André: “- Estou reformando a minha casa, vou precisar comprar um martelo, pincéis de parede e uma furadeira.”
Maria: “- Mas André, você precisa mesmo comprar tudo isso? Você só vai usar uma vez…”
Foi justamente a partir deste raciocínio da Maria que surgiu o consumo colaborativo. 🙂
O consumo colaborativo é uma nova prática de mercado que permite acesso a bens e serviços sem que você tenha que comprar ou ser proprietário deste produto. Ou seja, é um processo de compartilhamento, empréstimo, aluguel ou troca. Esta forma de colaboração é uma das manifestações da Economia Solidária, sobre a qual já falamos neste outro post.
Confira abaixo um vídeo bem legal que explica o conceito de uma maneira bem simples. (Obs: O vídeo está em espanhol, mas são poucas palavras utilizadas e muito fáceis de entender. Vale a pena conferir!)
Da crise à colaboração
O conceito surgiu em meio à crise econômica de 2008/09, nos Estados Unidos, que fez com que as pessoas repensassem a sua forma de consumir. Além disso, com menos recursos financeiros no bolso e dezenas de bens ociosos em casa foi praticamente natural o rumo que as coisas tomaram: ao invés de comprar novos produtos, as pessoas começaram a procurar quem já os possuía para alugá-los, trocá-los ou emprestá-los por um período.
Outro fator que está diretamente ligado ao surgimento desse novo tipo de comércio é a preocupação com o meio ambiente, afinal já passou da hora de pensarmos em uma maneira que atenda às necessidades das pessoas sem causar tanto impacto na natureza. Por meio do consumo colaborativo é possível ter acesso a uma enorme variedade de produtos e serviços sem que haja a necessidade de aumentar a produção dos mesmos. Segundo Robin Chase, uma das maiores especialistas do mundo em shared economy, a economia compartilhada tem o poder de “criar abundância em um mundo marcado pela escassez”. Existem muitos ativos ociosos disponíveis no mercado, então é nosso papel na construção de um mundo mais sustentável fazer melhor uso deles.
Como a colaboração pode transformar o ambiente corporativo
O consumo colaborativo não traz apenas ganhos a economia, mas também ao meio ambiente e mudanças ao modo de pensar do consumidor – ou, no caso das empresas, pode trazer mudanças no modo de trabalhar dos funcionários. Veja abaixo algumas ideias para aplicar na sua companhia:
Troca-troca de livros
Sabe aquele livro que todo mundo tem parado em casa? Então, esta já pode ser uma ótima oportunidade para começar a fomentar o consumo colaborativo na sua empresa.
Coloque uma estante nos locais mais movimentados da empresa para que as pessoas possam doar e pegar livros. Caso tenha um portal de voluntariado você também pode organizar esta ação online, basta criar uma ação intitulada “Troca de livros” e estimular que os voluntários postem fotos dos livros que eles querem doar. Os interessados comentam nas fotos para pedir os livros e a troca pode ser realizada pessoalmente ou pelo malote da empresa.
Carona solidária
Você já parou para pensar que provavelmente existem dezenas de pessoas na sua empresa que percorrem praticamente o mesmo caminho para chegar ao seu local de trabalho todos os dias? Pois é, isso acontece mesmo! Estimular a carona entre os colaboradores da empresa é vantajoso para o meio ambiente (redução da poluição), para as pessoas (mais networking e menos custos) e para a empresa (maior satisfação dos colaboradores e menor gasto com estacionamento). Já falamos aqui sobre como estimular a Carona Solidária na sua empresa.
Feiras de troca
Estimule os voluntários da sua empresa a realizarem feiras de troca junto as Instituições parceiras do Programa. Nem sempre é possível realizar arrecadações de brinquedos ou roupas novas, não é mesmo? Então que tal aproveitar os recursos que a Instituição já possui para trocar por outros diferentes?
Além de ser uma atividade fora do comum ainda é uma maneira engajada e divertida de repensar a forma como consumimos, envolvendo adultos e crianças na prática desta reflexão.
Intercâmbio de talentos
Todo ser humano tem algum conhecimento para dividir com o mundo e o ambiente corporativo pode ser um ótimo lugar para você oferecer aulas de violão, aprender a usar o Photoshop ou trocar dicas de receitas. Neste post contamos o case do Grupo Enel, que estimulou nos funcionários a Troca de Talentos, e contamos como fazer em sua empresa.
Colaboração: uma nova maneira de fazer negócios
Se em um primeiro olhar você pensou que este tipo de consumo poderia prejudicar a economia, não se engane! O consumo colaborativo gera grandes oportunidades de negócios para empresas e empreendedores, como por exemplo: sites de aluguel de diferentes tipos de bens e serviços já constituem-se em oportunidades milionárias, que movimentam a economia tal como as práticas tradicionais de comércio. Conheça abaixo algumas empresas que estão apostando nisso:
Rent for All
A empresa Rent For All foi criada com o objetivo de alugar e unir clientes e fornecedores de todos os segmentos do mercado de locação. No site é possível alugar móveis, equipamentos eletrônicos, veículos, materiais esportivos, roupas, instrumentos musicais, entre muitos outros itens.
Airbnb
O Airbnb é um site de aluguéis de temporada, casas, apartamentos e quartos individuais para aluguel. De apartamentos e quartos, a casas na árvore e barcos: é possível hospedar-se em lugares incríveis e únicos em 190 países.
Tem Açúcar
Já a plataforma Tem Açúcar busca reativar práticas comuns de tempos atrás, como pedir ao vizinho aquela xícara de açúcar que faltou para o bolo. A ideia é simples: após cadastro no site, informando nome e endereço, a página coloca pessoas próximas em contato. Em seguida, o usuário pode oferecer ou pedir algo a quem está próximo. Pode ser uma furadeira para montar uma estante, um martelo para pregar o quadro ou mesmo uma singela xícara de sal. As condições do empréstimo são negociadas caso a caso e, após a transação, as pessoas dão notas entre si.
Waze
Outra plataforma muito conhecida nas grandes cidades é o Waze, que tem como base a ajuda mútua, ou seja, o aplicativo permite que pessoas com informações sobre o trânsito ajudem outras, reportando acidentes, radares, etc.
Portais corporativos de mobilização social
Portais Corporativos também podem ser plataformas de colaboração em rede, afinal muitas trocas e doações são realizadas através deles.
Esse hábito vai pegar no Brasil?
Uma pesquisa realizada pelo instituto Market Analysis com mais de 900 brasileiros adultos identificou que o conceito não é novidade para 20% dos consumidores brasileiros, proporção que dobra entre as pessoas no topo da pirâmide socioeconômica e de alta escolaridade (42% na classe A).
Do total de familiarizados com o conceito, mais de um terço (36%) praticaram alguma forma de consumo colaborativo nos últimos 12 meses, o que totaliza uma incidência de 7% entre a população geral.
A troca ou venda de produtos usados é a prática mais comum (73%), seguida de longe pelo aluguel ou empréstimo de bens (15%), aluguel de carro ou carona (13%), contratação coletiva de serviços (12%) e engajamento em hospedagem solidária ou paga (8%).
O consumo colaborativo não traz apenas ganhos a economia, mas também ao meio ambiente e mudanças ao modo de pensar do consumidor. O grande aprendizado para as empresas deve ser a adaptação a esta nova demanda, afinal, é hora de inovar e conquistar novos terrenos!