comunidade, conquistando a simpatia do público, gerando mais mercado e aumentando as vendas;
- Ao deixar o clima organizacional mais leve ou desenvolver competências, aumentando o engajamento e produtividade dos colaboradores (esse assunto, aliás, será tema deste evento);
- Ao reduzir os custos de processo internos da empresa. Por exemplo, evitando o desperdício de água e energia, reciclando papéis ou evitando o uso de copos descartáveis.
2) Uma ação pode ter como público-alvo os próprios colaboradores em vez da comunidade.
Por oferecer plataformas de engajamento social para empresas, sempre acabo ouvindo muitas histórias sobre as iniciativas sociais que envolvem colaboradores. Uma delas me deixou bastante surpresa, mas em rodas de bate-papo com gestores de voluntariado, percebi que é bem mais comum do que eu pensava.
O que aconteceu foi que a empresa promoveu uma campanha do agasalho, pedindo aos colaboradores que trouxessem casacos, cobertores e acessórios de inverno. Ao longo do período de arrecadação foram registrados aumentos constantes de ítens doados, até que em dado momento o número total começou a reduzir. Sim, alguns colaboradores estavam pegando as doações para si. Depois do meu espanto inicial, pensei um pouco mais: se a empresa possui um perfil de colaborador que precisa de agasalhos doados, por que não promover uma campanha voltada para eles?
Na onda da Economia Solidária, pode-se promover uma feira de troca em que cada um leva o que estiver sem uso em casa, e os colegas pegam para si o que interessar. Os objetos restantes podem ser doados a uma organização.
Este foi um exemplo, mas há vários outros: pode-se estimular a carona solidária, atividades esportivas em grupo, o apoio a algum colaborador que está passando por uma situação difícil em sua vida pessoal, uma biblioteca compartilhada… observe quais as maiores necessidades do seu público e procure soluções criativas!
3) Mobilizações já acontecem entre os colaboradores mesmo que a organização não estimule – e isso é maravilhoso.
De acordo com este estudo sobre voluntariado e engajamento feito pela Santo Caos, 32% dos voluntários atuam através de uma instituição religiosa, 20% através de ONGs, 21% através de grupos organizados e 33% atuam de forma independente. Em sua empresa, é bem provável que haja uma proporção semelhante, ainda que a companhia não possua nenhum tipo de Programa de voluntariado.
E o que isso significa?
Esses números mostram que há um potencial imenso de pessoas querendo fazer algo bacana pela comunidade, e que por isso têm grandes chances de aderir às atividades promovidas pela empresa. Mas, mais do que isso: há um potencial imenso de colaboradores dispostos a promover ações e estimular os colegas, trazendo mais oportunidades de voluntariado para a organização.
No entanto, isso só irá acontecer se a empresa estiver preparada para apoiar estas atividades de alguma forma. Caso contrário, os voluntários não terão nenhum motivo para trazer suas iniciativas pessoais para dentro da empresa. E isso nos leva ao próximo tópico:
4) Mesmo colaboradores engajados socialmente podem ver pouco valor no Voluntariado Corporativo.
Esta situação tende a acontecer se a companhia não tiver uma política de apoio às iniciativas dos colaboradores. Ao contrário do cenário que descrevi acima, nesse caso o colaborador não vê sentido em participar de algo promovido pela empresa se já atua por conta própria em uma causa que considera importante.
E como evitar que isso ocorra?
Assim como quer ter sua causa valorizada, a empresa precisa mostrar que vê importância no que os colaboradores já fazem. A principal forma de fazer isso é dando voz a eles. Esta é, de fato, uma postura imprescindível para o sucesso do Programa.
Além disso, também é possível estimular de maneira bem concreta. Dependendo do porte do Programa, do orçamento disponível e do tipo de negócio, existem diversas possibilidades:
- Ceder horário de trabalho para planejamento ou mesmo para execução da ação, ainda que com um limite pré-acordado;
- Fornecer materiais ou serviços que estejam relacionados à sua área de atuação; uma empresa de transportes pode ceder um ônibus ou van, por exemplo;
- Oferecer um espaço para que os colaboradores divulguem as iniciativas e peça a ajuda dos colegas. Aqui na V2V, a maioria dos nossos clientes criou uma área de “iniciativas independentes” em seus portais de voluntariado, justamente com esse propósito.
- Reconhecer e homenagear colaboradores que se dedicam a uma causa, por exemplo, entrevistando-o para uma matéria na intranet.
5) Muita gente prefere esconder que faz algo legal.
Você já deve ter ouvido o ditado “a caridade deve ser anônima, do contrário é vaidade”. Embora seja bem-intencionado, esse pensamento impede que algo de muito bom aconteça: o exemplo e a inspiração que uma boa ação pode trazer aos outros.
Especialmente nas empresas, essa postura de não compartilhar o resultado das ações também dificulta o acompanhamento dos indicadores de sucesso do incentivo ao engajamento social. Saber quais foram os resultados atingidos pelas atividades promovidas é fundamental para avaliar o impacto do Programa na comunidade.
Por tudo isso, é fundamental incentivar que os colaboradores compartilhem suas experiências e o resultado das ações de que participaram. Esse estímulo pode ser feito através de gincanas, concursos culturais ou ações de reconhecimento. Há algum tempo, reunimos neste eBook alguns cases e ideias para homenagear os voluntários.
E você, percebe estas situações acontecendo na sua empresa? Tem algum outro item a acrescentar? Deixe seu comentário!
2 comentários sobre “5 fatos que você não sabe sobre Mobilização Social nas empresas”
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