Como já falamos aqui, um dos maiores obstáculos para a atuação voluntária é a falta de tempo. Mas a boa notícia é que a oferta de ações de voluntariado a distância é cada vez maior e mais inovadora. Por exemplo: você já pensou em ajudar um deficiente visual mesmo que não esteja frente a frente com um? O dinamarquês Hans Jørgen Wiberg pensou. E agora qualquer pessoa pode fazer isso – inclusive os voluntários da sua empresa.
“Se eu tivesse um par de olhos uma ou duas vezes por dia, eu poderia fazer muito mais coisas sozinho…”. Hans Wiberg ouvia isso frequentemente em seu dia-a-dia de trabalho, na Danish Blind Society, onde ensinava cegos a cozinhar sozinhos.
Quando um cego se depara com uma atividade corriqueira como ver a validade de um produto na cozinha, ele tem que ir até a pessoa mais próxima, muitas vezes o vizinho, para pedir ajuda. Ao ver seus amigos cegos usarem o Skype e o Face Time para resolver pequenos problemas, Hans teve a brilhante ideia de criar um aplicativo, onde um cego pode pedir ajuda a uma pessoa que enxerga, aleatoriamente, em qualquer lugar, a qualquer hora.
Sucesso instantâneo
O aplicativo Be My Eyes, que conecta pessoas cegas ou com baixa visão com voluntários que enxergam, foi lançado há duas semanas e é um sucesso: são 104 mil voluntários prontos para ajudar 8 mil pessoas com problemas de visão, em 80 idiomas diferentes. Nestas duas semanas, foram feitos mais de 23 mil atendimentos.
Vejam como funciona. Simples, como tudo que é genial:
Contactei Hans Jørgen Wiberg pelo skype, para conhecer um pouco mais da história. Ele gentilmente me atendeu e conversamos por quase meia hora. Ele virou uma celebridade com este projeto. O telefone toca todo o tempo com pedidos de entrevistas do mundo inteiro: só esta tarde, foram duas para a BBC de Londres (TV e Radio). Ele recebeu mais de 3 mil emails de pessoas comuns e famosas e de empresas querendo ajudar. O fundador do Twitter, Jack Dorsey, telefonou pra ele, oferecendo apoio. Ele nem sabia quem era: “Jack who?”, perguntou. Os apoios que estão sendo planejados são confidenciais ainda, mas além de Dorsey, uma grande fabricante de telefones está também em contato com ele.
Perguntei se havia algum plano para monetizar este aplicativo, cobrando de quem pode pagar e oferecendo gratuitamente a quem não pode. Ele ficou acanhado e disse que não se sentiria bem cobrando por isso, mas disse que muita gente se oferece para pagar e que outros tantos teriam necessidade de uso mais intensivo e estariam dispostos a pagar por isso. Enfim, acho que o assunto vale uma reflexão. Imaginei um botão de compra diferente, com a possibilidade do usuário dizer que valor gostaria de pagar por aquilo, desde USD 0,00 a infinito, por livre escolha. Algo como fez a banda Radiohead, que lançou o álbum In Rainbows, em 2007, em que a pessoa poderia escolher se pagaria e o quanto pagaria pelo download, bem como poderia comprar o disco físico. Foi um sucesso total: o faturamento com as “vendas” digitais sozinhas, no pre-release, superaram o do disco anterior inteiro e no total foram vendidas mais de 3 milhões de cópias (digitais e físicas). Me lembra um tagline que vi em um site de conteúdo gratuito: “it’s free, but it’s expensive – donate”.
Vivendo a experiência de ajudar e ser ajudado de longe
Por fim, tive uma experiência de uso. Depois de me cadastrar na semana passada, esperei ansiosamente por alguém que precisasse de meus fracos olhos (tenho visão subnormal, embora tenha uma vida totalmente independente, com poucas limitações – nada que uma lente de aumento não resolva). Como sempre, há muito mais voluntários disponíveis que pessoas precisando de ajuda, mais precisamente 13 pra 1, no Be My Eyes. Então, não tendo tido a sorte de ajudar ninguém em uma semana, resolvi fazer um novo cadastro, desta vez como deficiente visual. Peguei uma lata de tabaco a minha frente (também nórdico, coincidentemente), que eu sabia que estava pra vencer, e resolvi não usar a lente de aumento. Abri o aplicativo e apertei o botão: em cerca de 30 segundos, um voluntário atende, em português, visivelmente surpreso e bastante solicito: “é, Bruno, seu produto está vencido”. Eu disse obrigado e desligamos. Estranho, mas certamente, nunca mais o verei e ele perecia ser um cara bem legal.
Agora é com você
Convide os colaboradores da sua empresa a participarem desta iniciativa! Prepare um material de divulgação e espalhe a notícia. Há basicamente quatro maneiras de ajudar:
- Cadastrando-se e ajudando diretamente um deficiente visual
- Divulgando a iniciativa aos deficientes visuais para que se cadastrem e sejam ajudados. Como o aplicativo é recém-lançado, são poucos os que o conhecem, principalmente no Brasil.
- Se a organização possui colaboradores ou familiares com deficiência visual, estimule que baixem o aplicativo e se cadastrem.
- Doando iPhones usados a deficientes visuais. Por enquanto a plataforma só roda no sistema iOS, que é o mais adaptado para pessoas com baixa ou nenhuma visão – mas ainda assim, no Brasil são poucos os que possuem este aparelho.
Os funcionários se sentirão felizes por ajudar de um jeito tão simples e fazer parte deste mundo cada vez maior do Voluntariado Digital.
Não tem app em portugues?
Oi Maricel, infelizmente ainda não! O app foi feito por estrangeiros, por isso é em inglês.
GOSTARIA MUITO DE TER A OPORTUNIDADE DE PODER AJUDAR ALGUÉM COM ESTE PROJETO.
Oi Caetano, basta instalar o app no seu celular e se colocar à disposição para ajudar outros usuários. Boa sorte!
Boa noite, gostaria mto de ajudar mas meu aparelho é Android, infelizmente aqui no Brasil o aparelho com ios é mto caro. Será q vcs teem uma previsão de qdo esse aplicativo vai rodar no Android????
Oi Luís, neste post apenas divulgamos o aplicativo. Para conversar com os criadores do app, entre diretamente no site deles: http://www.bemyeyes.org/.