Por meio de uma convocação da International Association for Volunteer Effort (IAVE), em 1990 foi aprovada a Declaração Universal do Voluntariado.
Um documento, inspirado na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e na Convenção dos Direitos da Criança, de 1989, que define critérios para a atuação voluntária.
Será que o seu programa de voluntariado corporativo está alinhado a ela?
Em setembro de 2022 a Declaração Universal do Voluntariado fez os seus 32 anos. Portanto é uma adulta que transpira maturidade, e ainda muita vitalidade.
E é com essa maturidade e energia, que se espera que os programas de voluntariado corporativo estejam operando.
É o caso da sua empresa?
Se não for, não tem problema. Declarações como essas são bússolas quase atemporais, e sempre permitirão que a qualquer momento você reoriente o seu projeto e retome o caminho do desenvolvimento.
Veja mais este post especial para a semana do Dia Internacional do Voluntariado!
O Norte será o bem comum
Os voluntários que reunidos pela International Association for Volunteer Effort (IAVE) no Congresso Mundial em Paris de 1990, declararam a fé na ação voluntária como uma força criadora e mediadora para:
- “Respeitar a dignidade de toda a pessoa, reconhecer a sua capacidade de exercer os seus direitos de cidadão e ser agente do seu próprio desenvolvimento”;
- “Contribuir para a resolução dos problemas sociais e do ambiente”;
- “A construção de uma sociedade mais humana e mais justa, favorecendo igualmente uma cooperação mundial”.
Esses termos que descrevem o poder do voluntariado, possibilitam que os promotores de programas questionem o quanto os seus projetos estão nos trilhos, e se podem ter desviado por condições adversas.
Cheque se está no caminho certo
Para checar esta situação, algumas perguntas potentes podem ser feitas em relação à orientação estratégica do voluntariado. Tais como:
- O programa de voluntariado está possibilitando que os beneficiários sejam agentes do seu próprio desenvolvimento, pautados por uma perspectiva emancipatória?
- Será que o programa promove a atuação dos seus voluntários como sendo uma oportunidade de exercício da cidadania, mais do que apenas atos de bondade desinteressada?
- As ações que se propõe, estão focadas na resolução de problemas reais da sociedade e do meio ambiente, tendo os beneficiários no centro da ação, mais do que os interesses corporativos?
- O programa de voluntariado está atuando, de fato, na redução de assimetrias sociais por meio de parcerias e gerando um cenário de cooperação e impacto?
Questionamentos como esses são funcionais para momentos de planejamento estratégico e de avaliação, e a maioria das empresas vive isso agora: no quarto trimestre do ano.
Logo, é o tempo certo para um olhar crítico sobre os esforços e investimentos empreendidos, tendo as diretrizes da Declaração Universal do Voluntariado como bússola.
Dito isso, o que poderá ser feito pela sua empresa?
Em termos de gestão, você pode:
- Realizar uma avaliação anual de resultados e de impacto;
- Rever criticamente os indicadores que têm monitorado;
- Rever os objetivos do programa consoante os resultados alcançados, e perceber se as ações desenvolvidas foram ao encontro das aspirações iniciais do projeto;
- Realizar conversas junto com os públicos interessados para implementar soluções mais ancoradas nas necessidades atuais dos parceiros;
- Reapresentar o programa internamente, com o objetivo de repactuar as entregas para a empresa e comunidade, agora municiadas do alinhamento à Declaração Universal do Voluntariado.
O que caracteriza o seu voluntariado?
A Declaração Universal do Voluntariado propõe que o voluntariado tenha as características abaixo:
- “É uma decisão voluntária, apoiada em motivações e opções pessoais;
- É uma forma de participação ativa do cidadão na vida das comunidades;
- Contribui para a melhoria da qualidade de vida, realização pessoal e uma maior solidariedade;
- Traduz-se, regra geral, numa ação ou num movimento organizado, no âmbito de uma associação;
- Contribui para dar resposta aos principais desafios da sociedade, com vista a um mundo mais justo e mais pacífico;
- Contribui para um desenvolvimento econômico e social mais equilibrado, para a criação de empregos e novas profissões”.
Portanto, essa conceituação também permite uma ampla avaliação da sua proposta de valor por meio de outras perguntas críticas. Veja abaixo algumas delas.
Voltando-se para os seus voluntários, a sua empresa:
- Percebe quais são as motivações dos atuantes, e o que desmotiva aqueles que não participam?
- Tem o programa alinhado à realidade das equipes internas, e garante que compreendam a relevância da responsabilidade social corporativa?
- Propõe uma participação ativa de continuidade, além do pontual (anual ou semestral)?
- Investe em planejamento, grupos de trabalho, boa governança e monitoramento do projeto?
- Alinha as ações aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), vinculando-as aos compromissos mais urgentes – global e localmente?
Mais uma vez, os questionamentos podem romper com um modelo de atuação que não tem tido o sucesso, ou fortalecer e endossar aqueles que tem obtido êxito, trazendo maior clareza dos seus porquês.
E o que pode ser feito em relação a atuação dos voluntários?
De maneira mais específica, focando neste público, a sua empresa pode:
- Realizar uma pesquisa interna, quantitativa e qualitativa, para atualizar ou conhecer as reais motivações e condições dos colaboradores voluntários.
- Promover formações de gestores, comitês e voluntários, para instrumentalizar os envolvidos para os momentos de planejamento, ação, monitoramento e avaliação.
- Criar, de maneira participativa, uma política de voluntariado com base nos princípios da Declaração Universal do Voluntariado, que ajude a nortear e qualificar as ações propostas.
- Alinhar as ações de voluntariado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) de maneira concreta, sempre lembrando: ODSs não pode ser apenas hashtags# coloridas!!
- Propor ações de continuidade que permitam um relacionamento efetivo entre voluntários e comunidades. E para isso, o voluntariado de competências é uma excelente solução.
- Criar uma campanha de comunicação consistente, que sensibilize toda a empresa e os parceiros para a importância da atuação empresarial na área da responsabilidade social e sustentabilidade. Reforçando também a sua estratégia ESG.
Atuar por meio de parcerias
“Assim convidam os Estados, as Instituições Internacionais, as empresas e os meios de comunicação social a unirem-se a eles, como parceiros, para construir um ambiente internacional favorável à promoção e apoio de um voluntariado eficaz, acessível a todos, símbolo de solidariedade entre os homens e as Nações” (Declaração Universal do Voluntariado).
Por fim, e não menos importante, a declaração faz lembrar que a sua empresa não precisa fazer tudo sozinha, pelo contrário, é altamente incentivado que se busque parcerias no contexto local para a ativação de uma rede sustentável de ação.
É por meio das parcerias, que mais agentes são empoderados e envolvidos, e é quando a causa cresce e ganha forças, fazendo com que o programa de voluntariado transborde as fronteiras da empresa e alcance o seu interesse público.
Quando isso acontece, é que o programa corporativo deixa de ser um “estranho na comunidade”, e se torna um agente parte e relevante para o desenvolvimento socioambiental do território em que atua.