Para o mês de julho, a Consultora em Sustentabilidade e Responsabilidade Social e minha primeira professora de Voluntariado Empresarial, Danusa Coutinho, me convidou para uma conversa muito interessante. Trata-se de uma oportunidade de dialogar sobre o voluntariado no contexto das micro, pequenas e médias empresas.
Por isso decidi que, em co-autoria com ela, seria bacana falar um pouco sobre esse assunto aqui no blog também, e assim, reunirmos juntos algumas informações que nos tragam luz sobre esse assunto.
Um estranhamento inicial
Confesso que inicialmente, no meu processo de aprendizagem, questionei e combati bastante a ideia de “empresas explorarem mão de obra gratuita de seus colaboradores para operacionalizar sua Responsabilidade Social” – assim fiz a leitura sobre voluntariado, quando tive o meu primeiro contato com o tema.
Fato é que aos poucos pude compreender que o Voluntariado Empresarial se tratava de cidadania estrutural, ou seja: todos os recursos, laços, pessoas e processos de uma empresa envolvidos num relacionamento de cooperação, de uma forma muito orgânica (ou assim deveria ser) com a comunidade.
E daí em diante me apaixonei pelo assunto.
Hoje concordamos que o Voluntariado Empresarial é uma importantíssima ferramenta de cidadania corporativa, não apenas para as grandes empresas, mas também para as pequenas, médias e micros.
E vamos falar um pouco sobre elas:
O grande potencial das pequenas empresas
As Micro, pequenas e médias empresas são essenciais para a economia e vou tangibilizar essa importância através de números e estatísticas.
De acordo com os dados fornecidos pelo Conselho Internacional para Pequenas Empresas (ICSB), as micro, pequenas e médias empresas (MPME) formais e informais representam mais de 90% do total de empresas e contribuem, em média, em até 70% do total de empregos e 50% do PIB.
E considerando o contexto Brasileiro, pelo SEBRAE, as Micro e pequenas empresas geram 27% do PIB do Brasil. E em dez anos, os valores da produção gerada pelos pequenos negócios saltaram de R$ 144 bilhões para R$ 599 bilhões.
Alguns números dos pequenos negócios na economia brasileira:
- 27% do PIB
- 52% dos empregos com carteira assinada
- 40% dos salários pagos
- 8,9 milhões de micro e pequenas empresas
Responsabilidade Social estratégica nas pequenas empresas
Realizar ações de Responsabilidade Social, ou de Investimento Social Privado (ISP) não é uma oportunidade apenas para as grandes empresas. As menores também podem fazer isso atuando no contexto local em que existem. Isso se já não nascem como um negócio social.
As oportunidades de prosperar aumentam quando os laços e vínculos com a comunidade local, com as redes de parceiros, com entidades sociais, e com o poder público se estreitam. Tudo isso tende a ser muito positivo, especialmente no momento atual em que a solidariedade e a cooperação estão no coração da subsistência dos negócios.
“Ao trabalhar pela melhora da comunidade em que está inserido, o empresário pode, indiretamente, criar um clima bom para os negócios, diminuir alguns riscos, como os de saúde ou de sofrer violência, ao mesmo tempo em que estimula o orgulho de seus funcionários, levando, até mesmo, a uma mídia espontânea”, diz Heiko Hosomi Spitzeck, coordenador e professor do núcleo de sustentabilidade da Fundação Dom Cabral.“Envolver os funcionários em atividades voluntárias é um bom começo, pois ajuda a capacitá-los, ao mesmo tempo em que lhes dá um outro olhar sobre a comunidade” acrescenta Spitzeck.
O que essas empresas podem fazer então em termos de voluntariado? Ou como esse ecossistema pode se relacionar com o voluntariado? Pois se você possui um programa de voluntariado em uma grande empresa, o seu trabalho pode ser justamente fortalecer essas iniciativas menores.
4 dicas práticas de Voluntariado em pequenas empresas
Para uma pequena empresa, diante da correria do dia a dia, o voluntariado é possível e bastante frutuoso. Como então empreender essas iniciativas?
Aqui vão algumas dicas considerando o momento que atravessamos.
1) Realizar ou participar de uma campanha local
Em obsevância às necessidade de sua vizinhança, ou daquilo que é disponibilizado em sua rede virtual, um pequeno empreendedor pode:
- Conceber a campanha de doação convocando parceiros para colaborar.
- Integrar uma campanha já existente.
- Propor ou possibilitar que seus colaboradores integrem campanhas já existente.
Nesse exato momento existem várias campanhas de todos os tipos, aqui na Sociomotiva é possível encontrar muitas delas.
Uma dica extra
Aconselha-se tentar manter-se no seu círculo territorial, ou em temáticas que se identifique com o seu negócio. Ali você poderá conhecer muita gente interessante para também te ajudar com as suas dificuldades no seu empreendimento.
Doar dinheiro, doar equipamentos e produtos tende a ser uma associação tão automática com o voluntariado que pode ser a primeira coisa que o pequeno empreendedor poderá pensar.
É importante compreender que não, não é só isso, não é só por aí, e que o pequeno empresário não precisa parar sua rotina para começar uma campanha de doação. Existem outros caminhos, mas se for possível, essa pode ser sim uma boa ideia caso identifique uma emergencia imediatamente ligada ao seu negócio ou na comunidade em que está inserido.
2) Disponibilizar tempo mensal de colaboradores para trabalho individual em instituições que prefiram
As vezes, os colaboradores só precisam de uma mãozinha para realizarem o voluntariado que gostam/se identificam. E esse empurrãozinho pode ser da sua empresa. Avalie em que medida 1 horinha ou 2 por mês não podem impactar de forma positiva interna e externamente.
Uma tolerância que considere o trânsito de ir e vir até uma entidade parceira, uma cessão de tempo que dê uma folga psicológica ao colaborador para que ele de forma pontual, mas qualificada, preste um apoio sistemático a alguma causa cara para si. Isso muitas vezes retorna em termos de engajamento e produtividade.
Se os colaboradores entram em lay off devido ao momento de crise, o trabalho voluntário pode ser incentivado para que permaneçam ativos durante esse período, sem cair num desânimo compreensível, que é possível de acontecer.
Só é importante tomar cuidado com o tom, tem-se falando muito de respeitar os tempos durante o período de quarentena, inclusive os tempos psicológicos, sem estimular uma guerra por produtividade.
3) Disponibilizar apoio psicológico aos colaboradores e à comunidade
Existem trabalhos voluntários de apoio psicológico disponível para quem necessitar nesse momento. Isso tem sido feito de maneira online, mas o voluntariado dessa empresa pode aproximar esse serviço daquelas pessoas que tem dificuldade em estarem conectados. Seja pela falta de internet, de equipamentos, ou afinidade com a tecnologia.
Aqui temos um exemplo: Rede de Apoio Psicológico.
4) Montar um grupo de voluntariado local junto com outras empresas do território
É possível convidar as empresas vizinhas do seu negócio para que possam unir forças. Montem um comitê inter-empresas, de forma que os colaboradores de cada uma possam encontrar forças, formas de unir-se para resolverem um problema local.
As vezes uma empresa tem mais recursos, noutras tem mais pessoas disponíveis, em outras, mais contatos. E assim ninguém se sente sozinho, e não deixam de atuar, de fazer nada. É possível, se necessário, utilizar a Sociomotiva para facilitar o seu processo, ou ajudar a divulgar o projeto. Se precisar de alguma ajuda com isso fale conosco.
A agenda 2030
Vale lembrar que tamanha a sua importância para o desenvolvimento sustentável, as ações de estímulo às Micro, Pequenas e Médias empresas compõe os esforços da Agenda 2030, de uma forma mais específica relacionada ao ODS 8: “Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos”.
Todos esses objetivos sofrem impacto a partir da crise que se desencadeia com a pandemia do COVID-19, demandam se não uma repactuação, uma revisão dos planos estratégicos e táticos para que sejam minimamente alcançados.
Para esses pequenos negócios a pirâmide de necessidades desceu muito ao nível básico, e o desafio agora é garantir a sobrevivência do maior número de iniciativas.
“A pandemia virou ao avesso o mundo do trabalho. Todos os trabalhadores, todos os negócios e todos os cantos do mundo foram afetados”, disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
A oportunidade nesse caso, é estimular que os negócios que prosperarem, que o façam com uma consciência mais sustentável, social, integrada com as necessidades do planeta e das comunidades.
“A COVID-19, além de um desafio sem precedentes para o mundo moderno, é também uma oportunidade única para construir um futuro melhor, criar um mundo seguro e próspero”, afirmou o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
Facilite !
Vale ressaltar que essas iniciativas de voluntariado por pequenas empresas não precisam ser tão formais.
O que quero dizer que isso?
Que é fundamental aqui não se ater a processos e outras formalizações que engessem ou dificultem o trabalho. O mínimo, é garantido pela nossa legislação do voluntariado. No mais, em que puder facilitar, será bem vindo.
Comece! Faça alguma coisa, e então perceba como as relações se movimentam ao favor da prosperidade do seu negócio e do seu contexto.
Está tudo interligado! Estamos todos conectados. E somos todos responsáveis.
É possível agira, não importa o seu tamanho.