Voluntariado Empresarial: a grande fábrica de benefícios

Em todo 28 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Voluntariado no Brasil e em 2020, o tema do voluntariado ganha uma conotação singular vistos os desafios que enfrentamos de ordem nacional e mundial.

Mais uma vez, provou ser uma coordenação essencial pela sobrevivência humana, mostrando que sem o mútuo apoio não resistiríamos e não resistiremos enquanto espécie.

Virtualize!

De forma maioritariamente online, e outras vezes presencialmente, os voluntários mantiveram-se na linha de frente do amparo e apoio em diversas áreas, e aí os programas de voluntariado empresarial receberam o chamado de se adaptarem para viabilizarem-se como também recurso.

Afinal, esse ano celebramos a nossa capacidade de sermos mais sociais e colaborativos, pois ainda que convivendo com divergências de múltiplas ordens, a solidariedade é claramente o laço que nos une.

Esse artigo é um estudo crítico, de forma a rever o que se pode dizer dos benefícios do voluntariado para todos os públicos envolvidos, para que assim possamos nos estruturar junto aos aprendizados oferecidos pela pandemia e os seus efeitos.

Uma escolha ética: “O voluntariado sempre traz ganhos para todos”

Sabe o jogo de ganha-ganha? Em que todos são beneficiados, e não apenas um ganha e o outro perde? É um conceito bastante utilizado, não?

Isso até me faz lembrar aquela famosa crônica do Rubem Alves: Tênis & Frescobol, na qual o mesmo compara as relações entre esses dois esportes, em que o primeiro representa uma relação de adversários e o segundo uma brincadeira de manter a bola sempre no ar.

Como sabemos, o voluntariado é muito isso, uma atividade em que todos os envolvidos saem ganhando, e como diria minha amiga consultora, Flávia Moraes, mais do que isso: o voluntariado é jogo de “ganha-ganha-ganha”, ou seja, ganha a empresa que o promove, ganham os colaboradores e equipes que o realizam, e ganha a comunidade ou instituição parceira com quem se realiza o trabalho.

O voluntariado, antes de qualquer benefício, estabelece ou espelha uma postura ética diante do mundo: o cidadão ou a empresa que o promove reconhece a natureza do bem comum e a necessidade de promovê-lo.

A ética na motivação

Já fiz aqui, há menos de um ano, um artigo chamado 5 benefícios que o Voluntariado traz para sua empresa, no qual é possível resgatar o quanto essa atividade é importante para o ambiente corporativo.

De fato, não é o objetivo primário do voluntariado o desenvolvimento e o ganho interno para a empresa que o promove. Sob essa ótica, se fosse um indivíduo o promotor, diríamos que aí seus objetivos seriam mais egoísticos que altruístas.

Da mesma forma a empresa quando o seu interesse é primordialmente voltado para si: se ela deseja provar em primeiro lugar a importância do voluntariado para si mesma, não compreendeu a sua importante função num contexto social e ambiental sistêmico e nem o quanto o ecossistema de ganha-ganha-ganha é pré-requisito para a sobrevivência.

Dito isso, vale dizer que a empresa não pode capturar o voluntariado para interesse próprio, em primeiro lugar porque isso é de uma lógica da ética maquiavélica: “usar a vulnerabilidade alheia para capacitar minha equipe”, e em segundo lugar, porque “interesse próprio”, “ganho próprio”, ou privado, não subsiste mais na lógica social daqui pra frente, ou seja: não é inteligente.

Primeiras coisas primeiro

Logo, o primeiro benefício do voluntariado para a empresa é fazê-la repensar-se enquanto sujeito econômico e social dentro de uma nova lógica de economia, e firmar o seu papel cidadão nesse sistema em que opera.

Depois da prática legitimada por intenções legítimas, aí sim virão os benefícios subjacentes da ação voluntária, aqueles ganhos que são consequências (e não fim) para a empresa que começa a navegar ou fortalecer o seu voluntariado.

Falando sobre benefícios

Vamos a eles:

  • Melhora o seu relacionamento com o entorno.

Muitas vezes, grandes empresas se estabelecem em uma determinada área trazendo transtornos para a população. Uma maneira muito eficiente de diminuir essa insatisfação é estabelecer diálogo com as comunidades e propor que elas se desenvolvam junto com o crescimento da empresa, por meio do voluntariado.

  • Melhora a percepção de produto por parte dos clientes e a imagem da marca “ganha pontos” com seus clientes e com a sociedade

Quanto mais transformações benéficas a sociedade experimentar, maior será a quantidade de pessoas que terão acesso a recursos abundantes. Isso implica em mais poder de consumo, e um consumo mais consciente.

Empresas de consciência mediana imaginam que o consumo consciente significa perdas, mas isso não é uma verdade. Um consumidor ciente da melhor maneira de usar um produto pode trazer economia ou mesmo aumentar as vendas de uma empresa.

Dados comprovam

Um dado interessante sobre isso é que no estudo Marketing Relacionado à causa II, de setembro de 2019,  77% da população espera que as empresas contribuam mais para a sociedade, e que invistam cada vez mais nisso.

Cada vez mais, a sociedade vem se preocupando em consumir produtos e contratar serviços de instituições que atuem com responsabilidade. E a conta é simples: se cresce a noção de responsabilidade social dos consumidores e não cresce a da empresa, quem sai perdendo são as organizações que não se adaptam.

Na pesquisa desse ano feita pelo IDIS, Brasil Giving 2020, a maioria pensa que as empresas efetivamente têm um papel importante a desempenhar no apoio à sociedade civil.

“Mais de oito em cada dez pessoas concordam que as empresas brasileiras devem ajudar a apoiar as comunidades locais em que atuam (86%) e que as empresas internacionais devem ajudar a apoiar as comunidades em que atuam ao redor do mundo (83%). As mulheres são mais propensas que os homens a concordar que as empresas brasileiras devem ajudar a apoiar as comunidades locais em que atuam (89% contra 82%)”.Brasil Giving 2020

“Os brasileiros olham positivamente para as empresas que apoiam organizações sociais; sete em cada dez (71%) concordam que estariam mais inclinados a comprar um produto ou serviço de uma empresa que doa a causas sociais ou que apoia sua comunidade local. As mulheres em especial são mais propensas a levar isso em consideração ao comprar um produto ou serviço (77% contra 65% dos homens)”. Brasil Giving 2020

Sobre o engajamento

As empresas querem seus colaboradores engajados para produzir mais, melhor e felizes e muitas vezes lançam mão do voluntariado para fortalecer essa cultura colaborativa.

O que a pandemia nos mostrou foi que o que gera engajamento é uma necessidade “verdadeira e evidente” em comum, e não um discurso de “vamos lá galera!” com compromisso de causa disperso ou mal justificado.

Então, se os colaboradores não estão comprando a causa da empresa (a sua forma de fazer negócio), dificilmente irão comprar a causa social da empresa (que é a sua forma de fazer negócio também, mas na sua relação com o todo, com o social).

O que quero dizer com isso é que os benefícios com o voluntariado no quesito engajamento, liderança, gestão e cultura colaborativa só virão depois de uma responsabilidade social interna bem coerente: se não cuido bem de mim, não consigo cuidar dos outros. Se não cuido bem da minha família, pega mal cuidar da família dos outros.  

A atuação das lideranças para o engajamento genuíno

Não faltam evidências de que o voluntariado contribui para o engajamento dentro da empresa, mas para mantê-lo é necessário desenvolver lideranças responsáveis dentro de uma cultura organizacional coerente.

E nesse caso, liderança responsável é aquela “esperta” (capacitada) ao ponto de perceber que explorando (ou seja, com relações de ganha-perde) não se chega a lugar nenhum.

Então o voluntariado traz em perspectiva a cultura colaborativa como uma forma de aprender para dentro e para fora da empresa. Com o voluntariado se aprende o quanto que o ser humano é movido pelo bem-comum, e isso ficou provado agora com a quantidade de mobilização diante da pandemia.

Mais alguns dados

Ainda que, de acordo com o Brasil Giving 2020, a proporção de brasileiros que fez trabalho voluntário não mudou desde 2017: pouco mais da metade (53%) se voluntariou nos últimos 12 meses (contra 53% em 2018 e 52% em 2017).

O que se observou, na contramão das estatísticas oficiais até então, foi que durante a pandemia aconteceu um contingente enorme de mobilização social, formal e informal.

Metas de envolvimento voluntário nas empresas

O BISC de 2019 trouxe que a maioria das empresas queriam envolver mais de 15% dos colaboradores em ações de voluntariado. Mas o quanto isso tem a ver com os benefícios do voluntariado?

Ir até a ação, pintar uma parede e tirar uma foto é índice de engajamento?

Se era, agora não será mais, pois com a demanda pelo voluntariado digital, as ações prescindem de uma relação mais perene com a causa, ainda que à distância, e para isso um envolvimento mais contínuo será demandado e esse número poderá cair. Mais a frente falarei um pouco sobre essa questão dos ganhos do voluntariado digital.

Engajamento interno e colaboração

Pesquisas mostram que os colaboradores que participam das ações voluntárias promovidas pela empresa são 16% mais engajados que os demais. Além de outros benefícios. O próprio V2V possui um infográfico sobre engajamento que de acordo com minhas pesquisas continua com os dados compilados mais atuais. 

De acordo com o último BISC, “mais de dois terços das empresas concorda totalmente com a afirmação de que o trabalho voluntário traz gratificação pessoal e contribui para o crescimento profissional dos seus colaboradores”.  Dos maiores benefícios os respondentes elencam:

  • Os colaboradores adquirem consciência social –  69%
  • Os colaboradores se sentem gratificados pela oportunidade de contribuir para a sociedade – 85%
  • Os colaboradores desenvolvem competências técnicas úteis à carreira profissional – 54%
  • Os colaboradores desenvolvem sua criatividade – 69%
  • Os colaboradores ficam mais satisfeitos com a empresa – 54%
  • Fortalece o espírito de equipe dos colaboradores – 69%
  • Aumenta a produtividade dos colaboradores – 46%

Por outro lado, o que mais motiva os colaboradores para o voluntariado é:

  • Sentir satisfação/gratificação em apoiar o próximo – 85%
  • Acreditar na causa – 69%
  • Desenvolver novas habilidades – 46%

Os gestores (77%) acreditam que “Participar de um programa de voluntariado incentivado pela empresa” motiva os colaboradores, mas apenas 20% acha o mesmo, o que demonstra uma extrema necessidade de comprovar e demonstrar aos voluntários colaboradores os benefícios do voluntariado empresarial, uma vez que os mesmos não conseguem perceber isso.

É importante demonstrar como Voluntariado é solução.

Faz-se oportuno relacionar como o trabalho voluntário é um excelente aliado das melhores práticas de gestão de pessoas, uma ferramenta disruptiva de desenvolvimento de competências e lideranças, team building, retenção de talentos, e de um clima organizacional mais vivo quando praticado num contexto coerente.

Esse trabalho de coração e solidariedade, exercido em ambientes de necessidade social, pode também gerar estruturas de equipes mais horizontais e cooperativas. Para se aprofundar nesse assunto baixe nosso e-book gratuito “Desafios de RH e Soluções a partir de mobilização social”.

Os benefícios em competências

Por meio do voluntariado os colaboradores aprimoram e revelam novas habilidades.

O desempenho de um colaborador se engajando em um programa de voluntariado é uma das coisas mais bonitas que existem. Pessoas extremamente técnicas em suas funções profissionais descobrem um mundo novo, uma forma de operar em situações de recursos escassos, desenvolvem habilidades de relacionamento interpessoal com públicos de realidades completamente distintas da bolha empresarial, e levam um banho de realidade conhecendo a vida como ela é.  

Uma forma natural de descobrir habilidades

Investir em Voluntariado Corporativo é uma forma natural de descobrir habilidades dos colaboradores e identificar novos líderes, além de desenvolver suas competências substituindo treinamentos entediantes por vivências ricas e cheias de significado. Citando algumas das competências que podem desenvolvidas através do voluntariado:

  • Empatia
  • Trabalho em equipe
  • Curiosidade e facilidade de aprendizagem
  • Resolução de problemas
  • Persuasão
  • Autoconfiança e automotivação
  • Liderança
  • Engajamento
  • Proatividade
  • Criatividade, inovação
  • Autodesenvolvimento
  • Capacidade de lidar bem com os momentos ruins
  • Senso de organização
  • Inteligência emocional
  • Capacidade de analisar situações
  • Coragem e assertividade

Retirei esses tópicos dessa listinha aqui, mas no nosso blog temos algumas matérias que desenvolvem o assunto dos ganhos de competências de uma forma mais completa.

Os benefícios do voluntariado online

O primeiro benefício do voluntariado online para o momento é a continuidade.

Uma pesquisa chamada Informe: Situación Del Voluntariado Corporativo En Latinoamérica Ante El Covid-19, realizada em junho de 2020, com um total de 128 empresas em 10 países da região, mostrou que em maio desse ano 39% das empresas ainda não sabiam quais atividades de voluntariado iriam realizar, e das empresas que já teriam definido suas estratégias, 73% das atividades atacariam os problemas gerados pelo COVID-19.

E diz ainda que 4 de 5 atividades serão virtuais, e sendo assim, 46% dos voluntários mobilizados foram (ou serão) virtuais, contra 14% em 2019.

Oportunidade no voluntariado de competências

Pesa nesse momento toda uma segurança e processos que as empresas precisam desenvolver para focar maioritariamente em ações online, mas a pesquisa levanta uma grande oportunidade de realizar atividades de voluntariado de competências.

(Fonte: Osmia)

É interessante perceber, por exemplo, como que no Brasil, conforme o Bisc 2019, apenas 8% das iniciativas se pretendia digital, quando 92% das atividades eram em grupo e propostas pela empresa, e como agora o cenário muda completamente. Nesse sentido, a Telefónica Vivo se tornou até agora um bom exemplo de como se adaptar às novas contingências, assim como a ViacomCBS.

Os benefícios do voluntariado para comunidades e entidades parceiras

Mais avaliados que inferidos, esse deveria ser o caminho da mensuração de resultados do voluntariado para as entidades parceiras.

Ao mesmo tempo, um paradoxo: pois benefícios profundos como “o sorriso de uma criança” são mais inferidos, ou sentidos do que, medidos. Ou seja, a coisa é mais subjetiva que simples números “de impacto”.

Esse e outros dilemas traduzem as dificuldades em medir os resultados ou impactos de um programa de voluntariado na realidade em que operam.

O que está claro

Cada programa, cada projeto, cada território trazem a sua tentativa de ilustrar as mudanças, e observam-se algumas características compiláveis nesse quesito:

– quanto mais intensiva, extensa e contínua uma ação, maior a sua transformação, em termos de alteração de realidades.

– quanto mais pontual uma ação, menos profunda é a transformação, mas maior pode ser o seu alcance, ainda que superficial.

Ou seja, há que compreender com a realidade local quais tipos de ações são esperadas por meio da participação voluntária: no acordo entre planejado e o cumprido estará a satisfação da ação, quando também acompanhados de processos cuidadosos e valorosos (empático, cheios de diálogo, boas emoções e aprendizados).

A pesquisa da Brasil Giving 2020 mostra que a percepção das parcerias entre empresas e instituições sociais em bem positiva:

“Parcerias entre empresas e organizações sociais são algo que a maioria dos brasileiros apoia; oito em cada dez pessoas (80%) concordam que as organizações sociais e organizações sem fins lucrativos devem fazer parcerias com empresas para atingir seus objetivos. Metade (49%) concorda que as organizações sociais e organizações sem fins lucrativos que têm algum apoio corporativo são mais confiáveis do que as que não possuem. Essa visão é mais comum entre os grupos etários mais velhos (57% das pessoas com 55 anos ou mais, em comparação com 43% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos)”. Brasil Giving 2020

Resiliência comunitária

O último  Informe Sobre o Estado do Voluntariado no Mundo – 2018, a propósito, teve como tema: ‘O Laço que nos une: voluntariado e resiliência comunitária’ no sentido de demonstrar o quanto o voluntariado e a solidariedade promovem a resiliência comunitária.

“Como este relatório demonstra, os voluntários estão na linha de frente de cada uma das grandes crises e tensões mundiais, respondendo a problemas de todas as dimensões dentro das várias comunidades. este cenário varia de um país para outro, e está mudando porque os desafios estão cada vez mais complexos.” (IEVM – 2018)

E são dele alguns insights:

  • O voluntário local é uma estratégia fundamental e está presente nas comunidades resilientes.
  • O voluntariado local favorece estratégias coletivas para gerenciar e lidar com riscos e crises.
  • As características do exercício local do voluntariado que são mais valorizadas pelas comunidades são a capacidade de auto-organizar-se e de estabelecer laços e vínculos intrapessoais
  • O voluntariado é especialmente importante para os grupos mais vulneráveis e marginalizados.

Escuta ativa!

Sobretudo para a atuação de uma empresa que pretende realizar um trabalho com comunidades e instituições, uma das questões mais importantes é manter a comunidade no centro, possibilitando a melhor escuta possível de suas demandas e recursos.

Para que assim o máximo do esforço e recursos empreendidos possam ir ao encontro de necessidades específicas, que quando sanadas, melhoram a vida de todos.

Só é possível prosperar num contexto próspero.

Qual sua posição crítica sobre o assunto dos benefícios do voluntariado a partir de agora?

Dê a sua opinião nos comentários abaixo, será um prazer dialogar com você.

Bruno

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