A Samantha Jones, Diretora de Estratégia e Inovação no V2V, me indicou esse artigo da Harvard Business Review que veio super ao encontro de algo que já vinha querendo trazer aqui no blog: as competências que, se estimuladas nas equipes, desenvolvem uma visão de longo prazo, aumentam a resiliência do time, melhoram as condições de trabalho e que podem ser muito bem exercitadas através do trabalho voluntário.
Essas competências nem sempre parecem relacionadas diretamente com o negócio, contudo são diretamente relacionadas com pessoas, que são quem movimentam a empresa, e aí, logo, está feita a relação.
O texto abaixo é uma tradução livre minha, com alguns comentários, do texto: “How to Cultivate Gratitude, Compassion, and Pride on Your Team” do David DeSteno, ou “Como cultivar gratidão, compaixão e orgulho no seu time”.
Segue abaixo, espero que gostem.
Como líder, que características você deve estimular em seus colaboradores?
Resiliência, serem “casca grossa”, a habilidade de perseverar diante dos desafios? Certo. A capacidade e disposição para superar alguns sacrifícios e trabalhar duro para um futuro de sucesso são essenciais para os membros de qualquer equipe.
Mas acredito que há outro componente que importa tanto quanto: graça.
Não me refiro à capacidade de se mover com elegância ou qualquer coisa religiosa. Em vez disso, quero dizer qualidades de decência, respeito e generosidade, todas as quais marcam uma pessoa como sendo alguém com quem os outros desejam cooperar.
Considere os resultados do Projeto Oxigênio do Google, uma iniciativa de pesquisa de vários anos, desenvolvida para identificar as qualidades de um gestor que aumentam o sucesso de uma equipe. O que eles descobriram é que, sim, conduzir uma equipe para ser produtiva e orientada para os resultados importava, mas também ser equilibrado, marcar horários para reuniões individuais, trabalhar junto com a equipe na linha de frente para resolver emergências e demonstrar interesse genuíno na vida social dos funcionários.
Na verdade, essas qualidades de “caráter” superavam a pura motivação e a expertise técnica quando se tratava de prever o sucesso.
Isso faz sentido. A inovação normalmente requer esforço da equipe. A experiência deve ser combinada para resolver problemas, exigindo cooperação. E a cooperação requer a disposição de compartilhar o reconhecimento e apoiar uns aos outros, em vez de sempre se esforçar para receber o crédito para si mesmo.
Gratidão, compaixão e orgulho sob a visão da pesquisa
Então, como gestor, qual é a melhor maneira de incutir coragem e graça em sua equipe? A pesquisa de David DeSteno mostra que se trata de cultivar três emoções específicas: gratidão, compaixão e orgulho (dignidade).
Permito-me um parêntese aqui para falar de um livrinho muito curto chamado “Poder e Amor: teoria e prática da mudança social”, do Adam Kahane, que mudou a minha vida profissional numa época em que era fundamental o equilíbrio dessas duas características: coragem e graça.
“Poder & Amor descreve os lados positivo e negativo inerentes aos dois impulsos, explica porque a escolha de apenas um para a execução de projetos é insuficiente e indica a melhor forma de conciliá-los” (Fonte).
Isso é muito importante para o drive que o gestor de voluntariado carrega. Em geral os gestores sociais trazem uma bagagem muito grande do que se chama aqui de “amor”, ou graça, e pecam no fator “poder”.
Mas voltando ao assunto das três emoções do David DeSteno, elas não apenas aumentam a paciência e a perseverança como também criam laços sociais.
Durante a maior parte da história evolutiva humana, a capacidade de ter sucesso dependeu quase inteiramente da habilidade de formar relacionamentos. As pessoas precisavam ser honestas, justas e diligentes — qualidades que exigiam uma disposição para inibir os desejos egoístas de lucrar às custas dos outros. E foram as emoções morais como gratidão, compaixão e um orgulho (dignidade) autêntico que motivaram essas ações.
Gratidão
Por exemplo, a pesquisa mostrou que, quando as pessoas se sentem gratas, elas estão mais dispostas a dedicar esforços para ajudar os outros, a ser leais mesmo a um custo e a dividir os lucros igualmente com os parceiros, em vez de pegar mais dinheiro para si mesmas.
Compaixão
Quando há compaixão, há mais disposição para dedicar tempo, esforço e dinheiro para ajudar os outros.
Orgulho
E quando se sentirem orgulhosas — e orgulho aqui no sentido positivo da palavra, de honradez, brio e dignidade — as pessoas trabalharão mais para ajudar os colegas a resolver problemas.
Todos esses comportamentos atraem o mesmo para nós. Indivíduos que expressam gratidão, compaixão e orgulho são vistos de forma positiva por aqueles ao seu redor.
Por consequência, essas emoções também geram a coragem. Ou seja, poder e amor, graça e coragem não são excludentes: eles aumentam o valor que as pessoas atribuem às metas futuras em comparação às presentes e, assim, pavimentam o caminho para a perseverança.
David DeSteno relata que o trabalho em seu laboratório, por exemplo, mostra que as pessoas dispostas a se sentirem gratas demostram o dobro de paciência quando se trata de recompensas financeiras, ou seja, são menos imediatistas e estão duas vezes mais dispostas a abrir mão de um lucro menor imediato para que possam investi-lo em um ganho de longo prazo.
Na mesma linha, as pessoas que sentem orgulho ou compaixão estão dispostas a perseverar mais de 30% em tarefas desafiadoras, comparando com aqueles que até sentem outras emoções positivas, como felicidade, precisamente porque nesse caso o orgulho e a compaixão os induzem a dar mais valor às recompensas futuras.
E eu, Bruno, acredito que isso tem tudo a ver com aquilo que acreditam, sentem e pelo quê trabalham os profissionais de sustentabilidade, responsabilidade social e voluntariado.
Os Programas de Voluntariado Empresarial estão dentro das empresas para lembrar que as relações internas e externas precisam ser pautadas por uma visão de longo prazo e pelo reconhecimento da participação e da integração dos stakeholders, exercendo empatia e solidariedade, com o objetivo de oferecer dignidade a todos os envolvidos direta ou indiretamente com o negócio.
Conexão: os benefícios para a saúde mental
Além de usar a força de vontade para trabalhar duro, essas emoções também ajudam a resolver um problema cada vez mais comum na vida profissional: a solidão. Hoje, a solidão se tornou uma epidemia nos EUA, com 53% dos trabalhadores americanos relatando se sentirem isolados em suas vidas públicas — um problema imenso, dado o preço que a solidão tem sobre a saúde física e mental.
Sentir gratidão, compaixão e orgulho regularmente cria conexões sociais porque essas emoções automaticamente fazem os indivíduos se comportarem de maneira mais comunitária e solidária. Por exemplo, pessoas designadas para se envolver em intervenções simples, para sentirem e expressarem gratidão, mostram sentimentos intensificados de conexão social e satisfação com os relacionamentos ao longo do tempo.
Outra pausa na tradução do texto é conveniente para lembrar que em tempos de pandemia a questão da solidão pode ser ainda mais agravada, acompanhada de maior pressão sobre a saúde mental das pessoas. Ao mesmo tempo, as atividades de voluntariado são excelente ferramenta no auxílio de tudo isso: na solidão de voluntários e beneficiários, na saúde mental de pessoas institucionalizadas ou de colaboradores estressados, na criação de vínculos e no exercício da compaixão, da gratidão e do orgulho. Fizemos aqui um post apenas sobre isso: saúde mental, o trabalho e o voluntariado, vale a pena ler.
Voltando à tradução:
Os sentimentos geram resultados
É por causa da ligação entre essas emoções, da coragem e da conexão social que os gestores que cultivam gratidão, compaixão e orgulho em sua equipe verão maior produtividade e bem-estar de seus funcionários.
Como exemplo, Adam Grant e Francesca Gino examinaram a perseverança em um ambiente repleto de mais rejeição do que quase qualquer outro: a arrecadação de fundos. Durante um período de duas semanas, eles gravaram o número de ligações feitas em um esforço para solicitar doações para uma universidade.
Entre a primeira e a segunda semana, no entanto, metade dos arrecadadores de fundos recebeu a visita da diretora de doações anuais da universidade, durante a qual ela expressou seu agradecimento pelo trabalho deles. Para ter uma ideia de como essa expressão de gratidão afetou os arrecadadores de fundos, Gino e Grant fizeram com que relatassem como se sentiam valorizados e apreciados por seus superiores.
Considerando que o desempenho médio de ambos os grupos foi virtualmente o mesmo durante a primeira semana do estudo, aqueles que ouviram a mensagem de agradecimento aumentaram seus esforços de arrecadação de fundos em 50% durante a segunda semana. O que é particularmente interessante aqui é a maneira como os benefícios da gratidão e do orgulho podem se alimentar mutuamente. Em outro estudo sobre arrecadação de fundos, Grant e Amy Wrzesniewski descobriram que a gratidão que os gerentes expressaram para com seus funcionários alimentou o orgulho desses colaboradores, que por sua vez redobraram seus esforços.
A compaixão também cria dedicação. Pesquisando mais de 200 pessoas que trabalham em diferentes unidades dentro de uma grande instituição de cuidados de longo prazo, Sigal Barsade e Mandy O’Neil descobriram que aqueles que trabalhavam em unidades caracterizadas por sentimentos mais elevados de vínculo social, confiança, aceitação e apoio — um composto que poderia facilmente ser chamado de empatia e compaixão — mostraram não apenas desempenho e engajamento superiores, mas também maior satisfação no trabalho, menos exaustão e menor absenteísmo.
Gratidão, compaixão e orgulho nos tornam mais dispostos a cooperar e investir nos outros. E, já que realizam essa façanha aumentando o valor que a mente atribui a ganhos posteriores, também nos estimulam a investir em nosso próprio futuro.
Dessa forma, tanto as equipes como os indivíduos que as compõem se tornam mais bem-sucedidos e resilientes.