Por Silvia Maria Louzã Naccache*
Os desafios para 2019 podem não ser poucos e nem fáceis e as pesquisas sugerem: os brasileiros estão menos solidários! Penso, à partir de minha análise, que a longa crise política e econômica que o país atravessa afetou negativamente as atitudes solidárias dos brasileiros. Somou-se a isso uma falta de confiança em relação ao futuro, uma sensação de impotência e desesperança, provocando um desânimo e falta de vontade de participar e contribuir para construir coletivamente uma sociedade melhor.
Observo que os brasileiros estão mais individualistas e focados em seus próprios problemas e o Índice de Solidariedade de 2018, a meu ver, mostrou e comprovou!
Desafios para o Voluntariado em 2019
O World Giving Index ou Índice de Solidariedade é uma pesquisa anual, realizada desde 2009, pelo Instituto Gallup com mais de 150 mil pessoas entrevistadas em 146 países participantes, e cobre cerca de 95% da população do mundo (5,2 bilhões de pessoas).
Nela se avalia o ranking global de solidariedade segundo três tipos de doação: 1)ajuda a um desconhecido; 2)doação de dinheiro e 3)doação de tempo. O ranking de solidariedade é calculado então sobre o resultado da média simples das respostas a perguntas como:
– No último mês você ofereceu ajuda a um desconhecido?
– Contribuição financeira para organizações da sociedade civil?
– Doação de tempo como voluntário para uma organização?
Queda no número de pessoas voluntárias
No Brasil as entrevistas foram presenciais, e aconteceram entre maio e junho de 2017, onde foram entrevistadas pessoas a partir dos 15 anos de idade, e de acordo com suas respostas, caiu da posição 75 para a 122 no ranking global. Como exemplo de alguns dados, na porcentagem da população entrevistada, 43% ajudou a um desconhecido (contra 54% em 2016); 14% doou dinheiro (contra 21% em 2016) e 13% fez trabalho voluntário (contra 20% em 2016).
Ainda assim estamos entre os 10 primeiros colocados no indicador de população total de voluntários, com o número de 21 milhões de voluntários, ocupando a sétima posição, em 2016 estivemos em quinto lugar com 33 milhões de pessoas.
Resiliência e seriedade
Temos ainda alguns outros desafios para enfrentar como: consolidar a vocação transformadora do voluntariado por meio de práticas contínuas e permanentes, utilizando de indicadores adequados, estabelecendo metas coerentes e alcançando resultados quantitativos e qualitativos.
Também temos o trabalho de conscientizar que o cenário não é necessariamente feliz, que poderá não ser simples e fácil, que apesar da emoção e bem estar que ele promove, será necessário e fundamental o comprometimento com seriedade e responsabilidade.
Assim, temos pré-conceitos e paradigmas para quebrar como “voluntariado é sacrifício” (não é, mas exige resiliência), “em voluntariado tudo é de graça” e “basta boa vontade”.
Boas práticas de gestão
E por fim, ao meu ver, talvez o maior de todos os desafios seja a gestão eficiente em organizações da sociedade civil, espaços e de projetos que recebem voluntários. Temos uma carência de programas organizados, com vagas e oportunidade de trabalho voluntário bem definidos, e ferramentas de gerenciamento incluindo orçamentos, liderança, e comunicação.
As estratégias ali de ações de reconhecimento e de valorização do trabalho dos voluntários, bem como o compartilhamento de resultados também precisam ser aprimoradas. E claro, tudo isso adaptado aos novos modelos de atuação e às diferentes expectativas das pessoas de diferentes gerações através de ações mais criativas, variadas e inovadoras.
Então não há oportunidades?
Agenda Global e novas formas de atuar como forças do voluntariado em 2019
Mas não só de desafios e desafetos vive o Voluntariado neste final de mais uma década do novo milênio: tendências tem atraído jovens como o voluntariado digital, online ou à distância, e o reconhecimento do voluntariado como uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento de habilidades e competências. Cabe aqui também o conceito das férias voluntárias e do “volunturismo”.
A tecnologia nos conectou com agendas que vão além das do entorno, das agendas locais ou do nosso país tais como a Garantia dos Direitos Humanos, Estatuto do Idoso, Estatuto de Defesa da Criança e do Adolescente, Prevenção e Diagnóstico Precoce de Doenças, Promoção da Saúde, Bem Estar e Qualidade de Vida, Inclusão, Igualdade de Gênero, Empregabilidade, direitos LGBT+, etc.
Temos hoje uma grande chamada que certamente é a grande oportunidade de virada nesse panorama do voluntariado no Brasil: a Agenda do Planeta, nossa Agenda para 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Os ODS são uma excelente oportunidade para cada um de nós cidadãos participarmos na construção de um planeta melhor, para cada um de nós aqui e agora e para as gerações futuras, por criarem um ambiente político favorável à defesa das causas das organizações, que muitas vezes encontram dificuldade de serem reconhecidas na sociedade, e que, agora, podem ser apresentadas a partir de uma nova perspectiva, ampla e global.
Além disso, os ODS trazem consigo prazos, indicadores e metas concretas. São mais de 160 indicadores e mais de 300 metas e a chamada é: não deixar ninguém para trás. É uma agenda de cooperação, participação cidadã e colaboração com organizações, empresas, governos, voluntários e demais parceiros que pode encher de potencial as iniciativas de voluntariado.
Solidariedade Contagia
De acordo com o pesquisador americanos Martin Nowak, a gentileza e a solidariedade só se espalham pela sociedade quando os mecanismos que permitem essa disseminação são fortes o suficiente. Por exemplo, se o indivíduo que ajuda o próximo ganhar uma reputação boa o bastante para que outros decidam ajudá-lo, então, a gentileza se espalhará naquele grupo.
“Se esse mecanismo não for forte o suficiente, a cooperação vai perder e a indiferença vai ganhar” Martin Nowak
Vocês se lembram do poder dos vídeos que em 2014 celebridades e anônimos viravam baldes de água com gelo sobre as próprias cabeças inundaram as redes sociais?
A campanha, que buscava incentivar doações para pesquisas sobre esclerose lateral amiotrófica, se espalhou por vários países como uma onda de boa ação e contribuiu para descobertas científicas importantes. Esse sucesso do “desafio do balde de gelo” é um exemplo de como a generosidade pode ser contagiosa.
Que venha uma onda forte de solidariedade em 2019!
Que o Voluntariado venha com força total, contagiando e influenciando como uma tendência que veio para ficar!
* Silvia Maria Louzã Naccache é empreendedora social, consultora e palestrante nos temas de voluntariado, responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e terceiro setor.
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Um comentário sobre “Desafios e oportunidades para o voluntariado em 2019 no Brasil”
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