Doação também é voluntariado?

No dia 5 de maio celebra-se o “Dia de Doar – Agora”, uma edição extra do Dia de Doar. Essa ação global tem a finalidade de estimular a doação em geral, agora, motivada fortemente pela pandemia do Covid 19.

Mas afinal, como os gestores de voluntariado se relacionam com as ações de doação? É um tabu conceitual?

Segue aqui nesse post um desenvolvimento sobre essas perguntas e aproveite para conhecer um pouquinho da campanha.

Não filosofe na emergência: doe

Em primeiro lugar: doe.

Seja qual for a sua motivação você está sendo impelido por um sentido de dádiva. Uma palavrinha que a princípio tem significado óbvio, mas que recolhe em si estudos profundos sobre o sistema de trocas e os seus significados.

Importa pra gente aqui que as doações não sejam estigmatizadas como ações assistencialistas, pois são, acima de tudo, e agora mais do que nunca: emergenciais.

Enquanto promotor de voluntariado você precisa perder o medo do “fantasma” do assistencialismo e agir de forma imediata. Agir emergencialmente e ser assistencialista tem motivações em direções opostas.

Emergência x Assistencialismo

Em situações emergenciais, você assume que tem uma reação preliminar, de amparo à sobrevivência dos vulneráveis antes de supostamente* “ensiná-los a pescar”. E muitas vezes vai precisar reagir rápido, mobilizando sua rede de parceiros internos e externos.

*Digo supostamente porque existem programas de voluntariado que pregam a bandeira não assistencialista e quando você vai verificar os resultados de perto, não estão nem dando o peixe e ainda ensinando a pescar baleia no ribeirão.

As ações assistencialistas, são aquelas que doam em longo prazo sem desenvolver o indivíduo ou grupo que recebe, com a clara intenção de capturá-los como reféns inaptos e não emancipados. Mas fique atento (!) Você pode estar capturando e sendo assistencialista mesmo se travestindo em um discurso emancipatório, mas isso é conversa pra outro dia. 

Existe luz no fim do túnel 🙂

O mundo sempre presenciou e continua presenciando a solidariedade em situações de catástrofes ambientais. Agora, com essa pandemia peculiar que nos assola e prejudica especialmente os mais pobres, felizmente continuamos assistindo a boas ações. Na semana passada eu publiquei aqui uma entrevista com Gilson Rodrigues, líder comunitário de Paraisópolis. Para saber como essas comunidades estão se mobilizando e onde apoiar, confira aqui a matéria.

No Brasil e em todos os países do mundo, centenas de agentes privados doaram mais de 3 bilhões de reais em tempo recorde, assim como alimentos e outros itens de primeira necessidade. Sem esquecer dos equipamentos de saúde: máscaras, álcool gel, desinfetantes, luvas, respiradores, e etc. No fim das contas a solidariedade tem muita a ver com sobrevivência e fortalecimento de um grupo, é quase instintivo.

Afinal, doação é voluntariado?

Voluntariado cruza-se com vários conceitos, dentre eles a caridade, a assistência, as doações e outros temas cuja relação entre si pude aprofundar na minha tese de mestrado.

A questão é que as definições de voluntariado são amplamente descritas na literatura, na qual autores diversos focam ora no que diferencia o voluntário do trabalhador assalariado e na sua natureza espontânea para fins públicos contando, ou não, com benefícios pessoais, e ora no seu atributo de participação social.

Algumas definições

Encontrei a adoção de definições por autores das áreas da Sociologia, História e Psicologia. Entretanto, os conceitos empregados mais frequentemente são aqueles definidos e difundidos por órgãos promotores do voluntariado e de defesa de causa (advocacy), como por exemplo os centros de voluntariado, os marcos legais e, especialmente, aqueles definidos pelos organismos intergovernamentais internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas) – e suas agências multilaterais como a UNV (Voluntários das Nações Unidas) e a OIT (Organização do Trabalho) -devido à sua isonomia e à possibilidade de adotar as definições mais padronizadas de voluntariado.

Floresceu no Brasil nos anos 90, promovido pelo Conselho da Comunidade solidária, a instituição que define o voluntário como “o cidadão que, motivado pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário”. Que ficou popularmente conhecido no país nos últimos anos como o “Conceito dos 3 T´s (tempo, trabalho e talento).

Esses conceitos tentam firmar que o trabalho voluntário precisa ser o mais contínuo possível, planejado e monitorado. E que a mera entrega de um item em forma de doação para uma campanha não é voluntariado, apesar de que o trabalho disponível para a elaboração e operacionalização dessas campanhas é aceito como voluntariado.

E finalmente, a resposta!

Em um projeto de voluntariado, dentro de seu plano de ação e de seu conjunto de ações, pode haver ações e campanhas de doação?

Sim. Como componente de um grupo de atividades que beneficiem a sua causa, as arrecadações e doações muitas vezes são um complemento necessário, e em outras o principal momento de uma ação de voluntariado. Seja pela necessidade, seja porque é bom dar e receber.

Ora, cabe a um programa de voluntariado simplesmente limar esse momento?

Acredito que não, pois ao meu ver o que conta não é como você quer parecer enquanto gestor social, mas o que é necessário enquanto contribuidor de uma causa.

Entende a diferença? É sutil.

A doação não define o voluntariado mas compõe um projeto muitas vezes como uma de suas etapas. Cabe a um bom gestor de voluntariado saber qualificar esse momento e não deixar que seja ela o objetivo em si.

Inclusive, se interessar, veja aqui mais conteúdo sobre as arrecadações e como torná-las mais efetivas sem atrapalhar a situação:

O Dia de Doar

(Fonte: https://www.diadedoar.org.br/ )

Como dito em sua página:

No Dia de Doar, acreditamos que a generosidade tem o poder de unir e transformar comunidades tanto em momentos bons como nos ruins. Uma ameaça global como a COVID 19 não afeta apenas quem se infectou. Uma pandemia como essa mexe com cada um de nós no planeta e nos apresenta uma oportunidade de nos unirmos como uma comunidade global.

​O Dia de Doar 2020 está agendado para 01 de dezembro mas, para atender a emergência em que vivemos, foi criado o Dia de Doar Agora,um novo dia global de doação e união que vai acontecer em 05 de maio, acompanhando o movimento global #GivingTuesdayNow.

​A proposta é celebrar as doações já recebidas e mostrar o poder de transformação que as doações têm quando feitas em conjunto: a expansão da generosidade, o engajamento cidadão, a atuação forte no mundo dos negócios e das redes de filantropia e o apoio sem precedentes para as comunidades e ONGs por todo o Brasil”.

Todo dia é dia de se doar

Baseado em tudo que foi dito, se ainda não fez, mobilize a sua rede para doações, sem medo. Se o seu objetivo não é viciar um grupo de pessoas em receber sem merecimento e utilizar de sua fragilidade para dominá-los (eu tenho certeza absoluta que não é o seu caso que nos lê) não se intimide, perceba e permita como dentro de sua programa uma campanha de arrecadação nesse momento pode ser útil para sua comunidade.

Estamos em momento de crise. O que falta e quais recursos disponíveis? Produtos de higiene? Saúde? Alimentação para as pessoas desempregadas? Recursos financeiros para que instituições sociais continuem a operar?

Esse é um chamado para continuar se envolvendo. Hoje é dia de Doar.

Todo dia é dia de se doar. E isso é a dádiva: você dá e movimenta um fluxo infinito de dar e receber, que continuará operando quer você esteja consciente dele ou não.

(Fonte: https://www.diadedoar.org.br/ )

Coloque sua ação de doação no mapa global

Nossos co-irmãos do #GivingTuesdayNow estão construindo um mapa para dar destaque à generosidade em todo o mundo. Junte-se a nós compartilhando como você está contribuindo com a sociedade no combate à pandemia e nos ajude a cobrir o globo de solidariedade.

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