Pedimos aos principais especialistas – brasileiros e internacionais – sua opinião sobre as principais tendências do Voluntariado Empresarial para os próximos anos. Em 2016, já havíamos falado aqui sobre algumas possibilidades e fizemos este evento sobre o tema com nossos clientes e empresas convidadas. Mas desta vez, por ser um conteúdo construído coletivamente, o resultado foi o compartilhamento de experiências e reflexões sobre os mais diferentes temas, que dividimos em tópicos para organizar melhor. Confira abaixo e veja se seu Programa está alinhado com as tendências do Brasil e do mundo:
Parcerias regionais – a experiência da América Latina
por Dacil Acevedo – Diretora-geral do CELAV – Centro LatinoAmericano de Voluntariado (Panamá)
A América Latina é uma das regiões mais desiguais do mundo. Na luta por igualdade, é imprescindível que haja uma estratégia regional baseada na sinergia e cooperação por uma perspectiva solidária. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) oferecem a estrutura perfeita por e para o voluntariado a fim de contribuir com a melhoria da situação na América Latina e Caribe.
No papel do CELAV (Centro LatinoAmericano de Voluntariado),desde 2015 promovemos anualmente encontros regionais de Gestão de Voluntariado, onde fomentamos a sinergia e cooperação sobre o tema entre ONGs regionais, organizações internacionais e empresas. Além disso, o CELAV também promoveu junto com o IAVE o Conselho LatinoAmericano de Voluntariado Empresarial (CLAVE) para gerar inovação no setor corporativo, contribuindo para o desenvolvimento sustentável da região em parceria com organizações-chave locais.
Dessa forma, aprendemos que o trabalho conjunto entre empresas e o terceiro setor através dos programas de voluntariado empresarial é chave para unir esforços e multiplicar os resultados: com uma perspectiva global, coordenação regional e impacto local.
Alinhamento com o Negócio
por Bruno Barcelos Morais – especialista em Voluntariado Corporativo (Brasil)
As iniciativas de voluntariado empresarial tendem a se alinhar cada vez mais ao negócio em consonância com a trilha já tomada pelo Investimento Social privado. Essa escolha ganha força na medida em que as empresas repensam o seu papel social em aderência aos desafios econômicos impostos: sua sobrevivência e sucesso prescindem da reinvenção na forma de fazer as coisas.
Para o voluntariado, as sinergias com o negócio mais comuns estão relacionadas às áreas de Gestão de Pessoas e de Sustentabilidade. A dica é que nesse momento o “tal” alinhamento seja considerado em suas múltiplas perspectivas:
- Estratégica: quando o programa se enquadra às aspirações, jeito de ser, missão, visão e valores da empresa.
- “Temática” ou “Setorial”: alinhar a temas ligados aos produtos e serviços que a empresa entrega, ampliando assim a percepção da oferta de valor. Por exemplo: uma empresa de brinquedos que desenvolve ações com crianças e valoriza o ato de brincar, ou outra da área da saúde que desenvolve ações em hospitais. A meu ver esse é o campo mais fértil de alinhamento.
- Presença: quando se considera atuar naquelas localidades em que a empresa possui presença física, comercial e estratégica.
- Operacional: aliar a recursos e processos que já existam na empresa: sistemas, bens, políticas, processos de reconhecimento e capacitação, etc.
Adendo – nivelando conceitos
Nivelar os conceitos dentro das instâncias de decisão também poderá ser útil na manutenção do programa como ativo do negócio.
- Qual o conceito de negócio? Ele se encerra na atividade fim, “core business”? Que níveis de relação com a sociedade o contexto atual exige das empresas?
- Qual a diferença entre voluntariado pessoal e corporativo? Responder isso ajuda a acalmar as expectativas e focar em qual estratégia de voluntariado será adotada por toda empresa – em detrimentos de outras.
- Como podemos atuar de forma complementar às políticas públicas? Muito se ajuda quando programas dialogam com as iniciativas já existentes e não as sobrepõem.
- Em que medida o “alinhamento com o negócio” é diferente de “estar a serviço do negócio”?
Perguntas como essas, se trabalhadas pelos gestores de voluntariado junto aos seus pares e superiores, podem favorecer que os ganhos múltiplos da iniciativa floresçam para:
- funcionários e equipes, através de ganho pessoal, clima, orgulho, engajamento, entre outros.
- para a empresa, como bom relacionamento com a sociedade e reputação, e o mais importante:
- para as comunidades e beneficiários que recebem um trabalho dedicado, de qualidade e com reais possibilidades de transformações.
Voluntariado Digital
por Kenn Allen – Consultor Sênior na IAVE – The International Association for
Volunteer Effort (Estados Unidos)
No último mês de Novembro, tive a oportunidade de presidir o fórum “Novas tendências no Voluntariado na Era Digital”, na Conferência Global de Voluntariado IAVE, na Cidade do México. Foi empolgante e energizante ouvir os painelistas e a plateia refletirem sobre o potencial do impacto positivo gerado a partir da tecnologia digital: novas formas de se voluntariar, maior conexão entre as pessoas, mais inclusão, entre outras. Mas foi ainda mais alentador ouvir as questões que foram levantadas:
- O que, de fato, é voluntariado?
- Como motivamos nossos seguidores nas redes sociais a se levantarem e fazerem algo concreto?
- “Curtidas” e compartilhamento de conteúdos são uma maneira eficiente de introduzir as pessoas ao engajamento social?
- Como fazer a condução de passivo para ativo, e finalmente para comprometido?
- Quanto do que estamos fazendo com a tecnologia digital está realmente produzindo resultados?
- A seguinte afirmativa é correta? “Voluntariado online é uma forma simples de uma pessoa começar e de progredir no engajamento social, mas limita as oportunidades de gerar empatia e criar pontes.“
- O voluntariado digital é distante demais para fazer uma diferença relevante tanto para o voluntário quanto para o beneficiado? Como podemos ampliar essa experiência?
Estas questões foram levantadas por pessoas que criam e gerenciam diversas formas de voluntariado online! Isso sugere que enquanto compartilhamos nossas histórias sobre nossos programas, precisamos investir tempo e energia para ir mais fundo em reflexões como estas.
Voluntariado com pensamento global e ação local
por Kelly Carmo – Especialista em Gestão Social no Grupo Comporte (Brasil)
Quando a empresa incentiva ações de voluntariado, ela promove uma gestão mais social e engajada com a comunidade e com os desafios da sociedade. Essa postura demonstra para seu trabalhador que é mais do que uma empresa, que pertence a algo maior, agindo no local sabendo que isso influenciará no global. Por isso, as ações devem contribuir com a ampliação do repertório dos indivíduos envolvidos, e aos poucos promover mudanças significativas, seja na vida do beneficiado ou do próprio voluntário.
Para tanto, a empresa precisa estar ciente do que deseja e estar aberta para as propostas das pessoas envolvidas, com o contínuo planejamento, monitoramento e avaliação das suas ações. Além disso, deve estimular também a troca de boas práticas e utilizar do seu conhecimento do negócio para promover a transformação de uma situação.
Voluntariado baseado em competências
por Belén Urbaneja – Diretor de Cidadania Corporativa e Gestão de Marca na Disney Company (Argentina)
Estamos convencidos de que compartilhar as habilidades profissionais e talentos da nossa equipe são a maior contribuição que podemos fazer para a sociedade. Por isso, em 2015 a Disney criou o programa VoluntEARS, com voluntariado baseado em habilidades, com o propósito de continuar a fortalecer organizações sociais e a comunidade. A principal característica do programa é a profissionalização da colaboração com a comunidade, disponibilizando habilidades profissionais para aqueles que mais precisam, ao mesmo tempo em que os voluntários participantes desenvolvem algumas das competências-chave para a empresa como liderança, comunicação eficiente e trabalho em equipe.
Antes do lançamento do programa, as necessidades das instituições sociais foram identificadas nas áreas em que a empresa poderia fazer uma contribuição relevante. Além disso, nos escritórios regionais foi realizada uma pesquisa para mapear em detalhes as habilidades e conhecimentos dos colaboradores da Disney que poderiam ser disponibilizados para o serviço voluntário. Nesta análise, também foram identificadas as competências que são fundamentais para o negócio e que poderiam ser desenvolvidas nos voluntários através das experiências voluntárias.
A oferta de habilidades profissionais e conhecimento técnico fortalecem as ONGs a longo prazo, enquanto os voluntários desenvolvem e alimentam suas próprias habilidades. O impacto gerado tanto na comunidade quanto nos membros da companhia é bem maior através das atividades baseadas em competências.
Pro Bono
por Andreia Ferreira – Consultora de Sustentabilidade na CPFL Energia (Brasil)
Uma possibilidade que vem ganhando força na atuação social é o Pro Bono, ou seja: quando um profissional oferece serviços de sua área de conhecimento a instituições sociais, de forma voluntária, sem cobrar nenhum tipo de remuneração.
O nível de comprometimento é uma das principais diferenças do pro bono para o voluntariado convencional. Outro ponto é a sinergia com as atividades que o voluntário já desenvolve no dia a dia da empresa, facilitando o uso de ferramentas inovadoras no projeto, o que eleva a qualidade dos resultados. Assim, para nós, empresas, a relevância do voluntariado pro bono está no potencial de desenvolvimento de competências e na criação de oportunidades para que o RH e gestores das áreas se engajem nas ações. Do outro lado, o principal resultado: a contribuição do voluntariado para a profissionalização de alguns processos de gestão das ONGs.
No caso da CPFL, nossa experiência com o Pro Bono surgiu do próprio objetivo do Programa Semear em compartilhar conhecimento. O Programa amadureceu e ficou claro que teríamos potencial para evoluir do voluntariado tradicional para a “transferência de conhecimento técnico”. Fizemos então uma parceria com a Phomenta para implementar um piloto em Campinas. Mobilizamos 25 voluntários que foram divididos em 4 times para apoiar uma ONG do entorno, desenvolvendo mini projetos nas áreas do financeiro, comunicação, administrativo e RH.
A experiência tem sido surpreendente a começar pelo envolvimento e articulação dos voluntários que se desdobram para buscar soluções e apresentar um trabalho de qualidade.
Team Building com Impacto Social
por Enzo Dotto – Chefe Panregional do programa Geração DirecTV (Argentina)
Para que serve uma atividade de TBIS – Team Building com Impacto Social?
Você pode descobrir facilmente a utilidade desta prática ao pensar nas habilidades interpessoais ou sociais de que dois ou mais integrantes de uma área, setor ou organização (ou seja: uma equipe de trabalho) necessitam para trabalhar de maneira coordenada. Ao mesmo tempo, na DirecTV entendemos que o trabalho em favor de uma comunidade, da sociedade ou do meio ambiente são essenciais para incentivar o desenvolvimento e o compromisso ativo que esperamos de nossos líderes e equipes.
Aqui vão os principais benefícios do TBIS:
- Permite identificar e trabalhar as competências relaicionadas a liderança, à comunicação, à criatividade, ao trabalho em equipe e a outros aspectos interpessoais e particulares que complementam os conhecimentos profissionais;
- É especialmente indicado para unificar equipes díspares, promover integração, companheirismo, conhecimento, confiança e interesse entre pessoas que compartilham o dia a dia laboral em situações diferentes das habituais. Assim, se estimula também a integração e o sentimento de pertencimento a uma equipe, área, setor ou organização;
- Desenvolve o espírito cooperativo incentivando a camaradagem, o entusiasmo e o engajamento a uma causa comum entre os membros de um grupo;
- Fortalece os laços de Comunicação Interna;
- Chama a atenção de uma equipe para novos lançamentos, campanhas ou planejamento de objetivos;
- Permite desenhar os objetivos de um trabalho em comum;
- Traz momentos de descontração e relaxamento.
Capacitação: Ensinando a empatia
por Ana Maria Schneider – Especialista em Sustentabilidade na EDP Brasil (Brasil)
No último ano, começamos a trabalhar no voluntariado da EDP a premissa de que a empatia pode ser aprendida. Ou seja, entendemos que a palavra “voluntário” também passa por um processo de educação. Acreditamos que o colaborador (por que não o brasileiro) precisa ser educado para estar ao dispor de…, para voluntariar-se a…, ou seja: escolher se quer ser voluntário após ter aprendido que vale muito dedicar um tempo ao outro, e ainda trazer mais satisfação a si próprio.
Neste sentido, foi experienciada pelos colaboradores do grupo EDP uma oficina denominada Academia de Protagonistas. Em resumo, foi a promoção de bons encontros, com o intuito das pessoas identificarem-se, ouvirem-se, tocarem-se, reconhecerem-se como parte de uma mesma realidade. Focada no que temos de mais humano, pura simplicidade. Uma formação que favoreceu o bom humor, que por si só, ilumina o ambiente. Também o cuidado e a confiança surgiram como duas forças para as pessoas estarem melhores onde quer que se encontrassem. As pessoas foram afetadas positivamente. Foi um convite para ser voluntário e um prêmio a quem já era voluntário.
Avaliação do Programa de Voluntariado
por Iraida Manzanilla – Consultora de Responsabilidade Social Empresarial e Voluntariado Corporativo (Venezuela)
A maioria dos programas de Voluntariado Empresarial reporta estatísticas referentes às ações e aos voluntários… no entanto, nem sempre valorizam os avanços do Programa em si: ele segue a estratégia de Responsabilidade Social da empresa? Os objetivos desse ano foram cumpridos? O programa precisa ser atualizado? Ou seguimos fazendo mais do mesmo?
Vale a pena refletir sobre o cerne do Programa de Voluntariado: abordagem estratégica, alinhamento com os objetivos do negócio e de suas políticas de Responsabilidade Social Empresarial, com a finalidade de consolidar o marco conceitual no qual ele se fundamenta, os valores que o inspiram e as diretrizes que estão por trás das ações.
Da mesma maneira, considerar o estilo de liderança da alta gerência para respaldar o Programa. Existe apoio suficiente? Como são feitas as sensibilizações e formações de voluntários? Os sistemas de comunicação são eficientes? Como se mensuram e se mantém as atividades? O programa de reconhecimento é eficiente?
Outro fator a considerar é a relação do programa com a comunidade ou com as organizações de desenvolvimento social. O balanço é positivo?
Avaliar o Programa é ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade de melhorar.
Reflexão final – o papel da empresa na sensibilização de voluntários para o mundo
por Ana Maria Schneider – Especialista em Sustentabilidade na EDP Brasil (Brasil)
Voluntariado! Palavra engraçada, que parece ter um único significado para todos: faça se quiser ou se for de sua vontade. Mas vivemos em um mundo onde a urgência em olhar para o outro, em cuidar do outro é o que deveria mover-nos, tempestivamente. Neste mundo tão digitalizado e volátil, nada substitui a presença e o aprender a aprender sempre, na relação com o outro. Educar para doar-se, educar para ser voluntário. Vale incentivar as empresas a dedicarem-se a mobilizar, a engajar para o encontro. Promover um gosto bom na boca do colaborador, que o fizesse levar a experiência para a sua casa e, da mesma forma oferecer à sua família, e esta, por sua vez, poder escolher: Voluntariado! Também quero fazer!
E na sua organização, você consegue identificar possibilidades diferentes das mapeadas aqui? E quais delas fazem sentido para o seu mercado? Compartilhe aqui nos comentários.
Um comentário sobre “Voluntariado Empresarial: especialistas comentam as principais tendências”
Os comentários estão encerrados