Para o post dessa semana convidei o amigo português especialista em voluntariado Afonso Borga. O Afonso é Mestre em Estudos de Desenvolvimento, trabalha na área da responsabilidade social por vocação e é entusiasta das letras e da comunicação.
Espero que um olhar do lado de cá do oceano possa oferecer ótimos inputs para quem está no Brasil, assim como acontece comigo. Boa leitura!
(Bruno Morais)
Novos Desafios para o voluntariado corporativo
por Afonso Borga
A pandemia que estamos a viver veio mudar o modo como nos relacionamos e como vivemos em comunidade e, consequentemente, colocou em suspenso ou em risco o desenvolvimento de voluntariado presencial.
Ainda que seja cedo para percepcionarmos uma grande parte dos efeitos dessas mudanças, as normas de distanciamento social e de restrições no comportamento social trouxeram novos desafios, acentuando em muitos casos o isolamento social, mas também novas oportunidades, de fortalecimento do sentido de comunidade, de pertença, ou do reforço de programas de Responsabilidade Social Corporativa.
O Voluntariado de competências
São cada vez mais as empresas que têm vindo a desenvolver ações e programas de voluntariado corporativo, enquanto ferramenta que permita uma efetivação da responsabilidade social e da visão que a empresa tem do seu papel na sociedade.
Neste âmbito, as formas de atuação da empresa com a comunidade têm, nos últimos anos, vindo a evoluir em torno da disponibilização de know-how relacionado com a respetiva área de negócio e das competências dos colaboradores, numa vertente de voluntariado de competências.
O voluntariado de competências trata-se de envolver os voluntários em práticas onde estes possam utilizar as suas competências profissionais, disponibilizando assim o seu conhecimento técnico e know-how específico ao serviço de necessidades de entidades da Economia Social.
Paralelamente, esta vertente do voluntariado torna possível que, mesmo em tempos de pandemia e fazendo uso das novas tecnologias, empresas possam continuar a desenvolver os seus programas de Voluntariado Corporativo aportando valor em organizações parceiras. Vejamos alguns exemplos adiante.
Exemplos de Voluntariado de competências
Um exemplo de voluntariado de competências que se desenvolveu muito durante os últimos tempos é o de empresas na área da Tecnologia que disponibilizaram colaboradores para darem formações técnicas de informática a organizações sociais, facilitando, por exemplo, o uso de ferramentas de teletrabalho.
Também neste âmbito temos o exemplo do projeto Student Keep, iniciativa que angaria equipamentos de informática para doar aos alunos que não têm acesso a estes equipamentos para acompanharem aulas online, e que contempla também suporte técnico de voluntários que ajudam na configuração e manutenção de equipamento e apoio técnico remoto.
Outro exemplo refere-se a empresas de comunicação que disponibilizam colaboradores para desenvolverem sites ou campanhas de comunicação para organizações sociais, ajudando assim numa vertente muitas vezes pouco desenvolvida no seio da Economia Social, que diz respeito à comunicação das organizações e que ajuda quer em termos de visibilidade como, por exemplo, de fundraising.
Por fim podemos dar o exemplo de empresas ligadas ao setor da banca, que desenvolvem programas de literacia financeira para públicos vulneráveis, promovendo quer uma melhor gestão dos orçamentos familiares quer uma tomada de decisões financeiras mais conscientes e esclarecidas.
Continuar… no meio de uma pandemia
Se há algo que a pandemia nos veio mostrar é que, mais do que nunca, precisamos de organização e colaboração entre diferentes sectores, com vista a uma melhor gestão dos recursos disponíveis e para o reforço do papel e contributo que cada organização tem na sociedade.
Assim, no que toca ao voluntariado corporativo, as empresas devem reforçar a ligação à sua comunidade local, fomentar o contacto regular com os seus parceiros, estabelecendo uma comunicação direta e identificando necessidades e oportunidades de sinergias.
No seio das empresas, como forma de envolver e motivar os recursos humanos importa também dar voz aos colaboradores e perceber que preocupações, ideias ou estratégias estes pensaram para dar resposta a necessidades das comunidades locais, quer numa óptica de urgência face à pandemia quer na criação de parcerias e trabalho conjunto a longo prazo.
*O Afonso Borga é Mestre em Estudos de Desenvolvimento, coordena o Programa de Voluntariado Corporativo do GRACE – Empresas Responsáveis, uma Associação de Empresas dedicada à Responsabilidade Social Corporativa. Paralelamente tem uma rubrica semanal sobre Voluntariado no Jornal Público, é locutor de rádio e formador.