Os valores do voluntariado são os mesmos que pautam o exercício da cidadania mais ativo e consciente. Veja um conteúdo exclusivo produzido pelo Adriano Andreghetto* para este blog, sobre como cidadãos e cadeias inteiras de fornecimento podem se ajustar para que o consumo e a produção de alimento tragam cada vez mais impactos positivos. Informações como estas poderão inspirar também o seu programa de voluntariado, quer no estímulo aos hábitos de consumo sustentável da comunidade, quer no fomento de uma cadeia produtiva local.
Veja o que diz o Adriano:
De acordo com o Google, a palavra sustentabilidade bateu um recorde de procura em 2021. De fato, não é uma grande surpresa. Os hábitos de consumo têm se alterado e cada vez mais consumidores estão à procura de maneiras de mitigar o seu impacto no meio ambiente. Sendo o setor agroalimentar um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas esse não escapa à preocupação do consumidor com a sua “pegada ambiental”.
A longa distância do campo à mesa
A maior parte dos pratos de comida que montamos demoram mais do que o tempo de cozimento e preparo para serem feitos. Muitas vezes não levamos isso em consideração, mas o caminho a se percorrer costuma ser longo e custoso, especialmente para o meio ambiente.
Há cada vez mais cidades até chegarmos ao campo. Os alimentos vêm cada vez de mais longe e as novas gerações que vivem nos centros urbanos têm perdido este contato com a produção de alimentos, com o campo, com o cultivo do que comemos.
No entanto, uma tendência impulsionada durante a pandemia tem mostrado o interesse dos consumidores em reaproximar o campo da mesa, e parece ter vindo para ficar.
O Fórum Econômico Mundial aconselhou países e consumidores sobre a “necessidade pós-COVID” de apoiar sistemas alimentares locais com cadeias de suprimentos mais curtas, justas e limpas que atendam às prioridades locais. Há um movimento de aproximação com o produtor rural, uma preocupação por parte do consumidor em causar o menor impacto ambiental possível, de forma a alimentar a atual geração sem comprometer a qualidade de vida das futuras gerações.
“as novas gerações que vivem nos centros urbanos têm perdido este contato com a produção de alimentos, com o campo, com o cultivo do que comemos”.
O Comer-Local e os benefícios para o consumidor
É difícil definir o movimento do comer-local (do inglês eat-local). Local não tem uma definição única. Para a maioria das pessoas, no senso comum, significa alimentos cultivados ou produzidos relativamente perto de onde vivem, de sua região.
Alimentos de origem local são normalmente colhidos no estágio ideal de maturação e são consumidos logo em seguida, tornando-os mais frescos e nutritivos, trazendo um amplo benefício ao consumidor. Para além disso, há uma criação de senso de comunidade e o consumidor passa a colaborar na redução da cadeia de suprimentos dos produtos agrícolas, passa a consumir produtos sazonais e com isso contribui para um sistema alimentar mais sustentável.
O movimento tem ganhado força principalmente nas vendas diretas ao consumidor, e é amplamente centrado em feiras, lojas locais, mercados de agricultores e lojas agrícolas que compram ou fornecem alimentos de produtores e agricultores.
Dicas e exemplos do que fazer:
Alguns grupos de produtores comercializam suas cestas de frutas e legumes via Facebook ou mesmo através de aplicativos que foram desenvolvidos para ajudar a cidade a se comunicar com o campo. Há ainda clubes de assinatura com entregas de cestas semanais ou quinzenais, como o desenvolvido pelo Eu Orgânico.
O conhecimento e o envolvimento com o que comemos podem estimular a escolha do alimento que é produzido na região. Isso é especialmente verdadeiro quando os consumidores podem falar diretamente com o produtor, por exemplo, em um mercado de agricultores, ou obter informações sobre a origem dos alimentos e métodos de produção, como se são criados ao ar livre ou orgânicos. Diferente do supermercado, neste formato o produtor tem um rosto, uma história, um nome e essa aproximação humaniza a relação que temos com o alimento que será consumido.
Os produtores locais como protagonistas
O consumo local cria fidelidade do cliente e importantes conexões humanas dentro das comunidades, o que é importante em tempos de crise. Em todo o mundo, muitos agricultores assumiram o controle de sua própria distribuição, comercializando os seus produtos e cestas de alimentos com os produtos da estação. Com as comunidades adquirindo alimentos de agricultores locais, o dinheiro permanece dentro da comunidade, ajudando a sustentar os produtores locais e suas famílias.
Cortar o intermediário por meio de vendas diretas torna a produção em menor escala mais viável e mantém os negócios locais e as ruas comerciais funcionando. Há maior diversidade, não apenas nas fazendas e campos, mas também na economia, com novas “rotas” de comércio. Um relatório recente sobre os benefícios da alimentação local da New Economics Foundation estima que para cada £ 1 gasto na rede local de alimentos Growing Communities em Londres, mais £ 3,70 são gerados em valor social, econômico e ambiental.
Alimentos de origem local são melhores para o meio ambiente
Seja na embalagem, processamento, transporte ou distribuição, a distância percorrida pelos alimentos entre a produção e o consumo tem um impacto ambiental em cada parada da cadeia de abastecimento. Distâncias mais curtas entre produtores e consumidores estão associadas a menos impactos de carbono e menos desperdício. A produção local também cria maior responsabilidade entre os produtores, o que significa que eles estarão mais propensos a se envolver em práticas ambientalmente responsáveis.
Para além disso, há o fator biodiversidade. Pequenas fazendas locais cultivam uma variedade de frutas e vegetais (também conhecida como policultura), enquanto fazendas corporativas maiores cultivam menos variedade e geralmente se concentram em apenas uma cultura (também conhecida como monocultura). Ter variedade em suas lavouras é uma importante prática de sustentabilidade, pois protege contra doenças, cria equilíbrio e protege a biodiversidade da terra e do solo. Além disso, preserva um grande pool de genes agrícolas, o que é importante para a vida útil das culturas a longo prazo.
Local – uma pequena palavra cheia de significado
O movimento de apoio aos produtores locais não parece ser uma tendência passageira ou uma jogada de marketing sofisticada. É uma escolha social que vai muito além da economia, e de uma resposta ao momento da pandemia.
A produção local de alimentos é mais importante agora do que nunca. O fornecimento local de alimentos reduz a ameaça de choques na cadeia de abastecimento, ao mesmo tempo em que oferece uma infinidade de benefícios sociais, econômicos, nutricionais e ambientais para consumidores, produtores e suas comunidades. Uma relação que pode beneficiar a todos os envolvidos e o planeta como um todo.
* Adriano Andreghetto – Consultor de Marketing Digital com foco no setor Agroalimentar e Turismo e professor no ESTG (Portugal). É formado em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo, e é Mestre em Marketing Digital pela Universidade Europeia (Lisboa). Durante sua carreira já trabalhou com projetos nas áreas de sustentabilidade e desperdício de alimentos, com projetos em Portugal, Suíça e Alemanha. Com mais de 10 anos de experiência nas áreas de Marketing, Comunicação e Marketing Digital, vive em Portugal desde 2017 e é atualmente sócio da agência GOMO Digital.