Colegas que trabalham com a gestão de programas de voluntariado corporativo trazem, com frequência, o quão relevante seria desenvolver projetos voltados aos jovens aprendizes dentro das suas empresas.
De fato, é uma proposta de ação cheia de impactos positivos, e este post descreve alguns deles e mais algumas estratégias de ação.
Como estão os nossos jovens aprendizes?
“Segundo a Agência Brasil, apesar de o número de contratos de jovens aprendizes entre 2016 e 2019 terem saltado de 368.818 para 481.284, representavam menos de 8% do total de jovens da faixa etária entre 14 e 24 anos ocupados no mundo do trabalho em 2019” (Mudes.org).
No quesito empregabilidade, os jovens, principalmente aqueles que vivem em contextos de vulnerabilidade, sentem-se sozinhos, sem opção, impotentes ou perdidos em relação ao seu início de vida profissional.
No entanto, o aprendizado profissional pode começar desde cedo no Brasil, orientado pela Lei 10.097/2000 que afirma que empresas de médio e grande porte devem contratar jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes – desde que amparados pela empresa e por instituições formadoras, como o ESPRO.
Dentre os apoios oferecidos por entidades como essas, está o desenvolvimento de competências socioemocionais e de habilidades para o mundo do trabalho. Assim, os jovens uma vez cumprindo o seu aprendizado dentro das empresas, podem ter mais chances de conseguirem trabalho.
“observou-se que entre os jovens da faixa etária de 14 a 17 anos, 39,2 % estavam desocupados, ou seja, sem trabalho ou estudo. Desta forma, pode-se afirmar que dentre esses jovens, 60,8% tinham algum tipo de ocupação. Segundo estes dados, entre o percentual de ocupação (60,8%), 83,6% trabalhavam na informalidade, ou seja, isso significa que 50,83% do total de jovens de 14 a 17 anos estão na informalidade. Conclui-se então que 9,97% de jovens desta faixa etária eram aprendizes”. (Mudes.org).
São comuns os casos de jovens que dentro de empresas começaram como jovens aprendizes, passaram a estagiários e logo foram contratados, e um caminho assim pode garantir uma carreira consistente, pois apesar das pesquisas mostrarem que 70% dos recém-formados conseguem emprego um ano após se graduarem, infelizmente outros dados mostram que apenas 14,8% deles conseguem vagas em sua área de formação.
Benefícios de um programa de voluntariado com jovens aprendizes
Um programa de voluntariado voltado para os jovens já em processo de aprendizagem na sua empresa, ou extensivo a aqueles matriculados em instituições formadoras, traz benefícios como:
1. Contribuição direta para os ODS 4 – Educação de Qualidade e ODS 8 – Trabalho descente e crescimento econômico.
“Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” é a descrição do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 4. Em sinergia com o mesmo, os benefícios para a educação por meio de um programa de voluntariado voltado para jovens aprendizes, estará mais bem relacionado à meta 4.3 do ODS 4:
– Meta 4.3
· Nações Unidas: Até 2030, assegurar a igualdade de acesso para todos os homens e mulheres à educação técnica, profissional e superior de qualidade, a preços acessíveis, incluindo universidade.
· Brasil: Até 2030, assegurar a equidade (gênero, raça, renda, território e outros) de acesso e permanência à educação profissional e à educação superior de qualidade, de forma gratuita ou a preços acessíveis.
· Indicadores: 4.3.1 – Taxa de participação de jovens e adultos na educação formal e não formal, nos últimos 12 meses, por sexo
Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo, e o trabalho decente para todos é a meta do Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 8.
E, no caso do trabalho junto aos jovens aprendizes, dentro do ODS 8 o programa contribuirá mais especificamente para as seguintes metas:
– Meta 8.3
· Nações Unidas: Promover políticas orientadas para o desenvolvimento que apoiem as atividades produtivas, geração de emprego decente, empreendedorismo, criatividade e inovação, e incentivar a formalização e o crescimento das micro, pequenas e médias empresas, inclusive por meio do acesso a serviços financeiros.
· Brasil: Promover o desenvolvimento com a geração de trabalho digno; a formalização; o crescimento das micro, pequenas e médias empresas; o empreendedorismo e a inovação.
· Indicadores: 8.3.1 – Proporção de trabalhadores ocupados em atividades não agrícolas informais, por sexo.
– Meta 8.5
· Nações Unidas: Até 2030, alcançar o emprego pleno e produtivo e trabalho decente todas as mulheres e homens, inclusive para os jovens e as pessoas com deficiência, e remuneração igual para trabalho de igual valor.
· Brasil: Até 2030, reduzir em 40% a taxa de desemprego e outras formas de subutilização da força de trabalho, garantindo o trabalho digno, com ênfase na igualdade de remuneração para trabalho de igual valor.
· Indicadores: 8.5.1 – Salário médio por hora de empregados por sexo, por ocupação, idade e pessoas com deficiência. 8.5.2 – Taxa de desocupação, por sexo, idade e pessoas com deficiência.
– Meta 8.6
· Nações Unidas: Até 2020, reduzir substancialmente a proporção de jovens sem emprego, educação ou formação.
· Brasil: Alcançar uma redução de 3 pontos percentuais até 2020 e de 10 pontos percentuais até 2030 na proporção de jovens que não estejam ocupados, nem estudando ou em formação profissional.
· Indicadores: 8.6.1: Percentagem de jovens (15-24) que não estão na força de trabalho (ocupados e não ocupados), não são estudantes e nem estão em treinamento para o trabalho, cujo número em 2019 era de 21,3%.
Meta 8.b
· Nações Unidas: Até 2020, desenvolver e operacionalizar uma estratégia global para o emprego dos jovens e implementar o Pacto Mundial para o Emprego da Organização Internacional do Trabalho [OIT].
· Brasil: Até 2020, desenvolver e operacionalizar um plano nacional de promoção de trabalho digno para juventude, tendo como marcos referenciais: i) a Agenda Nacional de Trabalho Decente para a juventude; ii) o Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente; e iii) o Pacto Mundial para o Emprego da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
· Indicadores: 8.b.1 – Existência de uma estratégia nacional desenvolvida e operacionalizada para o emprego dos jovens, como estratégia distinta ou como parte de uma estratégia nacional para o emprego.
(Fonte: Ipea).
2. Alinhamento ao negócio
Os programas de voluntariado tem cada vez mais se alinhado aos negócios da empresa, trilhando um caminho:
– De se tornarem cada vez mais uma iniciativa estratégica e transversal;
– De se consolidarem como uma ferramenta de múltiplos benefícios alinhada a políticas e práticas de: Gestão e desenvolvimento de Pessoas; Relacionamento com a Comunidade e o meio ambiente; além de Sustentabilidade e critérios de ESG.
Fato é que:
Programas alinhados, tendem a ser mais perenes e transformadores para os públicos envolvidos, e deixam de ser apêndices ou “braços sociais” dissociados das missões e objetivos das empresas, ou apartados da sua cultura organizacional.
Ao trabalhar com jovens aprendizes, o programa irá desenvolver futuros profissionais que, se e quando contratados, já terão a formação profissional mais próxima daquilo que os recrutadores internos esperam, e já conhecem e estão integrados à cultura e jeito de ser da empresa.
Nesse sentido, o voluntariado está contribuindo para a estratégia de gestão de pessoas, e de forma inclusiva.
3. Estímulo a uma cultura e ambiente de diversidade
O aprendizado do voluntariado aliado aos jovens inseridos na empresa contribui de uma forma global para a diversidade corporativa.
No processo, ambos aprendem com as diferenças, fazendo-se mutuamente mais enriquecidos, e munidos de melhores ferramentas para o trabalho em times heterogêneos, que valorizam as diferenças como sendo uma riqueza para as equipes.
4. Exercícios de competências
Colaboradores que façam voluntariado para essa causa têm a oportunidade de colocar em prática as suas competências.
Fazem-no por meio da partilha de conhecimento em aulas, palestras, oficinas e de práticas de mentoring.
Todo esse desempenho neste contexto, possibilitará em seguida que as habilidades postas em prática tenham retorno interno (para a empresa) e para a vida pessoal dos colaboradores.
5. Ponte com os sonhos
Um voluntário, que é um profissional de sucesso, e que partilha o “caminho das pedras” com os jovens aprendizes, fornece pessoalmente a possibilidade para que os jovens consigam se projetar no futuro, imaginar uma carreira ou um negócio de forma tangível, e pensar para além da própria realidade e limitações.
“- Afinal não é impossível”.
Falar com pessoas que conseguiram chegar aonde se espera é a ponte que esses jovens precisam. Uma ponte entre a teoria a concretização.
E que tipos de atividades e contribuições os voluntários podem dar ao público de jovens aprendizes?
Dicas de ações voluntárias que podem ser realizadas com jovens aprendizes
As ações com e para os jovens podem ser de vários tipos, veja aqui alguns exemplos:
– Atendimento, aconselhamento ou acompanhamento socioemocional e psicológico.
– Atendimento fonoaudiológico e de técnicas de oratória e comunicação.
– Contação de histórias inspiradoras, como por exemplo a partilha da sua história pessoal.
– Feira ou café de profissões.
– Instrução de informática.
– Instrução de línguas estrangeiras.
– Palestras em temas diversos.
– Ações de educação financeira.
– Simulações de entrevistas de emprego.
– Oficinas de confecção de currículo.
– Instrução sobre melhores práticas de uso do LinkedIn.
– Treinamentos sobre cidadania.
– Hackathons socioambientais e gincanas.
– Ações de voluntariado com outros públicos, com a participação de jovens aprendizes como voluntários.
– Oficinas de inovação, de empreendedorismo, e outras habilidades.
Ações bem planejadas e mensuradas
O importante é que as ações saiam do papel, sejam articuladas entre a área de gestão de pessoas e o programa de voluntariado, e que os impactos sejam medidos.
Com certeza, direcionando o seu programa para esse sentido, você levará uma contribuição concreta e relevante para o momento do nosso país, nas áreas de educação e do desenvolvimento econômico.
Por fim, é importante frisar que um programa não se limite apenas aos jovens aprendizes que estão dentro da sua empresa. É super indicado que esteja aberto para todos os jovens de uma instituição de formação.
Ao final, você formará jovens mais capacitados para o mercado como um todo, seja para a sua empresa, seja para outras.