O voluntariado e o desenvolvimento comunitário

O voluntariado é uma prática que traz benefícios para todos os envolvidos, e por isso é reconhecido como uma ferramenta de “ganha-ganha-ganha”.

Para o contexto comunitário não é diferente, o voluntariado tem se apresentado como ferramenta transformadora, e este post propõe alguns posicionamentos críticos que possibilitam um maior desenvolvimento neste contexto.

Veja abaixo quais são:

Desenvolvimento comunitário precisa de participação

Não é possível falar em desenvolvimento comunitário sem falar de participação.

É a própria comunidade local que deve assumir o protagonismo do seu desenvolvimento, o que só será possível mediante a articulação de meios de participação eficazes e transparentes da mesma nas decisões sobre o seu próprio destino” (A participação do voluntariado no desenvolvimento da comunidade local – Alejandro Romero Pérez).

O envolvimento das pessoas em seu próprio processo de desenvolvimento é o que garante que ele aconteça de forma sustentável.

Pensando de maneira simples: não se desenvolve pelo outro, mas cada sujeito e grupo deve ser agente do seu próprio desenvolvimento.

Por esta razão é que os projetos de voluntariado precisam possibilitar que as comunidades com as quais irão atuar façam parte de forma ativa das tomadas de decisão, desde o planejamento até o monitoramento e avaliação das ações.

A participação emancipa cidadãos

Um dos problema das ações pontuais realizadas em grande escala por grupos de voluntários está no seu caráter volátil, que não se sustenta no tempo em buscas de soluções concretas, e que garantam que os mesmos não precisem mais de determinado tipo de doações, por exemplo.

Quando se projeta uma ação pelo (e para) o outro, sem o seu envolvimento, o voluntário está exercendo uma atitude de caráter paternalista, em que a comunidade teria a escolha (ou a capacidade) apenas de receber sem nenhum tipo de contrapartida, e sem a chance de propor soluções efetivas.

Reforçar a comunidade como agente passivo, em longo prazo se torna uma prática desfavorável, pois tira o seu poder e o protagonismo dos seus cidadãos.

O contrário, quando o protagonismo é incentivado todos aprendem, e o resultado é sempre emancipatório e transformador.

A participação traz a força da diversidade

Um outro ponto forte da participação comunitária tem a ver com os ganhos que os múltiplos olhares podem trazer. E este é o benefício da diversidade!

Quando uma ação é definida e totalmente direcionada apenas pela empresa, ela está enviesada por um único olhar.

Mas quando há a participação no planejamento das ações, estamos garantindo uma riqueza de perspectivas e de recursos.

Para ajudar um pouco mais, veja abaixo 12 lições que elucidam como o envolvimento comunitário pode acontecer de maneira mais transformadora.

12 lições que garantem o desenvolvimento comunitário

De acordo com Phil Bartle, no “Método para el Fortalecimento de las Comunidades , existem 12 lições para o desenvolvimento participativo de qualidade.

São elas:

1.       As comunidades têm o direito de participar nas decisões que afetem as suas condições de vida e de trabalho;   

2.       Apenas a participação que possibilite o poder no processo de tomada de decisões é sustentável e criativa;

3.       A participação real requer a intervenção da comunidade em todas as fases do melhoramento da cidade, vila ou aldeia: planejamento, implementação, manutenção e supervisão;

4.       A participação deve ser construída com base na igualdade entre os sexos e incluir os jovens e os idosos;

5.       O desenvolvimento de competências é fundamental para promover a participação equitativa entre mulheres, homens e jovens;

6.       As comunidades têm recursos ocultos que podem impulsionar o desenvolvimento da cidade, vila ou aldeia. O desenvolvimento da capacidade de participar pode dar visibilidade a esses recursos;

7.       De todos os protagonistas do desenvolvimento, as comunidades são as principais interessadas em identificar problemas e em manter e melhorar os locais onde habitam;

8.       A concentração e o desenvolvimento da capacidade de participar podem tornar mais equitativas as associações entre as comunidades, ONG e autoridades municipais;

9.       O desenvolvimento comunitário planejado por pessoas alheias à comunidade e que desta apenas esperam trabalho gratuito não é bem aceito pelas comunidades a longo prazo;

10.   O planejamento da participação é um dos aspectos frequentemente mais ignorados no desenvolvimento comunitário;

11.   A caridade torna as pessoas dependentes das ajudas;

12.   O desenvolvimento comunitário é um contributo essencial para a gestão urbana global.

Desenvolvimento comunitário pressupõe sair da zona de conforto da caridade

Se pudermos, enquanto representantes de programas de voluntariado corporativo, prestar atenção a esses fatores nas ações que queremos propor junto às comunidades parceiras, estaremos mais perto do desenvolvimento social que almejamos.

A visão caritativa e assistencialista do voluntariado, apesar de mais cômoda, aos poucos vem sendo desconstruída.

Isso mexe na zona de conforto de todos os envolvidos, até mesmo daquelas instituições que preferem receber sem exercer contrapartidas.

Vamos substituir nossa maneira de pensar e de intervir por uma via mais inclusiva?

Apenas quando somos todos agentes, é que todos ganhamos.