Mais do que nunca o tempo é de dar extrema importância para a transparência. Se você é uma entidade do terceiro setor, ou da área de uma empresa que se relaciona com projetos sociais, as práticas de transparência são um diferencial indispensável para as parcerias.
Por esse motivo, esse artigo é para lembrar o quanto é útil fomentar práticas de ‘gestão transparente’ junto aos seus parceiros, e também dentro da sua estrutura.
O que é transparência?
“A transparência, em oposição à privacidade, é a nova questão ética do século XXI (Capurro, 2005, cit. por Vaccaro & Madsen, 2009a)”.
A transparência é um valor indispensável. Ela previne a corrupção, e dá maior credibilidade a uma entidade perante os seus investidores e acionistas.
Sobre o Brasil, não precisamos mais de uma cartilha para sabermos que possui um dos maiores índices de corrupção que se conhece. Mas se é curioso(a) sobre esses assuntos, veja o Índice de Percepção de Corrupção no Mundo em 2019, bem aqui nesse link da Transparência Internacional.
Contudo a transparência pública no nosso país é um direito do cidadão.
E aqui nesse portal do senado, algumas informações relevantes sobre esse direito estão disponíveis. Bem como no Portal da Transparência da Controladoria Geral da União.
Por que transparência?
Se você é uma ONG ou uma empresa que promove ações sociais, deve estar se perguntando: por que ter práticas de transparência?
Como já dito, as más práticas de gestão de recursos, corrompidas com desvios de verbas públicas e privadas, tem desperdiçado e escoado imensos recursos que eram para fins sociais para os bolsos de “uns e outros”.
Essa falta de monitoramento dos recursos, os impactos negativos desde o desperdício até a manutenção de assimetrias sociais, faz com que investidores se recusem a investir em alguns agentes.
Se você tem agora que lidar com o tema da transparência você certamente é um desses agentes: que demandam ou direcionam recursos privados para fins e causas públicas. E aí não tem jeito: a desconfiança, que é um efeito colateral concreto da falta de transparência, poderá afetar a sua operação.
Possíveis consequências da falta de transparência
De fora da empresa, uma instituição social pode ter o seu volume de doações e de parcerias minados por alguma falta de proatividade na transparência. Colocando em risco a continuidade de ações.
Do lado de dentro, um projeto super querido pode ser descontinuado ou atrasado até que passe por todas as análises que as exigências e os processos de compliance e de doações exigem.
E pensemos bem: se já está fácil reduzir um investimento social privado, estará mais fácil ainda descontinuar qualquer projeto que dê a mínima desculpa para tal.
Não é momento de “dar bobeira” ou de não aderir aos padrões de gestão transparente. Um sinal que pode fazer um projeto social ser questionado ainda mais nos seus ‘comos’ e ‘porquês’.
Sobre boas práticas
Existem boas práticas que você pode adotar, ou mesmo estimular que suas organizações parceiras, do seu programa de voluntariado por exemplo, adotem em sua rotina gerencial.
Há um estigma comprovado pela prática de que muitas das organizações sociais são extremamente focadas em sua causa e pecam na hora de utilizar ferramentas de gestão.
Esse discurso nem sempre é verdadeiro, e você de dentro de empresa, pode contribuir para o fim desse estigma, ao se posicionar que se relaciona com entidades que aprendem e que ensinam muito.
Afinal, gerir uma organização social é muito diferente de gerir uma empresa, a começar que a segunda tem recursos e a primeira muitas das vezes não tem nenhum.
Sendo assim, o que você pode adotar ou estimular que se adote?
Dicas para demonstrar a transparência da sua organização (Essas dicas foram retiradas do site Filantropia e faço aqui um desenvolvimento).
5 Práticas de transparência
Vamos a elas, quais são as dicas para evitarmos problemas em decorrência da falta de transparência em projetos sociais?
1- Realizar ações de planejamento estratégico, deixando claras as ações a serem colocadas em prática:
Enquanto empresa que investe, você pode facilitar ou financiar cursos de gestão para representantes de entidades sociais, através de parceiros especializados ou através das competências gerenciais de seus colaboradores voluntários.
Enquanto uma entidade social, você pode e deve investir na sua clareza de rotas, de causa e de foco, sabendo e deixando muito claro em qual (ou quais) problema(s) você está atuando, e como você está fazendo para a contribuir para a redução desse problema.
É importante entender a relevância da sua razão de existir, antes de dar publicidade e convidar que outros agentes colaborem com você.
2- Publicar balanços sociais feitos para demonstrar os gastos da organização;
A maior clareza e publicidade possível em seus gastos. Enquanto empresa, você pode apoiar uma entidade social com a sua gestão financeira e contabilidade. Existe mesmo a possibilidade de sua equipe de contadores partilharem um pouco de sua competência nos exercícios financeiros anuais de uma entidade parceira.
Muitas vezes no exercício de minhas funções eu tive que orientar organizações sociais sobre como retirar declarações de isenções fiscais, prestar contas pelo seu título de Oscipe (processo que já até não existe mais) dentre outras práticas.
E você enquanto dirigente de uma organização social tem o papel ou de pedir ajuda ou de fazer os seus balanços da forma mais certinha possível.
Tentar enrolar, dar as voltas, superfaturar pedidos de doações nunca vão passar ilesos pelas áreas de orçamentação dos doadores, e pior do que isso, podem gerar uma péssima impressão.
3 – Promover auditoria externa;
Se você é uma empresa passará por isso tanto quanto exige a sua área de atuação. Além disso se tem capital aberto, é global, e integra índices de sustentabilidade e transparências, muitas vezes passará por mais que uma auditoria – de uma área interna, mas externa à sua, ou de entidades externas.
O que você pode fazer é ter tudo organizadinho e muito bem evidenciado de como a sua relação com as entidades sociais, no seu programa de voluntariado ou de investimento social, é estritamente técnica e não pessoal. De forma organiza mostrando a envolvência interna de suas áreas jurídicas, fiscais, contábeis e de compliance.
Enquanto entidade social, você pode demandar essas auditorias de forma pró-bono de empresas de auditoria ou de contabilidade. Muitas delas já fazem isso.
4 – Ter as portas abertas para quem quiser conhecer a organização e seus projetos;
Dar transparência prática para o que se realiza. Muitas empresas financiadoras possuem o projeto de visitas como parte de monitoramento do uso do recurso direcionado.
Assim também com programas de voluntariado, você possibilita que um grupo de parceiros estejam sempre das suas instalações apoiando e partilhando das derrotas e possibilidades.
Sob o famoso “quem não deve não teme”, estar de portas abertas a qualquer momento é um sinal de transparência.
Da parte das empresas saber conhecer a realidade das entidades sociais com empatia é também um dever. Em alguns casos é importante lembrar que um financiador social não pode invadir uma entidade social ou mesmo ser inquisidora.
5 – Manter os colaboradores sempre informados sobre as atividades realizadas.
Manter as pessoas interna e externamente atualizadas sobre o que vem sendo feito, as vitórias, as correções de rota, porque uma promessa ou um projeto não puderam ser cumpridos, dentre outras informações relevantes gera uma relação de confiança com todos os seus parceiros.
A constância no processo de monitoramento e reporte de que está zelando pelos objetivos, riscos e processos é um indicador de sucesso nas parcerias que realizará.
As vezes é sabido que o sufoco do dia a dia muitas vezes não permite práticas como essas, mas vale a pena tentar, pois justamente práticas como essas de gestão, e mesmo a gestão de tempo permitirão que você possa respirar melhor e atingir os seus objetivos com mais técnicas, recursos transparentes e sem transtornos.