10 tendências para o voluntariado corporativo em 2023

Uma publicação especial em comemoração ao Dia Internacional do Voluntariado.

** Por Silvia Naccache e Bruno Morais

Quais são as tendências que podem influenciar o voluntariado corporativo em 2023?

Compreender os desafios, as tendências e oportunidades do macroambiente será fundamental para os gestores de ESG, que pretendam adequar, assertivamente, sua atuação às mudanças no contexto global e local.

Veja neste post comemorativo para o Dia Internacional do Voluntariado o que analisamos de tendências, e como as associamos ao voluntariado corporativo.

Esperamos que este exercício de conteúdo, feito à quatro mãos, inspire e oxigene as práticas da sua empresa.

As tendências de mercado para 2023 e o voluntariado

De acordo com o estudo de Tendências de Mercado – 2023, feito pelo Sebrae, estarão em alta no mercado os contextos tecnológicos, as ações de consciência ambiental, os clubes de vendas, os serviços de apoio à saúde, o delivery e os infoprodutos.

Ao olhar para cada uma delas, identificamos oportunidades para o universo do voluntariado, como agente adaptável às mudanças, capaz de surfar nas ondas de inovação, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentável.

1. As tendências de tecnologia

Na área da tecnologia, o estudo do Sebrae aponta a tendência da redução da presença omnichannel na comunicação das marcas, ou seja, uma indicação para o uso mais assertivo de canais com os clientes, priorizando aqueles em que o público “realmente se faz presente”, e o atendimento da demanda se faz eficiente.

1.1. As tendências da tecnologia e o voluntariado

Transpondo para a realidade dos programas de voluntariado corporativo, está a tendência de redução de canais.

A dica para 2023, é não dispersar a comunicação em múltiplos meios, mas conseguir compreender qual é o canal mais funcional e preferido pelo time de voluntários, e então focar nele.

Quem decide é sempre o usuário, e poderá ser por um canal institucional corporativo, ou outras alternativas, como os grupos de redes sociais e os portais de voluntariado.

Avanços tecnológicos que já geram resultado:

Além disso, a realidade aumentada e o metaverso avançam sobre as nossas vidas, e o voluntariado pode tirar partido disso. Um exemplo são os hospitais que já levam óculos de realidade virtual para as crianças e jovens hospitalizados

2. O crescimento da consciência ambiental

A COP27 acabou de ser concluída, e as negociações foram duras na criação de compromissos entre os países, especialmente no apoio dos mais desenvolvidos aos menos desenvolvidos. Não por um bom motivo: a questão climática e ambiental permanece iminente em 2023, e, cada vez mais, com o tom de emergência.

De acordo com o estudo do Sebrae, a prática do upcycling continua crescendo no mercado, ao inspirar negócios sustentáveis nas cadeias de reaproveitamento.

“Materiais e resíduos podem ser comercializados ou trocados entre empresas parceiras, doados, reaproveitados em novos processos produtivos, convertidos em bioenergia etc. Uma delas é a moda upcycling, que vai além dos brechós tradicionais, segmento em que a ideia é reaproveitar materiais já existentes como tecidos, estofados, roupas e alguns outros que são classificados como sobras, ou mesmo sucatas para transformar em roupas novas, geralmente feitos à mão. Outro nicho de mercado com grande potencial de crescimento, são os cosméticos naturais feitos de forma sustentável e que respeitam a natureza”. (Sebrae 2022).

2.1. Tendência socioambiental e o voluntariado

Por meio dos programas de voluntariado corporativo, a sua empresa pode promover negócios e oportunidades na lógica do upcycling:

  • Estimulando a criação e o desenvolvimento de cooperativas que produzam com base no upcycling, levando em consideração, para isto, os talentos e recursos que já existam nas comunidades parceiras;
  • Estimulando boas práticas de reaproveitamento dentro da cadeia de valor, de modo que os resíduos gerados possam ser reaproveitados por parceiros no empreendimento de negócios sociais.  
  • Estimulando o upcycling  junto às competências dos voluntários, ao levarem para as comunidades e organizações sociais conhecimentos de eficiência energética, de reaproveitamento, e administração sustentável.

3. As tendências nos cuidados com a saúde

O estudo aponta a atenção na área da saúde mental e do apoio à população que envelhece.

3.1. O voluntariado no apoio à saúde mental

O voluntariado,por si só, já é uma prática que estimula a saúde mental, pois as pesquisas provam que fazer o bem faz bem .

Além disso, poderá ainda ter a saúde enquanto causa ao promover:

Ações de sensibilização e informativas com dicas de práticas saudáveis que possam ser adotadas por empresas e pessoas;  

Disponibilizar atendimento profissional para populações específicas, por meio de parceiros, e dos canais de acolhimento como o Centro de Valorização da Vida (CVV).

3.2. O voluntariado na assistência à população idosa

O voluntariado pode desenvolver ações com foco na população idosa, que em geral tem a ver com:

  • O combate ao isolamento e aos abusos;
  • Proporcionar melhorias na qualidade de vida e bem-estar;
  • Possibilitar que idosos façam trabalho voluntário, compartilhando conhecimento e competências acumuladas.
  • Viabilizar o contato entre gerações, a que chamamos de intergeracionalidade, como, por exemplo, ações de voluntariado que liguem crianças de uma creche de escola pública e idosos, estimulando o respeito e a ajuda mútua.

4. As tendências dos clubes por assinatura junto ao voluntariado

Crescem os clubes por assinatura, sendo que livros, bebidas, alimentos e produtos de higiene pessoal são os segmentos de maior destaque do setor.

O que são clubes por assinatura?

Um clube de assinatura é uma empresa que entrega produtos todo mês (quinzenal, semanal etc.) para seus associados mediante um pagamento recorrente. Esse tipo de negócio está em alta na economia graças à comodidade e experiência de compra diferenciada.

Inspirados pelos clubes, por meio do seu programa corporativo, você pode criar:

  • Um clube de solidariedade, no qual se paga com uma cota pré-fixada mensal de tempo, e recebe todo mês uma cesta de tarefas solidárias para ser executadas de acordo com as suas preferências.
  • Um clube de doação, em que se investe uma cota fixa mensal, e depois, uma curadoria de causas direciona os recursos do fundo do clube e reporta os resultados para os doadores.

Desta disponibilização de bolsas de tempo solidários também nascem tendências de criptomoedas sociais, como banco de competências voluntárias a ser disponibilizadas e trocadas.

5.  Delivery e a atenção para as garantias de direitos trabalhistas

O delivery é um setor que se mantém em crescimento, especialmente o de alimentos. E dentro deste nicho existem outros a serem explorados em 2023, como o de marmitas para quem tem alguma restrição alimentar.

O voluntariado e a tendência do delivery?

Sim! É possível os voluntários agirem no contexto desta tendência, uma vez que há necessidades que surgem com o crescimento dessas atividades, notadamente a informalidade.

Cooperativas de estafetas e cozinheiros informais

Por meio de um programa corporativo bem estruturado, a sua empresa pode estimular um trabalho de fortalecimento cooperativo com toda a rede de profissionais precarizados com o crescimento do movimento delivery.

O trabalho pode fornecer dicas de empreendedorismo, de formalização, de garantia e luta por direitos.

Além disso, ao cruzar esta tendência com a tendência número 4, a dos clubes por assinatura, pode fomentar uma cadeia sustentável de recolhas e entregas de bens para fins de doação.

6. As tendências entre os produtos online

De acordo com o estudo do Sebrae, os produtos de informação criados e distribuídos em formato digital, que geralmente são cursos online, mantém-se como tendência, e versam sobre uma ampla gama de tópicos:

  •         Aprender um idioma;
  •         Como usar um software;
  •          Dicas de viagem;
  •         Preparar um certo tipo de receita;
  •          Tocar um instrumento.

“É um mundo cheio de possibilidades. O vídeo é a principal ferramenta para a comunicação na era pós pandemia. Uma das principais vantagens de criar um produto digital é que os lucros podem ser escaláveis, porque as oportunidades de vendas pela internet são muito maiores do que nos cursos presenciais”.

6.1. O voluntariado de competências e os infoprodutos

O voluntariado de competências realizado de forma online é um infoproduto solidário. Por meio dele, conhecimentos e habilidades são, em vez de vendidos, partilhados.

Permanece, portanto, para 2023, a tendência de criação de um banco de cursos de voluntariado de competências, que partilhe gratuitamente, para as populações vulneráveis, conteúdos, principalmente, profissionalizantes. 

Dentro do formato de voluntariado de competências cresce a tendência das mentorias, como um acompanhamento mais próximo entre os voluntários mentores e pessoas beneficiadas.

7. A pauta da ESG e o alinhamento à Agenda 2030

A pauta ESG se consolida enquanto estratégia e ferramenta de gestão nas empresas, e o voluntariado corporativo se materializa, principalmente no Brasil, como uma entrega material do fator S (Social).

Por isso, as empresas estão cada vez mais se posicionando em relação aos seus contributos para a Agenda 2030,  e em como os seus negócios estão alinhados, a fim de contribuir para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Vale lembrar que diante da crises política e econômica, os ODSs prioritários no nosso país tendem a ser:

  • ODS 1 e 2: Priorizar a erradicação da fome e da pobreza;
  • ODS 4: Garantia a uma educação de qualidade que propicie equidade e conhecimentos sobre cidadania;
  • ODS 8: Fomento ao trabalho digno e crescimento econômico;
  • ODS 10: Redução das desigualdades como um todo.

8. Diversidade e direitos humanos como foco

Os temas: gênero, raça, tolerância religiosa e política permanecem em alta. É preciso recuperar algumas pautas e restabelecer um ambiente de respeito.

As diversas crises políticas em nosso país pedem um posicionamento do setor privado em relação a esses temas.

Na medida em que os grupos minoritários se organizam para marcar os seus direitos, as empresas percebem que a diversidade traz uma riqueza enorme para todo o seu ecossistema produtivo.

Garantir os direitos das minorias e o respeito à diversidade é um condicionante para o alcance da Agenda 2030.

9. As tendências entre campanhas

9.1. Campanhas emergenciais e humanitárias

As crises humanitárias tendem a crescer, quer sejam provocadas por questões climáticas, quer sejam por questões geopolíticas como as imigrações, os refugiados políticos e de guerras.

Os programas corporativos fazem bem em estar preparados para lidar com situações de emergência, agindo prontamente nos momentos de catástrofes e crises, mas também, fortalecendo o suporte nos casos mais longos e crônicos, como o apoio e acolhimento de refugiados.

Basicamente podemos dividir as campanhas emergenciais e humanitárias em duas frentes:

  1. As ações humanitárias de reação são às crises e catástrofes, como as enchentes, incêndios, terremotos, acidentes ambientais, pandemias e outros. Desdobrando-se  entre iniciativas de acolhimento, recolha e doação de bens essenciais e mutirões.
  2. As ações voluntárias de prevenção, por meio da educação, treinamentos, criação de brigadas e preparações como um todo das comunidades, a fim de, evitar e saber como se portar diante de situações de emergência.

9.2. Campanhas temáticas

As campanhas temáticas pautam um ano inteiro de ações coordenadas com causas diversas Um exemplo que se mantém forte são as campanhas dos meses coloridos, como o outubro rosa, novembro azul, etc.

Sem falar do calendário mundial da sustentabilidade, como o Mês do Meio Ambiente, Dia da Água, Dia da Mulher e outros.  

10. Trabalhando online de forma integrada

Se todo mundo precisa estar trabalhando para o desenvolvimento,então, os esforços precisam estar conectados. Seja de forma online, presencial ou híbrido.

É uma tendência que as empresas não atuem mais solitárias em suas “causas de estimação”, mas que se coordenem setorialmente ou localmente, para que os seus esforços gerem impactos maiores.

Veja abaixo alguns exemplos de ações coordenadas entre empresas:

10.1. Iniciativas entre empresas por uma mesma causa

A iniciativa da United Way reúne empresas que desejam atuar pela primeira infância, e para esse fim os parceiros coordenados realizam campanhas de doação com match entre valores doados pelos colaboradores e pelas empresas. Além disso, praticam juntos o Dia Viva Unido Primeira Infância.

Um outro exemplo, é a ação de voluntariado digital promovida pelo V2V: Inspire Jovens Talentos, com foco na causa da educação profissional.

10.2. Iniciativas entre empresas em um mesmo território

São ações que reúnem parceiros em um mesmo território com foco no desenvolvimento local, como por exemplo a ​Sotreq, por meio do Instituto Social Sotreq (ISS) e a  Hydro que atuam em cidades do Pará, e buscam mobilizar parceiros para que realizam ações que se complementam, em função dos interesses e necessidades da cidade.

Um outro exemplo de parceria no território é o Dia do Bem Fazer, promovido pelo Instituto Intercement, movimento coletivo que cria oportunidades de mobilização e engajamento de voluntários com ações cidadãs, que beneficiam as comunidades onde acontecem.

10.3. Iniciativas entre empresas em benefício da mesma organização social

​Empresas se reúnem e somam esforços em uma mesma organização social.

Uma vez que cada programa de voluntariado empresarial possui as suas próprias características, eles se coordenam de forma a contribuir cada um à sua maneira: manutenção e melhorias de infraestrutura, mentorias, ou oficinas diversas.

Como por exemplo, pode-se citar o Instituto C & A, a Telefônica e o Itaú que possuem projetos diferentes de voluntariado no Instituto Carisma.

Considerações finais

​Segundo a Pesquisa de Voluntariado no Brasil, 15% dos 57 milhões de voluntários se engajaram por meio de programas de voluntariado corporativos. As empresas possuem um potencial enorme de mobilizar o seu capital humano para a generosidade, a solidariedade e o voluntariado.  E sabemos que muito mais pode ser feito.

Diante das questões sociais que se apresentam para 2023, espera-se que as empresas se sintam ainda mais desafiadas e encontrem novas formas de engajar e envolver a sua rede de parceiros.

O mundo e o Brasil precisam desta coordenação, e  do envolvimento do setor privado com toda a sua riqueza de competências e recursos, disponibilizados  para comunidades e causas, e compromissadas com o mútuo desenvolvimento da sociedade.                                            

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** Silvia Maria Louzã Naccache é empreendedora social, palestrante, avaliadora de projetos, conteudista e consultora na área de Voluntariado, Voluntariado Empresarial, Responsabilidade Social, Desenvolvimento Sustentável e Terceiro Setor.   

** Bruno Morais é gestor de projetos ESG e Investimento Social Corporativo há 16 anos, com experiências no Brasil e Portugal. Mestre pela Universidade de Lisboa com a tese “As Bases Comuns do Voluntariado no Brasil e Portugal”.