Responsabilidade Social: do discurso à prática – 5 dicas para uma gestão eficiente

Conceito de responsabilidade social corporativa.

De acordo com da pesquisa da CAF – Charities Aid Foundation, 80% das empresas investem em Responsabilidade Social Corporativa pois acreditam que essa temática desenvolve os objetivos e a cultura da empresa.

Você sente que a sua empresa acredita e aplica genuinamente Responsabilidade Social?

A coerência entre discurso e prática

A tendência pela desconfiança no posicionamento socioambiental das empresas é fruto de possíveis faltas de coerência entre discurso e prática.

Um desencontro entre o que está atestado nos relatórios de sustentabilidade e o que colaboradores, clientes e demais stakeholders experenciam na prática, acabam interferindo na credibilidade das ações sociais e ambientais propostas pelas organizações.

Mas não somente isso. Segundo a pesquisa já citada, para 55% dos respondentes, os projetos consistentes de Responsabilidade Social melhoram a reputação da empresa, o que significa que ações vazias e descoladas da prática são uma ameaça para o valor intangível das empresas e para todas as suas relações.

O risco reputacional fica ainda mais iminente diante do volume de informações disponíveis na internet aliadas à cultura do cancelamento ou ao boicote de clientes. 

Os consumidores atuais não querem relações com empresas que prejudicam e estabelecem relações predatórias.

“A Responsabilidade Social continua correlacionada com a reputação das marcas. 93% dos consumidores dizem que esse fator tem impacto na imagem positiva das empresas, 90% estão mais propensos a confiar nessas marcas e 88% admitem tornar-se mais fiéis. Quando os consumidores têm a hipótese de escolher entre dois produtos com preços aproximados, 90% afirmam optar pela marca com melhor percepção em termos de Responsabilidade Social” (Executive Digest, 2020).

Dificuldades em criar e manter as práticas de RSC

Grande parte da ineficiência dos empresários em desenvolverem negócios mais sociais tem relação com a cultura de administração obtusa, que não promove a gestão sistêmica e não contextualiza esses negócios em uma cadeia integrada de valor.

De acordo com a pesquisa, apenas 26% das empresas percebem como a Responsabilidade Social Corporativa ajuda a identificar novas oportunidades de mercado e a inovar em produtos e serviços. Mesmo que o ecossistema de negócios de impacto cresça dia a dia e se consolide como modelo perene de operação e estratégia.

Há ainda uma dificuldade para além de conceber negócios socialmente responsáveis: a operacionalização dessa prática. Basta notar como o fato de gerar esse valor interfere na competitividade das empresas por custo, vide a diferença de valores entre produtos orgânicos ou não.

Mas isso, ao mesmo tempo, provoca ponderações entre o que se obtém de retorno em curto, médio e longo prazo.

As práticas socialmente e ambientalmente responsáveis são mais sustentáveis e levam valor crescente aos negócios em prazos nem sempre imediatos. Porém, são extremamente indicados, diante do fortalecimento das avaliações por critérios de ESG.

Então, como podem ser adotadas práticas para uma Responsabilidade Social “de raiz” que seja mais efetiva, saia do discurso, possua baixo custo e confira credibilidade à empresa praticante?

Não há fórmulas mágicas

Você acha que existe uma resposta única para tudo isso?

Infelizmente não, pois as soluções são construídas com continuidade e resiliência, sem uma resposta mágica.

Contudo, existem caminhos que podem ser balizadores. Esses caminhos vão ser tratados a seguir, utilizando como substrato e ferramenta nossos queridos e incríveis programas de voluntariado corporativo.

Conceito de RSC. Metas de desenvolvimento sustentável.

5 dicas para uma gestão eficiente

1. Começar de dentro

Um bom caminho para uma transformação no sentido da Responsabilidade Social é começar “cuidando de casa”.

Práticas e discursos sociais externos sem correspondência interna são um contrassenso e um tiro no pé. Por isso, é notório que em Responsabilidade Social Corporativa se comece da responsabilidade interna.

Dito isso, além das responsabilidades básicas com os seus colaboradores, tente exercer o caminho do cuidado e do diálogo, possibilitando que nesse momento eles se sintam acolhidos e convidados a pensar, junto aos seus gestores, como a empresa pode ser mais inclusiva e humanizada.

Um programa de voluntariado pode proporcionar o espaço ideal para esse movimento, quando um grupo de trabalho pensa de forma conjunta e sugere:

 “Ok, como podemos nos cuidar internamente, para então cuidarmos de quem precisa lá fora da empresa?”

Ás vezes, soluções simples como flexibilização do horário de trabalho, práticas de liderança mais civilizadas, adequações de layout nos espaços de trabalho presenciais e físicos e processos de feedback e de escuta proporcionam outro fôlego para o time de colaboradores.

Esse envolvimento realizado de forma bottom up, ou seja, junto ao time e não para o time, garante ainda mais a credibilidade de todo o processo. É mais democrático e possivelmente mais demorado, mas melhor aceito.

2. Ser simples e não dar um passo maior que as pernas

Desenvolver cultura de Responsabilidade Social é algo que exige persistência e continuidade.

Se uma transformação cultural não é feita do dia pra noite, essa transformação, além de uma boa comunicação, prescinde de atitude por parte de todos e de mudança de comportamento que possa até ser mensurada em avaliação de desempenho, pois a consciência socioambiental sem ação não vale nada.

Então, um caminho para isso é estimular pequenas atitudes no dia a dia, como o uso consciente de papel e energia, a gentileza no trato entre as pessoas e as ações solidárias na comunidade.

E projetos sociais voltados para a Responsabilidade Social externa não precisam ser ambiciosos de partida mas sim realistas e caprichados, de forma que sua execução não seja um fardo para a empresa, em nível orçamentário ou de gestão.

Os programas de voluntariado são ótimos para isso, pois envolvem os colaboradores com a comunidade para  a execução de planos de ações possíveis, exequíveis dentro da rotina já atribulada dos profissionais das empresas e também da vida atarefada das comunidades e instituições parceiras.

3. Não prometer o que não pode cumprir

Prometer o que não pode cumprir tem grande relação com o item anterior.

Aqui é provocada a sobriedade nas metas de Responsabilidade Social interna e externa. Isso porque compromissos não cumpridos geram ainda mais descrédito no processo de se tornar uma empresa reconhecida por suas práticas socioambientais.

No caso dos projetos sociais isso é ainda pior.

Já sabemos que as comunidades mais vulneráveis pelo Brasil, assim como as instituições sociais, estão cansadas de promessas não cumpridas, não é mesmo?

E sua empresa não pode ser mais um vetor de descrédito no sistema. Pelo contrário, deve se colocar como parceira na construção da confiança no desenvolvimento social integrado, um vetor de resiliência e de cumprimento dos acordos e metas.

Nos programas de voluntariado esse aspecto também precisa ser muito bem cuidado, ainda mais pela natureza não obrigatória do serviço (o que não significa não ter compromisso).

Quando um voluntário pensa em falhar numa ação, ele precisa entender que alguém do lado de lá se organizou para receber a ação, seja uma aula de inglês, seja uma visita ao hospital.

Por isso, o compromisso refletido no voluntariado espelha o compromisso macro da empresa com o social e com a forma com que estabelece relações.

A sua empresa anda entregando o que promete, nos prazos que promete?

4. Trabalhar em comitês participativos

Criar grupos de trabalho dentro da empresa, mas também com parceiros e comunidade, é uma prática aliada que, como já sabemos, dá certo.

Grupos de trabalho para pensar o tema da diversidade, da gestão de recursos de forma sustentável, da aplicabilidade do código de ética, do relacionamento com a comunidade e do voluntariado ajudam a dividir a carga da gestão e tornam o processo mais participativo, o que, como venho sempre dizendo, é mais efetivo.

Grupos de trabalho com a participação de colaboradores possibilitam que as ideias surjam a partir do conhecimento que esses colaboradores têm da empresa, do negócio e da comunidade. Possibilitam ainda soluções viáveis e de baixo custo e facilitam a entrega e a continuidade das práticas de Responsabilidade Social.

Os comitês de voluntariado já vêm trabalhando essa lógica há algum tempo, com bastante sucesso, mesmo porque os colaboradores que fazem parte da comunidade são um vínculo muito pessoal entre os interesses da empresa, dos colaboradores e da comunidade. Tudo isso  possibilita o alcance de metas muito mais transformadoras.

5. Considerar e envolver parceiros

Não dá para fazer tudo sozinho. Seja qual for a sua estratégia de Responsabilidade Social, você vai precisar de parcerias. E também de uma estratégia de parcerias: veja este exemplo  para programas de voluntariado corporativo.

Você pode contar, para além dos parceiros internos, com aliados como: fornecedores, empresas do mesmo setor e território, organizações sociais, Estado, escolas, cooperativas, clientes, grupos voluntários e pessoas-chave da comunidade.

Todos esses atores têm os seus próprios desafios mas também têm propósitos e causas em comum, como desenvolver melhorias em territórios e nas comunidades do entorno.

Alguns deles terão os recursos para garantir a transformação desejada, sejam financeiros, sejam pessoas.

Por isso, essa última dica é para que você não pense em sua Responsabilidade Social Corporativa como algo isolado mas sim como algo integrado.

E também para que atue em conjunto, a fim de transformar o contexto em que sua empresa está inserido e fazer todo mundo prosperar. Consequentemente, sua empresa será também próspera e perene, num ciclo virtuoso.

Assim, aprenda com seus voluntários, envolva-se com seus stakeholders e coloque as mãos na massa por um mundo melhor!