O que acontece com os colaboradores quando eles começam o voluntariado?

Diversas vezes falamos aqui no Blog sobre as ligações que existem entre o Programa de Voluntariado e a área de Recursos Humanos. Recentemente até promovemos um Encontro V2V que tratou sobre o tema. Notamos que dessa relação – mobilização social e RH – surgem diversas vantagens, desafios e oportunidades.  O texto abaixo é de Chris Jarvis, co-fundador do Realized Worth, traduzido e adaptado pelo V2V, que sintetiza como o voluntariado empresarial impacta positivamente na relação do colaborador com a empresa. Confira:

 

A teoria e prática clássica de recursos humanos sugerem que a melhor forma de fortalecer o comprometimento dos colaboradores é através de pacotes de benefícios que respondam aos interesses individuais deles. Novas pesquisas começam a mostrar que isto é apenas parte da história – e possivelmente, não é a parte mais importante.

Aparentemente, a velha máxima “é melhor dar do que receber” é profundamente verdadeira quando se trata do engajamento de colaboradores.

Criação de sentido pró-social

Como colaboradores, nós estamos sempre tentando responder à questão: “Quem sou eu dentro dessa organização?”. Este é um processo natural que todas as pessoas usam para criar sentido nas suas experiências dentro de uma empresa.

O comportamento “pró-social” é definido como “um comportamento voluntário que visa beneficiar os outros” e é normalmente expressado através de atos de compartilhamento, doação e voluntariado. Estes dois conceitos – comportamento pró-social e criação de sentido – se unem quando empresas lançam programas de voluntariado. Adam Grant, um professor da Wharton School e autor do livro “Give and Take: A Revolutionary Approach to Success”, sugere:

“O ato de se doar para apoiar programas de voluntariado fortalece o engajamento afetivo dos colaboradores com a sua organização, ao permitir que estes enxerguem a si e à organização por uma ótica mais cuidadosa e pró-social”.

Esta é uma afirmação impressionante! Se Adam Grant e outros pesquisadores estão corretos, isso significa que os bilhões gastos pelas empresas em pacotes de benefícios típicos de RH podem não ser suficientes. Na verdade, em comparação, o ROI (Return on Investiment ou Retorno Sobre Investimento) destes benefícios tradicionais pode ser menor do que o de se ter um programa de voluntariado robusto – e custando muito menos.

É sobre o cérebro; não sobre a carteira

No artigo “Neuroevolution of Empathy”, recentemente publicado nos anais do New York Academy of Sciences, Jean Decety conduziu pesquisa demonstrando o seguinte:

O sistema fronto-mesolímbico do cérebro, parte ligada à motivação e recompensa, é ativado na mesma extensão quando os indivíduos recebem recompensas monetárias e quando eles voluntariamente decidem doar dinheiro a uma organização social”.

Decety, através de estudos de neuroimagem comportamental e funcional, descobriu que ações pró-sociais produzem dopamina e fazem com que a gente se sinta bem. O que é mais fascinante no trabalho de Decety é que ele nos permite oferecer uma explicação do porquê de nosso cérebro e suas conexões reforçarem comportamentos pró-sociais, como a doação e o voluntariado.

Como se nota, essa tem sido uma tática de sobrevivência humana por milênios. Não é necessário dizer, mas instintivamente, somos predispostos a olhar por nosso familiares e pessoas próximas. Porém, os grupos e culturas que prosperaram ao longo da história da humanidade são aqueles que expandiram seu cuidado e atenção para além da sua unidade familiar. Aqueles que estiveram exclusivamente focados em sua família, sem olhar pelas outras pessoas, falharam.

Isso significa que hoje, nós evoluímos a um ponto no qual quase todos nós somos capazes de escolher um comportamento pró-social, mesmo quando isso afeta nosso bolso.

O retorno do investimento em voluntariado empresarial

Dada a nossa predisposição em cuidar dos outros, nós valorizamos culturas e organizações nas quais isso – ser valorizado – é a nossa experiência. Ninguém quer se sentir como se fosse apenas uma peça da engrenagem. Ao contrário, nós desejamos saber que importamos e que seremos tratados nesse sentido, de uma maneira ética. Igualmente importante, desejamos fazer parte de um grupo que nos permita demonstrar nosso comprometimento em cuidar e agir de maneira justa com os outros.

Quando as empresas oferecem a seus colaboradores espaço para agir pelo bem comum, eles começam a encontrar sentido na organização e seu espaço dentro dela de uma forma positiva. Isso é a criação de sentido pró-social.

Adam Grant conduziu uma pesquisa com diferentes métodos através da Fortune 500, uma lista feita pela revista Fortune com as 500 maiores corporações do mundo, e descobriu que oferecer aos colaboradores a oportunidade de “se doarem” dentro do ambiente de trabalho “fortaleceu o comprometimento afetivo com a organização, desencadeando a criação de valor pró-social através de si mesmo – um processo no qual cada colaborador interpreta suas ações sociais e identidade por uma ótica do cuidado”.

O voluntariado no ambiente de trabalho é uma ferramenta prática que as empresas podem usar para provar que elas se importam. Com isso, elas “demonstram que comportamentos de ajuda, doação, compartilhamento e contribuição são válidos, aceitáveis e encorajados”. Quando os colaboradores interpretam estes sinais, eles começam a formar uma identidade que contribui para sua produtividade geral e lucratividade da empresa.

Então o que acontece aos colaboradores envolvidos com o Programa de Voluntariado?

Mulher com a mão levantada em reunião de grupo de colaboradores

1 – A produtividade deles aumenta

Ser voluntário fomenta um processo de criação de sentido pró-social sobre si mesmo e a empresa, o que aumenta o comprometimento afetivo do colaborador com a organização. Comprometimento afetivo é a chave para diminuir o absenteísmo de colaboradores, encorajando o engajamento e facilitando o trabalho em equipe.

2 – Sua ética é fortalecida

Quando empresas proporcionam a oportunidade de se agir de maneira pró-social, elas encorajam os colaboradores a se enxergarem como éticos, pessoas preocupadas com o bem comum. Essa identidade individual cria um sistema de valores que apoia o processo de tomada de decisões num sentido ético

3 – Eles tornam-se agradecidos

Quando empresas criam oportunidades para seus colaboradores de doar e se voluntariar, estes desenvolvem fortes ligações emocionais com seus empregadores. Isso porque, quando colaboradores se engajam na criação de sentido pró-social sobre si mesmos, o comprometimento é baseado em gratidão à empresa por facilitar o desenvolvimento de seu comportamento pró-social e sua identidade solidária

4. Eles têm orgulho da empresa

De maneira similar, quando empresas possibilitam que seus colaboradores ganhem um sentido positivo deles mesmos através do voluntariado e da doação, o colaborador transfere essa imagem positiva de volta para a organização. Isso é expressado através de sentimento de orgulho, resultando numa forte ligação entre colaborador e empresa.

Outras fontes interessantes

Um estudo de neuroimagem recente lançou luz sobre a possibilidade de existir uma explicação bioquímica para os efeitos psicológicos positivos que existem em ajudar aos outros. Usando imagens de ressonância magnética funcional, descobriu-se que o sistema mesolímbico de nosso cérebro (que conecta áreas específicas do cérebro envolvidas com a motivação) era ativado nos participantes quando eles escolhiam doar dinheiro a uma causa. O sistema mesolímbico também era ativado em resposta à recompensas monetárias e outros estímulos positivos. Ou seja, escolher doar para uma pessoa ou causa social promove a ativação da região cerebral que produz “substâncias de bem-estar” que promovem ligações sociais, aumentando a felicidade e promovendo o comportamento pró-social.

Ficha do estudo: Moll, J., Krueger, F., Zahn, R., Pardini, M., de Oliveira-Souza, R., & Grafman, J. (2006). Human fronto-mesolimbic networks guide decision about charitable donation. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 103, 15623-15628.

A reunificação da Alemanha causou o colapso da estrutura padrão de voluntariado do leste de país. Controlando outras variáveis, Meier e Stutzer produziram um estudo que demonstrou que a redução de oferta de trabalho voluntário levou a uma queda na facilidade na região. Leia o estudo em inglês completo aqui.

Além disso, a motivação pró-social é um significante fenômeno teórico e prático porque ela tem uma influência substancial no comportamento dos colaboradores e sua performance no trabalho. Recente estudo sugere que a motivação pró-social pode levar os colaboradores a tomar a iniciativa (De Dreu & Nauta, 2009), ajudar aos colegas (Rioux & Penner, 2001), persistir em tarefas desafiadoras (Grant et prosocial Motivation at Work 2 al., 2007) e  aceitar feedbacks negativos (Korsgaard, Meglino, & Lester, 1997).

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