Como um projeto de voluntariado pode desenvolver competências, inspirar, e possibilitar soluções nesse momento de tantas mudanças e incertezas? Esse post aborda 3 maneiras em que isso pode acontecer, levando em consideração alguns dos desafios do mundo do trabalho e da gestão de pessoas em 2021.
Voluntariado sempre foi solução para desafios
Pensar os projetos de engajamento voluntário como solução para questões do ambiente corporativo nunca foi um desafio.
A extensa vivência com esse tipo de iniciativa em uma diversidade de tamanhos e categorias de organizações sempre evidenciou o voluntariado como uma “fábrica de benefícios”, para dentro e para fora das instituições.
E isso não é diferente agora em que percebemos os desafios que os times de trabalho experimentam. E para esses nossos reveses contemporâneos, o voluntariado também fornece respostas, por meio de saídas colaborativas e solidárias.
Um relatório de tendências de aprendizagem no local de trabalho de 2021, da Udemy, trouxe algumas informações para o ambiente de trabalho atual, assim como o 2021 Workplace Learning Report do LinkedIn. Sempre observando as dinâmicas internas atuais e suas oportunidades de melhorias.
Esses e outros relatórios trazem em comum para 2021 o desafio das equipes de trabalho em ultrapassar as mudanças e limites trazidos, desde o último ano, pela pandemia da Covid-19. Tudo isso exige muita resiliência, pesquisa, e formação para vencer e manter os negócios funcionando.
Voluntariado proporciona um desenvolvimento estimulante
Inclusive, para o ano cresce o percentual da força de trabalho que está sendo aprimorada ou requalificada em comparação com o ano anterior.
Isso, de acordo com a pesquisa, é impulsionado principalmente por um número crescente de organizações que reconhecem a lacuna de competências e sua responsabilidade em preenchê-la.
Toda esse contingente de formações visa adequar as pessoas aos novos modelos de trabalho, só que essas capacitações podem ser:
– a) inspiradoras: na medida em que ressaltam a capacidade do ser humano aprender e se adaptar, ou:
– b) desanimadoras: quando, segundo a mesma pesquisa, quase metade dos colaboradores está insatisfeita ou indiferente aos programas de formação e desenvolvimento corporativo.
A boa notícia é que realizar o desenvolvimento de competências por meio do voluntariado pode ser uma fórmula que mitiga esse “tédio” diante dos treinamentos corporativos, quando situa os times de colaboradores em situações reais e desafiantes, fora do convencional, e ao mesmo tempo gera benefícios diretos e tangíveis para a sociedade.
Veja a seguir algumas oportunidades de utilizar o voluntariado como uma resposta a alguns desafios corporativos comuns nesses tempos.
3 desafios atuais para as equipes de trabalho e o voluntariado como ferramenta
1. Desenvolver autoconhecimento: em meio à incerteza, o autodomínio é uma habilidade valorizada
“Fortes habilidades de produtividade e saúde mental há muito são descritas como as características essenciais de uma liderança bem-sucedida.
Mas estudos mostraram que eles são cruciais em toda a organização.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), por exemplo, relatou que os transtornos de depressão e ansiedade custam à economia global US $ 1 trilhão a cada ano em perda de produtividade”. (Udemy)
A saúde mental e seus efeitos na produtividade e no ambiente de trabalho têm sido discutido com mais frequência nos últimos anos.
Aqui no blog temos uma matéria apenas sobre esse assunto, que foi também o tema do nosso post da semana passada.
Com base na necessidade/demanda por essas habilidades em: “lidar com as emoções em períodos de crise” (ampliada em 2020), é seguro dizer que os colaboradores em geral estão com dificuldades em controlar as suas mentes, e de assumirem o controle de seu tempo.
Ok, não é culpa dos funcionários, mas de um sistema que leva ao limite a capacidade das pessoas de lidarem com a pressão, planejar inúmeras tarefas, executar múltiplos papéis e gerenciar o estresse.
Mas um fato é que o bem-estar no “local de trabalho” é imperativo hoje, quando o trabalho adentra as nossas casas em home office, ambientes pessoais e familiares, que as vezes não possibilitam boas condições para tal.
Um estudo sobre a saúde mental
Um estudo realizado em março e abril de 2020 descobriu que a saúde mental de quase 42% dos entrevistados piorou desde o início do surto de COVID-19. E isso poderia explicar:
- Por que a procura por serviços de saúde mental tem crescido, principalmente nos setores dos serviços essenciais;
- Por que as pessoas buscam mais praticar meditação e afins, + 40.6% do que em 2019;
- E por que a demanda por habilidades de gerenciamento de estresse cresceu para o setor de saúde.
Voluntariado como parte da solução desse desafio:
O voluntariado entra nesse contexto como uma possibilidade de descompressão, aprendizado e oxigenação.
Por meio das atividades em ambientes de maior vulnerabilidade, pode-se proporcionar ao voluntário uma visão menos autocentrada da sua realidade, fazendo-o perceber como há pessoas sobrevivendo e lidando com muito menos, em contextos precários.
Ao conhecer a dor do outro é possível relativizar a própria dor, e sentir como estamos todos passando por momentos desafiadores, alguns, muito mais do que nós.
Além disso, o fluxo da dádiva é de mão dupla:
Quando eu doo o meu tempo e atenção, sempre recebo aprendizados em troca, e ainda saio da rotina tóxica. Deixo de apenas demandar da sociedade, me tornando um sujeito que entrega. E sem dúvidas, quanto mais se entrega, mais se recebe.
Em campo, o voluntário recebe principalmente gratidão, afeto, e uma troca humana que faz a diferença, nesse momento em que os nossos laços de humanidade estão sendo testados.
Um grupo de voluntários que cria ações, sobretudo para acolher outras pessoas, acaba acolhendo a si mesmo.
A caridade nesse sentido é a emoção que se vincula a solidariedade, o laço que faz perceber todos no mesmo barco. O trabalho ali, “de graça”, é vivido de forma mais integral e holística e assim não existem desafios que sobrevivam 🙂
Por isso, um tempo vivenciado em equipe no campo do voluntariado, nunca é tempo perdido, mas sim, um tempo de desenvolvimento coletivo, e os times de educação corporativa precisam investir nisso.
E atenção: um cuidado nesse ponto é não “capturar” a vulnerabilidade do outro de maneira egoísta, ou seja:
Não fazer um trabalho pensando apenas no bem-estar do colaborador, mas reconhecer de forma legítima que essa via precisa ser de mão dupla, e que em todos os casos, só é trabalho voluntário se a ação deixar um legado social e humano para quem recebe.
2. Criar um ambiente colaborativo: uma boa comunicação é essencial para a colaboração no trabalho remoto.
O processo de comunicação muitas vezes é dado como certo, mas na prática, quase nunca é assim.
E por consequência faz com que as “equipes naveguem em um mar de ambiguidade e abstração” (Udemy).
Desde 2020, a alta demanda por habilidades de comunicação mostra que as equipes estão aprendendo a ser melhores ouvintes e a abrir espaço para um debate saudável e diverso.
E ainda que os canais de comunicação sejam muitos, e em diversas plataformas simultâneas, esse excesso de abertura de canais não garante um trabalho em time coordenado, um envolvimento legítimo, ou a compreensão adequada do que se comunica.
Como tornar as equipes mais colaborativas?
Voluntariado como parte da solução do desafio de comunicação:
Permita e estimule que o projeto de voluntariado seja ativo.
Um projeto de voluntariado ativo vai fazer as pessoas da sua empresa se falarem e se unirem por propósitos em comum. Vai criar outras conexões, muitas delas emocionais e vinculativas, e ao fim de uma experiência social, todos estarão mais aptos e à vontade para um trabalho interno de equipe.
Além disso, reconhecer na sua empresa uma instituição que preocupa e se ocupa com o bem-estar coletivo faz gerar mais identificação e orgulho.
Ninguém quer vender o seu tempo e sua energia para um ambiente de trabalho predador de suas forças.
A troca de tempo por trabalho, hoje em dia é motivada por propósitos, e cooperar apenas por obrigação é chato demais. Nãoo motiva ninguém.
Agora, colaborar em um ambiente em que minha voz é ativa, como no caso em uma ação em grupo de voluntariado, em que estamos juntos trazendo alguma solução para o mundo: ah… “disso sim eu quero participar”!.
Atenção: o ponto é que, para que o voluntariado aconteça, você vai precisar também de uma excelente comunicação, mas nesse caso há uma oportunidade: o aprendizado proveniente do exercício de uma comunicação engajadora,pode ser estendido para toda a comunicação interna posterior.
Engajou para o voluntariado? Engaja para qualquer missão.
3. Perder o medo de errar: o que as experiências atuais apontam como novos caminhos?
Estamos todos em estado de teste e não faz mal errar. Aliás, Brené Brown vem fazendo bastante sucesso ao falar da coragem de ser vulnerável.
Por isso, há um desafio e um convite para que os colaboradores e os seus líderes compartilhem lições aprendidas de suas experiências de erro e fracasso..
Aliás, os sinais dados pela liderança são os mecanismos mais poderosos e impactantes para disseminar uma cultura de aprendizagem.
“- se o líder aprende eu também aprendo.”
Por isso, uma cultura de aprendizagem pressupõe que não sabemos tudo mesmo, que estamos em processo de aprimoramento, e que os erros são oportunidades valiosas de aprender a agir nos cenários incertos que adentramos.
Afinal, em meio a tanta mudança, eu, você, nós: vamos errar.
O problema não é errar, mas demonizar e censurar o erro.
“Você institucionaliza o demônio do erro quando não sabe fazer uma avaliação correta de desempenho.”
Incentive os líderes a serem vulneráveis e a admitir seus erros também. Há muita sabedoria a ser adquirida com esses momentos.
Nesse desafio de lidar com aquilo que não controlamos, e com os nossos deslizes, inclua o processo de aprendizado no desenvolvimento de carreira e nas conversas sobre desempenho.
“compartilhe observações sobre os talentos dos funcionários, treine-os para pensar em suas experiências e conecte-os com oportunidades de experimentar coisas novas e aprender mais nas áreas onde precisam crescer” (Udemy).
Ou seja, não apenas naturalize o erro e o utilize no processo de desenvolvimento, como também desafie ao experimento de estar fora da zona de conforto, e isso quer dizer: proponha que mais erros sejam cometidos, e ajustes, e testes, aprendizados e muito desenvolvimento:)
Além disso, também é saudável que se faça “autópsias”, avaliações e retrospectivas dos projetos:
“a conclusão bem-sucedida de um projeto é um motivo para comemorar. É também uma oportunidade para refletir e construir uma cultura de feedback saudável.
Uma boa “autópsia” dá uma olhada honesta no trabalho concluído e pergunta: “Como podemos fazer melhor da próxima vez?”” (Udemy).
Voluntariado como parte da solução desse desafio de aprender com os erros:
No seu desenvolvimento o voluntariado é por essência uma experiência fora da caixa, uma saída da zona de conforto para cenários incertos, onde é possível treinar a resiliência e o “fazer” em cenários adversos.
No voluntariado é possível exercitar uma competência para oratória, quando se está inseguro para a mesma dentro da empresa.
Também é possível desenvolver competência inter-relacional com pessoas de culturas e procedências extremamente diferentes dos colaboradores: conduzir diálogos, saber ouvir, aprender com a fala do outro, exercitar a empatia … são exemplos de exercícios de envergadura comportamental, ética e existencial que o voluntariado possibilita.
Mas qui também atenção: Não se trata, definitivamente, de não levar a sério o que se faz no campo voluntário, mas de se permitir sair um pouco da caixa e perfeccionismo que muitas vezes está formato(a) na rotina profissional.
O voluntariado num campo social vai lidar necessariamente com adversidades. Sejam os desafios da sua própria ação, ou das adversidades que irá observar no cenário social em que atua.
E não para por aí
Existem outras competências e desafios a serem cruzadas com o voluntariado.
Investir em Voluntariado Corporativo é uma forma natural de descobrir habilidades dos colaboradores e identificar novos líderes. De pensar desafios e soluções, além de desenvolver suas competências, substituindo treinamentos entediantes por vivências ricas e cheias de significado.
Mais competências podem desenvolvidas através do voluntariado:
- Empatia
- Trabalho em equipe
- Curiosidade e facilidade de aprendizagem
- Resolução de problemas
- Persuasão
- Autoconfiança e automotivação
- Liderança
- Engajamento
- Proatividade
- Criatividade, inovação
- Autodesenvolvimento
- Capacidade de lidar bem com os momentos ruins
- Senso de organização
- Inteligência emocional
- Capacidade de analisar situações
- Coragem e assertividade
Retirei esses tópicos dessa listinha aqui, mas no nosso blog, temos algumas matérias que desenvolvem o assunto dos ganhos de competências de uma forma mais completa.
- Voluntariado e RH: saiba mapear competências e utilizá-las no seu programa.
- Como medir o desenvolvimento de competências em um Programa de Voluntariado.
- Como o voluntariado ajuda a desenvolver competências profissionais.
- Kit gratuito com infográfico e eBook
Enquanto gestor de voluntariado, não deixe de fazer essas relações.
Perceba os desafios que sua empresa e os seus times vivem, e apresente um plano de soluções com um efeito colateral maravilhoso de solidariedade e transformações sociais!!!